Entrevista a Filho da Mãe, Músico Português

Esta minha aventura pelo mundo da música podia ser recente se desde que me conheço como gente não vibrasse ao seu som. Felizmente, e através do blog, tenho tido a oportunidade de começar a interagir com alguns dos meus músicos preferidos e cuja minha admiração lhes pertence por completo. Já temos por aqui o Noiserv, o Hélio Morais e os Linda Martini, juntando-se agora um músico que faz parar tudo à sua volta mal coloca a sua guitarra ao colo. Claro que só podia ser o Filho da Mãe. Espero que gostem tanto de saber sobre ele como eu gostei. Aqui fica a sua entrevista e desde já o meu profundo agradecimento pela disponibilidade.

Olá Rui, fala-nos um pouco sobre ti:

Pior pergunta que me podiam fazer na escola…pior pergunta que podiam fazer numa entrevista de trabalho. Aqui vai: Toco desde pequenino mas achava que queria ser realizador de cinema. Vivi a minha vida toda virado para as humanidades mas no fundo queria era ser cientista. A arqueologia acabou por me formar enquanto pessoa e enquanto profissional. Pôs-me coisas muito boas na cabeça mas partiu-me as costas e maior parte das vezes pagava-me mal. Habituado a recibos verdes, a não ter muito dinheiro e a passar maior parte do tempo ocupado mas oficialmente desempregado…a transição para a música a tempo inteiro fez-se quase por si só. Resolvi tirar uma espécie de sabática e dedicar-me só aquilo que nunca deixei de fazer em todo o segundo livre que tinha – Tocar. Acabou por se estender muito mais no tempo do que pensei inicialmente.

Para quem ainda não te conhece, diz-nos como caracterizas este teu projecto Filho da Mãe a nível musical:

É algo que vem de longe e que só veio à tona por causa da experiência do rock e hardcore. Parece, e é, contraditório.

O estilo de música que praticas em Filho da Mãe é bastante diferente do dos projectos em que já deste/dás o teu contributo (If Lucy Fell e I Had Plans e Asneira). Que necessidade sentiste em explorar e em expressar este estilo tão… pessoal?

Não foi por causa de uma necessidade. A necessidade já existia e continuaria a existir mesmo que Filho da Mãe nunca tivesse acontecido. É a necessidade de fazer música, seja qual for o género musical que pareça fazer sentido no momento. Foi mais a oportunidade…um momento em que algumas coisas pareciam estagnar à minha volta. Comecei a remoer umas músicas ou esboços…algumas pessoas começaram a dar-me força para avançar com algo a solo e lá fui eu. Na altura estava em tour com I Had Plans…acho que foi por aí que a ideia se começou a formar nalguma coisa de concreto.

É sabido que não tens formação musical e ainda assim consegues sempre surpreender a cada espectáculo muitas vezes fazendo sentir ao ouvinte que lhes chegas ao âmago. Qual a reacção das pessoas ao ter conhecimento deste facto? (do não teres formação musical) Desvalorizam um pouco ou ainda te dão mais valor, ficam mais entusiasmadas?

Acho que no essencial, depois ou durante o concerto ninguém quer saber da formação. Há quem não acredite que não a tenha, há quem ache que me faz falta, e haverá quem ache inadmissível não a ter…maior parte das pessoas parece achar estranho eu não ter formação musical. No entanto, creio que quem tem formação consegue perceber que não a tenho logoe que me ouve tocar…para ser sincero não me interessa nada isso. Não tenho nada contra a formação, seria estúpido se tivesse, por agora parece-me bem continuar como estou, e a reacção das pessoas a esse nível será sempre legítima seja ela qual for…

Palácio foi o teu primeiro álbum e agora está mesmo a chegar aí Cabeça. Qual o balanço do resultado do primeiro álbum e o que podemos esperar deste novo?

Adorei sentir a receptividade ao Palácio…e a estranheza que lhe sentiram também…deste podes esperar algo diferente..com tempo e intenção diferentes. Tem talvez algo mais de banda sonora..surpreendeu-me também, já que não tinha nada planeado quando o fui gravar. Gostei do resultado por ser algo que não foi muito pensado (conscientemente) na altura…

Qual a maior diferença entre estar sozinho e acompanhado em palco? Enquanto Filho da Mãe, sentes falta de companhia?

Acho que me começo a habituar estar sozinho em palco por mais estranho que seja sempre. Cada vez gosto mais.

Consegues imaginar o que é que os teus fãs sentem ao ouvir-te? Já te aconteceu dizerem que a tua música os ajudou ou que os mudou de alguma maneira?

Já me disseram isso uma outra vez, mesmo com outras bandas…não creio, no entanto que tenha fãs…acho que consegui (contra o meu negativismo no início) tocar algumas a pessoas de um modo mais pessoal. É óptima essa sensação. Por mim já fico feliz quando me dizem que foi uma boa companhia no comboio.

Como é que vês o panorama da musical produzida em Portugal actualmente? Achas o público português receptivo ou preconceituoso?

Depende…odeio avaliar o público. Não o percebo a não ser quando estou no palco..acho que percebo um bocado melhor as coisas nessa situação. Penso, no entanto, que o público português está finalmente receptivo a mais coisas. Tem sede e quer beber.

Agora uma pergunta mais pessoal… Até que ponto é que a Claudia Guerreiro (Linda Martini) te inspira? (risos) Como reagem as pessoas quando sabem que os dois formam um casal?

A Cláudia é uma das razões pela qual Filho da Mãe existe…isso é um facto. Mas não por sermos um casal. Tenho algumas pessoas ao meu redor a quem dou muito valor musicalmente e sem as quais, as coisas comigo não seriam iguais. Mas não por mera orientação ou dependência, nalguns casos crescemos juntos com a música sempre presente. A Cláudia é uma dessas pessoas…se deixássemos um dia de ser um casal, Filho da Mãe continuaria a pertencer-lhe de algum modo. Quanto ao resto não sei como reagem as pessoas…

Para quando uma nova aparição do projecto Fazer para desistir?

Boa pergunta! Mantém-te com atenção que nós também vamos tentar…

Enquanto leitora não consigo desassociar a música da literatura. Quase todos os livros têm algum tipo de banda sonora e, inclusive, existem autores que só conseguem escrever a ouvir música. Que tipo de livro é que achas que a tua música poderia inspirar?

Adorava responder-te melhor a isso. Gosto de escrever. Gostava de escrever algo mais completo um dia…é uma tarefa que me intimida mas ao mesmo tempo que me entusiasma. Acho que a minha música podia perfeitamente inspirar um daqueles livros confusos…

Costumas ler ou escrever? Algum livro preferido?

Tenho alguns problemas em definir livros, guitarristas, músicos e escritores preferidos… Gosto de escrever mas já não leio tanto como lia. Comecei a ler Saramago tarde (sim é verdade) alguns autores estrangeiros e mais recentemente Valter Hugo Mãe. Lembro-me de bater com a cabeça nas paredes com Lobo Antunes…gosto que me dificultem a vida…Carl Sagan no entanto, marcou-me a adolescência..e não te consigo explicar porquê..

Tens algum sonho, algum objectivo, que ainda não tenhas concretizado, mas que anseies?

Gostava de escrever um livro um dia. Mas não creio estar preparado ou fazer puto de ideia do que é necessário para cumprir esse objectivo. Há tanta coisa que não concretizei e que não vou concretizar, que nem sei se quero saber…

Que projectos tens em mente para o futuro?

Gostava que tudo isto continuasse a ser possível. Gostava de fazer outro disco e responder-te a outra entrevista; gostava de me surpreender com uma musica que nunca me tinha passado pela cabeça; quero tocar fora de Portugal, não por ter alguma expectativa de sucesso lá fora, mas porque tocar implica ir conhecendo ambientes novos e mudar um pouco por causa disso. Tenho algumas ideias..mas há tempo para pensar bem nelas, antes de começar a falar delas…

Agora uma pequena pergunta da praxe que faço a todos os entrevistados: já conheciam o blog BranMorrighan? O que achas do espaço? Que mensagem podes deixar aos seus leitores? (no caso de nem nunca o teres visto mais escuro ou claro não existe problema nenhum, é mera curiosidade!)

Sou-te sincero. Conheci o site através desta entrevista. Felicito-te pelo trabalho de divulgação de cultura. É algo que de facto só se faz quando se gosta mesmo..doutro modo nada haveria a ganhar. Enquanto músico lucro com isso…e congratulo-me porque exista. Mas não conheço muito bem o que por aí se passa…shame on me.

Sobre o novo disco de Filho da Mãe: http://www.branmorrighan.com/2013/11/musica-novo-disco-de-filho-da-mae.html

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Patrícia Xará
Patrícia Xará
10 anos atrás

Filho da Mãe. Assisti a um concerto dele este ano e fiquei estupefacta. Adorei!
Outro guitarrista incrível é o Peixe. E adoro o álbum dele. 🙂

  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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