Nem só de escrita vivem a maioria dos autores portugueses e hoje trago-vos mais um exemplo disso. Paulo Ferreira é, para além de escritor, consultor editorial na já nossa conhecida Booktailors e achei que seria pertinente termos aqui presente alguém que simultaneamente está nos dois lados da edição. Com um romance já publicado e outro a caminho, passemos então a conhecer mais sobre Paulo Ferreira:
Fala-nos um pouco sobre ti:
Paulo Ferreira tem 33 anos. Vive em Lisboa, onde nasceu, mas cresceu no Ribatejo. Formou-se na biblioteca pública de Vila Franca de Xira. Mais tarde tirou uma licenciatura em Relações Internacionais (período da sua vida em que menos leu) e uma pós-graduação em edição de livros. Ingressou no mundo da publicidade em 2002 e gostou, mas como não queria levantar-se todos os dias para ir trabalhar, em 2006 criou o projecto Booktailors, que se dedica ao mundo do livro. Em 2011, publicou o primeiro romance e correu a sua primeira maratona (no Porto, cidade fetiche, estava um dia lindo). É gestor, agente literário, programador de eventos literários. Anda às voltas com um romance que quer publicar em 2015.
Enquanto escritor, como caracterizas o teu estilo e ritmo de escrita?
O ritmo é ao nível do que o resto da vida, e sobretudo a vidinha, nos permite. Não sou autor a tempo inteiro. Escrevo não quando tenho tempo (esse, apesar de pouco, arranja-se sempre), mas quando tenho disponibilidade. Quando se escreve apenas se escreve. E para chegar ao momento em que apenas se escreve, tem de primeiro ler-se, ver cinema, ouvir música, conversar. Respirar.
Que elementos influenciam o que escreves?
Os elementos são, parece-me, os do costume. A vida é a grande fonte de inspiração.
Tens uma obra editada cujo título é Onde a Vida se Perde. Fala-nos um pouco sobre ela e o que te inspirou para a escreveres.
Onde a vida se perde conta a história de alguém a quem é diagnosticado um cancro. Pedro tem seis meses de vida e quatro mulheres a quem nunca fechou a porta. Que decide ele fazer? Juntar à mesma mesa, num jantar, essas quatro mulheres. É esse percurso amoroso, que encerra mais de uma década, que acompanhamos, tendo o leitor lugar à mesa neste jantar. Quis escrever sobre situações limite, sobre o que mais importante fica. Sobre o que verdadeiramente valorizamos quando temos pouco tempo (quase sempre).
A tua formação na área da edição e marketing de livros contribuiu de alguma maneira para a tua veia como escritor?
Só num tópico: estou a escrever para leitores (o público-alvo, o target, em marketês). É para eles que cada palavra é escrita. Não vale a pena dizer, nem isso faria sentido, que escrevo de costas voltadas para quem quero que me leia (o maior número de pessoas possível). Quero contar histórias o melhor que conseguir, não faria sentido achar que me posso impor sem ouvir (respeitar) quem está do outro lado.
É do conhecimento geral que o Blogtailors é um blog de referência no que diz respeito à edição. Sendo tu um dinamizador deste mecanismo, que visão é que tens do mundo editorial português e da sua receptividade quanto a novos autores (portugueses, claro)?
Não é só a edição que passa tempos complicados; estamos numa fase delicada e, naturalmente, isso reflecte-se na edição. Apostar em novos autores é começar do zero, é necessário um investimento muito grande para que esses autores possam ter um espaço próprio. Por isso, diria que neste momento a tendência (e vertigem) para o risco de publicar novos autores é (compreensivelmente) menor. Mas esse espaço tem e vai existir sempre. De outra forma, só tinhamos Eça e Camilo nas estantes (o que não seria necessariamente mau, mas estaríamos todos limitados daquilo que é o nosso património imaterial).
Que evolução é que achas que o mercado literário português vai ter nos próximos tempos? Mais apostas em best-sellers? Menos apostas em autores nacionais ou, pelo contrário, um maior interesse em explorar o que é nosso?
Apostas e mercado editorial na mesma frase, no contexto em que vivemos, é uma contradição de termos. Poucos editores podem dar-se ao luxo de arriscar. Mas há excepções.
Tens algum projecto em mente para um futuro próximo?
Tenho um romance, já com título e cinquenta páginas, que gostaria de publicar em 2015.
Por fim, pergunta da praxe. Já conhecias o blog Morrighan? Tens alguma opinião formada sobre o mesmo?
Olho para o blog como uma plataforma de uma leitora que olha nos olhos os leitores. No fundo, aquilo que qualquer escritor almeja.
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Obrigada, Paulo, pela simpatia e disponibilidade.
Não devias ter entrevistas com gente deste "calibre". Este gajo é um chulo de primeira e até nas respostas se nota a condescendência…