São de Leiria, tiveram um projecto anterior chamado Kafka Dog e agora apresentam-se num estilo diferente sob o nome de First Breath After Coma. Rui, Telmo, Roberto e Pedro são os seus nomes e aceitaram dar-nos uma entrevista. Para quem acompanha o blogue de perto sabe que já ouvi e gostei imenso do álbum deles, o que me fez assistir a um showcase dos mesmos na FNAC Chiado. Tanto a opinião do álbum como do concerto estão disponíveis aqui e aqui e deixo-vos então agora com esta banda que, a meu ver, ainda mal começou a deixar a sua marca, mas que já deixa cicatrizes… das boas!
1. Porquê o nome First Breath After Coma? Alguma relação com a música dos Explosions in the Sky?
Rui – Depois de acabarmos com o projecto anterior, as nossas influências começaram a alargar-se com o post-rock. Acabámos por “tropeçar” nos Explosions in the Sky e a música First Breath After Coma saltou logo à vista. Para nós, além de uma influência musical, o nome representa um novo nascimento/começo.
2. Como é que surgiu a ideia de formarem esta banda?
Rui – A banda surgiu do projecto anterior, os elementos continuam os mesmos, mas começámos a fazer música com outro tipo de pensamento. Deixámos por completo o que tínhamos desenvolvido até então, e inspirámo-nos em novas sonoridades.
3. O post-rock em Portugal e de origem portuguesa é algo desconhecido. Porquê este tipo de música e o que é que pretendem transmitir com ela?
Rui – Em Portugal temos os The All Star Project que para nós são mestres na arte do post-rock. Nós não nos sentimos como uma banda “pura” desse género, temos várias influências e se calhar acabamos por sair um pouco fora desse universo por juntarmos os formatos canção e vozes. Como uma influência tentamos transmitir a harmonia que o post-rock cria e toda a sua envolvência.
4. Vocês são uma banda muito jovem… De que maneira é que este projecto influencia a vossa vida pessoal? Pretendem fazer carreira apenas através da música ou prosseguem com estudos diferentes em paralelo?
Roberto – Fazer carreira através da música era o que todos nós desejávamos, era sinal que fazíamos o que gostamos verdadeiramente de fazer. Mas a realidade é outra, o futuro nas artes não é, nem nunca foi, garantido em Portugal. Por isso, estamos todos na universidade, também não sendo esta sinónimo de futuro garantido, mas sempre é mais uma opção. Sendo assim, este projecto faz com que os fins-de-semana sejam passados a ensaiar e durante a semana, de vez em quando, lá temos que faltar às aulas. De resto, corre tudo normalmente.
5. Como tem sido o vosso percurso até ao lançamento do vosso primeiro álbum “The misadventures of Anthony Knivet”? De que forma é que todos os prémios que ganharam vos incentivaram a continuar e a afirmarem-se como uma grande promessa nacional?
Roberto – O nosso primeiro concerto com este projecto foi no ZUS!, onde tivemos a felicidade de sairmos vencedores. A partir daí, o interesse do pessoal da cidade em nós começou a crescer e a verdade é que foram e são o nosso apoio hoje em dia. É o caso da Omnichord Records, editora independente de Leiria que é hoje a nossa editora. Depois conseguimos lugar no Vodafone Mexefest, onde se abriram as portas para a capital e, mais tarde, fomos finalistas do festival Termómetro. Acho que foi aí a consolidação final. Acabámos por gravar o álbum, que era algo que já queríamos há muito tempo, e a reacção do público foi positiva e imediata. Já tivemos oportunidade de apresentá-lo em Espanha, no Monkey Week, e acho que conseguimos surpreender alguns espanhóis. Quanto ao rótulo de “grande promessa nacional”, nunca nos vimos dessa forma, tentamos manter os pés bem assentes na terra e continuar a trabalhar.
6. Alguma razão em especial para terem escolhido este explorador inglês como imagem do álbum?
Roberto – Sempre quisemos um álbum conceptual. Víamos a nossa música como algo ligado à submersão, uma espécie de viagem às profundezas do oceano dentro de um escafandro. Ao pesquisar um pouco sobre este objecto, encontrámos a história da primeira pessoa a utilizá-lo. De nome, Anthony Knivet, data que o fez a mando dos portugueses para procurar peças de artilharia perdidas no oceano, onde quase perdeu a vida. Com os portugueses metidos ao barulho, era certo que tínhamos que agarrar nesta história cheia de aventuras vividas na primeira pessoa.
7. Que bandas/músicos é que sentem que influenciam a vossa música? Sei que vos comparam com os próprios Explosions in the Sky e até com Muse ou Coldplay. Como é que lidam com essas comparações? Acham que dificultam a criação de uma identidade própria e independente?
Roberto – As nossas influências passam por várias bandas, cada um ouve coisas diferentes. Sigur Rós, Efterklang, Explosions In The Sky, Foals, Múm, Bon Iver… são talvez as maiores, mas temos mais. Explosions In The Sky são uma influência na construção das nossas músicas, é impossível fugir e é normal encontrá-las em qualquer banda. Mas estas comparações dependem do ouvido de quem as faz, para nós Muse e Coldplay não fazem parte da nossa colecção de cd’s lá em casa, são opiniões. Acho que em nada altera ou dificulta na construção da identidade de uma banda. Já não há nada de novo para inventar, agora é combinar o que já foi inventado. A identidade passa pela vontade de construir músicas, de pisar palcos, partilhar experiências… Se tiveres paixão a fazer estas coisas, tens identidade.
8. Por parte do público português, sentem que existe mais aceitação do que resistência à música que se faz em Portugal ou o contrário? Como tem sido no vosso caso?
Telmo – Há por cá muita gente a lutar com unhas e dentes pela música nacional, mas ainda assim é uma minoria. A maior parte das pessoas continua a ter uma admiração cega pelo que é feito lá fora e desvaloriza o que é português. E não é só na música, acontece em tantas outras áreas que é bastante irritante.
9. Sei que já tocaram em Espanha. Como foi a recepção?
Pedro – Sim, tocámos no Monkey Week, foi a nossa primeira vez fora de Portugal. E para primeira vez penso que correu bem, ouvimos bons elogios e boas críticas, conseguimos também vender uns quantos discos, o que é bastante bom. Tivemos também uma reacção de que não estávamos à espera e que nos deixou extremamente gratificados, uma senhora no final da actuação veio dizer-nos que tinha passado todo o concerto a chorar.
10. Na vossa opinião qual é a maior diferença entre o nosso mercado nacional musical e o internacional? Sentem que há mais oportunidades lá fora do que por cá?
Pedro – É certo que há mais oportunidades lá por fora, é um mercado de dimensões diferentes. Portugal, na minha opinião, é um país com artistas de elevadíssima qualidade que, se por acaso tivessem a sorte de nascer nos Estados Unidos, por exemplo, estariam neste momento na ribalta. O problema começa por vivermos num pais onde ainda existe muitas falhas e se calhar um pouco de receio a nível da aposta nacional.
11. Conseguem imaginar o que é que os vossos fãs sentem ao ouvir-vos? Já vos aconteceu dizerem que a vossa música os inspirou ou que os mudou de alguma maneira?
Telmo – Nós tentamos, da melhor forma que conseguimos, criar uma atmosfera que leve o público a alhear-se da realidade e a mergulhar em todo o ambiente da música numa espécie da viagem. Temos recebido bons sinais de que estamos a chegar lá, já várias pessoas vieram confessar-nos no fim dos concertos que se arrepiaram ou que lhes veio uma lágrima ao canto do olho. É sempre chocante para nós ouvir isto, mas sabe muito bem.
12. Em que locais gostaram mais de actuar? Há algum em específico que vos faça sentir como se estivessem a voltar a casa?
Pedro – Para nós tocar em Leiria é tocar em casa porque foi lá que tudo começou e muita gente nos apoia. Em contrapartida, são os concertos onde sentimos mais responsabilidade e aquele nervoso miudinho. Se tivéssemos de escolher um sítio em especial, seria o Beat Club (em Leiria). É um espaço pequeno, mas que tem um power de outro mundo.
13. Enquanto leitora não consigo dissociar a música da literatura. Quase todos os livros têm algum tipo de banda sonora e, inclusive, existem autores que só conseguem escrever a ouvir música. Que tipo de livro é que acham que a vossa música poderia inspirar?
Telmo – Certamente um livro bastante introspectivo e de reflexão. Podia até dar um bom livro de viagem. Até que era curioso fazer a experiência e ver no que dava.
14. E vocês, costumam ler ou escrever? Algum livro preferido que queiram mencionar e que até vos possa ter influenciado de alguma maneira?
Telmo – Não estou a par do que eles têm lido, eu ando a ler o Walden, do Thoreau, que é um livro incrível. Na verdade não sinto que tenha um impacto directo na música que faço, mas ao influenciar a minha forma de pensar acaba também por se reflectir na música, certamente.
15. Têm algum sonho, algum objectivo, que ainda não tenham concretizado, mas que anseiem?
Pedro – Sim, como é óbvio temos vários sonhos e objectivos, como vir a tocar em grandes festivais e em salas emblemáticas que sempre admirámos.
16. Que projectos têm em mente para o futuro?
Pedro – Esperamos que aconteça muita coisa boa no futuro próximo, mas prometemos para já um segundo álbum. Temos em mente algumas ideias e pretendemos começar já a trabalhar nele.
17. Agora uma pequena pergunta da praxe que faço a todos os entrevistados: já conheciam o blog BranMorrighan? O que acham do espaço? Que mensagem podem deixar aos seus leitores?
Telmo – Na verdade ainda não conhecíamos. Mas sem dúvida que este tipo de blogues direccionados para a cultura são extremamente importantes para mexer com as pessoas e suscitar mais interesse para boa música, literatura, cinema… Haja alguém que abane a malta e os desperte para o que de bom se faz neste pequeno grande país.
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Da minha parte, um muito obrigada, mais uma vez, pela simpatia e disponibilidade.