Entrevista ao Pedro Augusto (Projecto Yesterday), Músico Português

The Waiting, o sexto álbum a solo de Pedro Augusto teve hoje o seu lançamento online oficial. O projecto chama-se Yesterday e conta com mais de dez anos de existência. Aqui há uns dias, sentei-me com o Pedro para conversarmos um pouco sobre o seu percurso, da sua postura enquanto músico e também deste seu novo trabalho que, com toda a certeza, vale a pena ouvir. O meu muito obrigada ao Pedro Augusto pelo tempo dispensado e pela enorme simpatia e carinho. Sem dúvida uma pessoa muito genuína que foi muito bom conhecer.

Foto Inês Martins Almeida

Uma das grandes curiosidades da maioria do público é saber como é que os projectos começam e foi por aí mesmo que comecei, por questionar o Pedro sobre a origem da sua paixão pela música e como é que foi o seu percurso até ter o projecto Yesterday. O músico conta-nos que nasceu numa aldeia e que a música esteve sempre à sua volta “Eu tinha daquelas aulas em que o vizinho vai ensinar um instrumento qualquer, no meu caso órgão e piano, mas nunca levei muito a sério, era um bocado preguiçoso (risos). O meu percurso até hoje passou por ir acumulando instrumentos, dando uns toques aqui e ali, sem me especializar em nenhum deles. Antes de 2001 só produzia sons estruturados, mas por aquela altura apercebi-me que podia ligar um microfone ao computador e gravar (risos), e a partir daí consegui produzir todos os sons que me surgiam na cabeça. No início foi com uma amiga minha que tinha uma voz muito parecida com a vocalista dos The Cranberries, da qual (voz) eu gostava muito, e eu fazia-a cantar tal e qual (risos). Depois dessa colaboração terminar, passei eu a gravar a voz. Não acho que tenha uma grande voz, mas é como com os instrumentos, não sou muito bom em nenhum deles, mas servem para produzir aquilo que tenho na cabeça.

Todos os álbuns do Pedro têm nomes muito característicos. Querendo saber mais pormenores, questionei-o sobre a origem da inspiração para cada álbum, de onde vêm os seus nomes e se existe algum conceito específico por trás de cada um. O Pedro conta-nos que ao início não sabe bem o que vai sair dali “começam a surgir palavras, sons, ritmos, tudo misturado“, que só no final, quando chega ao fim desse período é que decide chamar álbum “é como se fosse um período da minha vida que está ali marcado, naquele conjunto de músicas.” Os nomes dos álbuns têm origem numa palavra ou algo que se destaque enquanto grava.

Foto Inês Martins Almeida

Parte do material discográfico está disponível online, mas não todo. Principalmente no site do projecto Yesterday, na parte da discografia, temos acesso a títulos de músicas, mas sem ligação para as podermos ouvir. Pedro justifica: “Até este álbum eu tinha um bocado aquela percepção que uma banda a seguir a gravar um álbum vai procurar editoras, tem de ter um contrato, etc. Vivi um bocado nessa ingenuidade e todos os álbum anteriores a este sofreram do mesmo processo – gravava, dava um nome e distribuía. Nunca tive nenhuma resposta. No álbum lançado em 2011 disse para mim que já chegava, e que iria fazer uma espécie de lançamento online por uma netlabel. The Waiting é o primeiro álbum em que eu não quero saber desses conceitos todos, dessas expectativas todas. Nesse sentido, estes últimos dois álbuns estão disponibilizados completamente e já não faz sentido voltar aos anteriores.” 

No texto de divulgação deste último álbum, Pedro diz que é mais um músico de estúdio do que de concertos ao vivo. A razão está apenas e só relacionada com o facto de tocar ao vivo não ter o mesmo impacto do que quando está a gravar “quando estou a gravar, são sons que estão na minha cabeça e que tenho, inclusive, de procurar como conseguir gravá-los, onde tocar, que instrumento ir buscar. Todo esse sentimento de descoberta perde-se nas actuações ao vivo. Eu sei que é nas actuações ao vivo que se criam as ligações com o público, a simpatia e a atmosfera, mas eu não entendo a música como um meio para chegar aos outros. Se eles sentem isso, muito bem, mas eu não estou dependente disso. E penso que essa ligação também pode acontecer através das músicas do disco que é o trabalho mais honesto que já fiz até hoje.” 

Curiosa sobre este desinteresse nas actuações ao vivo, puxei um bocado mais pelo músico para tentar perceber melhor este seu ponto de vista, ou seja, se ao partilhar e divulgar a sua música tem algum tipo de objectivo a nível de feedback/retorno ou se é apenas para ter o seu trabalho cá fora. Em resposta, Pedro conta-nos que “acaba por ser mais uma resposta às expectativas de familiares e amigos, do que minhas. Já fiz actuações ao vivo no passado, mas é um esforço da minha parte, de passar aquele sentimento. Mesmo em termos de colaborações com outros músicos, que já me passou pela cabeça, há sempre muitas burocracias que tiram o prazer da música. Sou muito mais fã do conceito de concertos em streaming, em que em datas anunciadas faço um showcase num sítio à minha escolha e quem quiser assiste.

Foto Inês Martins Almeida

Em relação às actuações ao vivo, Pedro confessa que há locais onde não vai tocar porque simplesmente as pessoas não estão ali para ouvi-lo, como é o caso dos bares. “As pessoas estão sentadas, com o barulho dos copos e das conversas, e enquanto pessoa em cima do palco acho que o trabalho está a ser completamente ignorado. Para mim não funciona.

Sobre ganhar dinheiro com a música “ninguém ganha dinheiro a fazer cds, é mais a fazer concertos. Ainda assim, quando os grupos têm vários elementos o dinheiro fica distribuído e nem sempre calha muito a cada um. Tenho plena noção de que na minha situação isso nem sequer pode ser um objectivo.

Voltando ao trabalho discográfico do projecto Yesterday, falando um pouco sobre os últimos anos, Pedro conta-nos que o processo criativo vem de fases da sua vida que de alguma maneira martelam na sua cabeça e que têm de gerar alguma coisa. No álbum anterior, “You are the harvest“, “andava a ouvir muito PJ Harvey e a palavra Harvey não me saía da cabeça. Daí veio a palavras Harvest que serviu para isso mesmo, para servir como corte com os trabalhos passados.” Já o último álbum reflecte um pouco a espera depois desse corte. The Waiting acaba por ser o resultado de músicas novas que surgiram, mas também de outras antigas que não tinham feito sentido até ali e que agora faziam. “Foi um processo algo esquizofrénico, em que tudo parece ser um espectáculo, mas que estás a dançar no meio de ruínas. Tens esses lados opostos que se confrontam.” Pedro confessa-nos que quando cada álbum termina, aquele período da sua vida também termina e culmina “na melhor configuração daquele período de tempo.

Apesar de ser o seu trabalho mais recente, Once Upon a Forest é o álbum eleito como o mais completo “foi um álbum em que  andei a experimentar tudo. Foram anos e anos de produção. Eu ia todos os fins-de-semana a casa, fechava-me no sótão e eram feriados, férias, meses inteiros a gravar. Era o que me dava prazer e com isso estava ainda mais intrincado no álbum. Foi um processo mais obscuro, não sei (risos)“.

Relacionando a sua música com a literatura, a resposta não foi fácil quando confrontado sobre que tipo de obra literária poderia surgir se os seus discos tomassem a forma de uma história. “Penso que talvez um diário, muito solto, muito fragmentado. Não ter um elo explícito entre as coisas, estando na mesma lá.” Já no processo oposto, Proust é o seu autor preferido e também houve um livro que contribuiu para um dos seus álbuns “Em Busca do Tempo Perdido deu mesmo muitas músicas.”

Para terminar a entrevista, veio a pergunta clássica sobre expectativas ou ambições para o futuro: “Já tenho um novo álbum na minha cabeça, já tem nome, já tem tudo (risos). Mesmo que não vá para lado nenhum, sei que vai existir. Em relação a ambição, é mais um desejo, gostava muito de fazer uma banda sonora. Associo muito a minha música ao que me rodeia, às paisagens à volta. Penso que seria muito giro.

Sitehttp://projectyesterday.wordpress.com/

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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