Tigana – A Voz da Vingança
Guy Gavriel Kay
Editora: Saída de Emergência
Sinopse: O príncipe Alessan e os seus companheiros puseram em marcha um plano perigoso para unir a Península de Palma contra os reis despóticos Brandin de Ygrath e Alberico de Barbadior, numa tentativa de recuperar Tigana, a sua terra natal amaldiçoada.
Brandin é um rei maquiavélico e arrogante, mas encontrou em Dianora alguém à sua altura e está cativo da sua beleza e charme. Alberico está cada vez mais consumido pela ambição, cego a todas as ciladas em seu redor.
Entretanto, o nosso grupo de heróis viaja pela Península, em busca de alianças e trunfos decisivos que podem mudar a maré da batalha a seu favor. Alessan está mais moralmente dividido que nunca, Devin já não é o rapaz ingénuo que era, Catriana apenas deseja redenção e Baerd descobre uma nova magia na Península. Conseguirá Tigana vingar a memória dos seus mortos? Ninguém consegue prever o fim nem as perdas que irão sofrer. Sacrifícios serão feitos, segredos antigos serão revelados e, para uns vencerem, outros terão forçosamente de tombar.
Opinião: Cada vez que, de hoje em diante, ouvir ou ler o nome Tigana, haverá sempre uma parte de mim que se apertará com nostalgia e saudades. Depois de um primeiro volume, Tigana – A Lâmina da Alma, em que fiquei completamente rendida à narrativa de Guy Gavriel Kay, este segundo veio arrebatar e rematar um enredo único, com personagens memoráveis e uma linha de acção que nos deixa de coração nas mãos a mais vezes do que esperávamos.
Tigana – A Voz da Vingança, retoma a história exactamente no ponto onde ela ficou no primeiro volume. No entanto, logo nos primeiros capítulos damos conta da transformação do ambiente, da transição entre a descoberta do mistério e dos planos da revolta e o início da marcha em direcção a um destino há muito esperado, mas não certo. Alessan e Baerd são as forças motrizes da vingança que querem alcançar, mas vêem-se obrigados a tomar caminhos diferentes, temporariamente, em que cada um, à sua maneira, teça a teia necessária para verem realizado o seu sonho em comum.
São várias as personagens que nos tocam, marcam e inspiram. Catriana, Dianora, o próprio Devin com a sua inocência sempre alerta, são aqueles que já me eram queridos e que estava ansiosa por acompanhar, mas foi Ygrath quem acabou por me surpreender e fascinar de uma maneira um tanto obscura. Admiro imenso a forma como Guy Graviel Kay explora a natureza humana e reforço que, apesar de esta obra – Tigana – estar inserida num universo fantástico, a essência é fácil de paralelizar com a vida real. Os amores, os ódios, as transformações e motivações, profundas e camufladas, que muitas vezes se dão sem darmos conta.
Toda a epopeia para a libertação de Tigana parece cobrar um preço, tanto aos personagens que a protagonizam como ao leitor que a devora página após página. Existe uma dualidade de sentimentos intensa, em que a perda e a conquista tentam arranjar um equilíbrio no nosso espírito. A leitura é viciante e inquietante. O escritor foi mestre no compassar da história e a empatia criada entre o leitor e a causa, mas ao mesmo tempo com um dos vilões, fomenta a que a cada instante imaginemos uma série de alternativas diferentes às consequências de cada acção.
Tigana é, sem dúvida, das melhores obras que já li dentro do género. Uma escrita sóbria, uma ansiedade febril e crescente, uns protagonistas espectaculares. Ingredientes que gostava de ver mais vezes, não só na literatura fantástica, como na literatura portuguesa.