Cada entrevista acaba por ter uma história e esta não é excepção. Apesar de andar ao tempo para entrevistar a banda Paus, foi finalmente no contexto do Festival Fusing 2014 que a oportunidade se tornou mandatória. São uma banda que sigo há anos, cujos discos tenho todos em casa em formato físico (sim, porque o que é bom e nacional faço questão de comprar), e à qual agradeço o tempo dispendido (entre as dezenas de concertos que têm na sua agenda) para responderem a estas questões.
A banda de Joaquim Albergaria, Hélio Morais, Fábio Jevelim e Makoto Yagyu deu logo nas vistas com o EP É uma água, lançado em 2010, ano em que começaram a tocar por todo o país, apostando em trazer vários instrumentistas convidados para os concertos, num ciclo a que chamaram Só Desta Vez. Em 2011 lançaram o álbum PAUS, pretexto para continuarem a crescer e, como nos contam, a apostar cada vez mais na internacionalização. Já em 2014, em Março, foi lançado Clarão, que, para quem pudesse duvidar, veio comprovar e atestar o sucesso crescente que tem sido esta jovem banda portuguesa.
Fotografia Pedro Cláudio |
Viva! Paus é o resultado de quatro músicos que já tocavam em projectos diferentes, por isso o que vos fez juntar?
A amizade e vontade de tocar juntos.
Já tinham uma ideia do tipo de som que queriam, ou descobriram depois de se juntarem?
Não tínhamos qualquer ideia. A única premissa era fazermos qualquer coisa juntos. Sem querer, acabámos por conseguir criar uma forma muito própria de fazer música.
O Fábio Jevelim é o mais recente membro da banda, em que é que o novo disco, Clarão, difere do anterior graças à sua entrada na banda?
O Fábio é um músico diferente do João. O João tocava teclados, o Fábio adiciona a guitarra aos teclados. Acabou por abrir um pouco mais o espectro do que podíamos explorar, instrumentalmente.
Que balanço é que fazem da recepção a Clarão?
Bom. O disco entrou para o top 4 em Portugal e os concertos não param de cair, no resto do Mundo. Este ano, já fomos, e ainda vamos, várias vezes a Espanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, França, Inglaterra, EUA e México.
O vosso percurso, enquanto banda portuguesa a cantar em português, tem sido único e completamente notável. Depois de Espanha, no ano passado, e de este ano terem tocado no South by Southwest, este Verão vão continuar a dar concertos lá fora, no Reino Unido, Holanda e Bélgica, por exemplo. Estão satisfeitos com a forma como está a correr a vossa internacionalização?
Muito. É o ano zero e, por isso mesmo, é o que implica um maior esforço, quer fisicamente, quer monetariamente, quer a nível familiar. Mas é assim mesmo que as coisas se processam. Esta coisa das bandas acharem que já nascem grandes é uma utopia. Há um caminho longo a percorrer, tal como nos aconteceu em Portugal. Começámos em clubes pequenos e fomos crescendo.
Capa do álbum Clarão |
Acham que essa internacionalização, com essas características da vossa banda, acaba por dar alguma lição a quem tem projectos portugueses e insiste em cantar noutras línguas?
Esperamos que não. Não pretendemos ser professores de ninguém, nem gostamos de gente que insiste em moralizar e educar o Mundo à sua volta. Cada qual deve fazer o que o torna feliz. Se estiver confortável a cantar em Português, que seja. Se estiver mais confortável a cantar em Inglês, idem.
Depois de uma dessas “saídas”, no dia a seguir a tocarem em Londres, participam no festival Fusing, na Figueira da Foz. Como é que se sentem quando regressam a Portugal e são recebidos novamente pelo público português?
Sentimo-nos em casa e acarinhados. Estamos numa situação que consideramos privilegiada. Quando tocamos em Portugal – e agora, também em Espanha -, fazemo-lo para gente que já nos conhece – boa parte. Isso traz um conforto e um sentimento de estar em casa, muito bom de sentir. Por outro lado, em todos os outros países por onde temos passado, retiramos que ainda conseguimos surpreender pessoas e gerar vontade de conhecer mais sobre a banda. Isso só se consegue com distanciamento de quem nos conhece. Estamos bem onde estamos e como estamos.
Quando andam em tour nestes festivais conseguem usufruir deles? Por exemplo, o Fusing com desportos náuticos, gastronomia e arte urbana, seria uma boa escapatória para relaxarem e passearem pela cidade. Vão conseguir ou o cansaço é demasiado e realmente só querem dormir nos intervalos?
Fotografia Bruno Ferreira |
Quando são concertos de um só fim-de-semana, desde que não tenhamos voos muito em cima, conseguimos disfrutar um pouco dos festivais por onde passamos. Quando andamos vários dias em tour, de facto, aproveitamos todo o tempo disponível para dormir e descansar entre viagens e concertos.
Para o Hélio: É inevitável perguntar isto – como é que aguentas conjugar as duas tours ao mesmo tempo?
Sendo feliz a fazer o que gosto. Mas é de referir que todos sempre tivemos outros projectos paralelos. Quando começámos, o Quim ainda estava com os Vicious Five e com os CAVEIRA. Neste momento tem estado a ensaiar bastante para os dois concertos finais de Vicious Five. O Makoto sempre tocou comigo em If Lucy Fell e faz, também, parte dos Riding Pânico, juntamente com o Fábio. Eu estou nos Linda Martini, além dos PAUS. Mas isto é o que gostamos de fazer e, quando assim é, mais ou menos cansados, fazemo-lo de peito aberto.