Existem pessoas que se torna impossível não admirar. É pela postura, pelas afirmações, pelo ser destemido e não ter problemas em dizer o que pensa. Bernardo Fachada é uma dessas pessoas. O seu desprendimento das massas e das generalizações são um marco da sua personalidade. Existem duas afirmações suas com as quais me identifico absolutamente: “Estou sempre em conflito, com aquela sensação de insatisfação que não serena.” e “Não sou guru de nada. Nunca fui um tipo fixe e isso não vai mudar. A face destrutiva do meu trabalho vai sempre afastar muita gente. O pouco que eu possa ter para ensinar não é, certamente, para mais que meia dúzia de amigos.”
Em 2011, lançou o disco “deus, pátria e família”, que consiste numa viagem de 20 minutos por várias temáticas, todas elas pertinentes, mas sem qualquer obrigação moral, o qual chamou à atenção de boa parte do público pelo seu lado revolucionário e rebelde. A letra, essa, nem sequer é preciso ser bom entendedor para a absorver. Simples, directa, despreocupada e realista – crua. Adepto do silêncio enquanto toca, dificilmente se consegue ficar calado com letras como esta, e é com ela que vos deixo agora.
Faz sinal ao galo vencedor
Que esta dança é arriscada
Vai pela crista não vás num bom cantor
Que a cantiga está mal parada
Portugal está para acabar
É deixar o cabrão morrer
Sem a pátria para cantar
Sobra um mundo para viver
Chegam flores do estrangeiro
Já escolhemos o coveiro
Por mim é para queimar
Mas não quero exagerar
Não à glória nacional
Não á força não letal
Já não canto sobre amores
Nem me perco no recheio
É que em terra de amadores
Basta ter o pau a meio
Eu não sei português
E que se foda Portugal
Eu canto em fachadês
A minha língua paternal
Impotência cultural
Nem que fossem 100 Lisboas
Cidadão é animal
E eu faço isto é para pessoas
Estou farto de ser fraco
Vou lutar pela desordenação
É hora do boicote
Já não chega a abstenção
Chegar ali tem que doer
Tamanha a piça do poder
Comer no rabo de meninas
Nos herbívoros é que estão as vitaminas
Faz sinal ao galo vencedor
Que esta dança é arriscada
Vai pela crista não vás num bom cantor
Que a cantiga está mal parada
Eu não sei português
E que se foda Portugal
Eu canto em fachadês
A minha língua paternal
Partiste a cama
Gostas mais do chão
Se não fosse amor
Ninguém diria que é paixão
Dormir a meias
Já faz parte de acordar
Coisas feiras não vais ter que as procurar
Passo a tarde no piano
A trabalhar o desengano
A estrofe avança o refrão é para rezar
Que tu é que és a deusa deste lar
Faz sinal ao galo vencedor
Que esta dança é arriscada
Vai pela crista não vás num bom cantor
Que a cantiga está mal parada
Portugal vai rebentar
É deixar o cabrão sofrer
Sem a pátria para queimar
Há mais tempo para viver
Chegam flores entre as estrangeiras
Mas 3 tristes parideiras
Que venham cá curtir
Já que não há nada para partir
Não à força nacional
Não à glória não letal
Já não há cú para doutores
Que o pau fica-me sempre a meio
Que em terra de amadores
Basta ter algum paleio
Eu não sou português
E que se foda Portugal
Eu canto em fachadês
A minha língua paternal
Traz no colo uma missão
Fiz a cama dos teus pais
Passo a boca
Tiro a roupa
Nunca quis saber demais
Dás-me o outro lado
Para não estragares o penteado
Eu estou sossegado
Ninguém quer mais que ser um pai babado
Ninguém quer mais que ser um pai babado