Deixando as tuas
habituais falsas modéstias de parte, e tendo em conta a projecção que este teu
já não tão humilde blogue alcançou, alguma vez consideraste a hipótese de
distribuíres conteúdo através dele? Ou seja, fazer dele uma plataforma para
novos (e quiçá velhos) autores lançarem amostras do seu trabalho? (Filipe
Faria)
Claro que sim. Aliás, só nunca o fiz, explicitamente, por
não ter conseguido ainda o tempo suficiente para parar e pensar sobre como
fazer isso, de forma funcional e eficiente, mas é uma das coisas às quais tenho
dispendido tempo do meu pensamento. Pouco a pouco, vou tendo algumas pessoas a
escreverem esporadicamente no blogue, cuja intenção é mesmo mostrar um pouco do
seu universo. Não só ligados à literatura, como ao teatro e ao cinema. Conto,
brevemente, vir a ter mais alguns “colaboradores”nesse sentido, mas em que a
intenção é apenas que se mostrem e não que desenvolvam conteúdo relacionado com
o blogue. Penso que seria muito proveitoso os autores serem mais proactivos,
mas poucos o são e penso que, tal como disseste, o não tão humilde prende-se
com o facto de que, chegada uma altura, é masoquismo andares atrás de autores
que não se mexem, que não querem tanto como tu. Nesse sentido, tenho lançado
desafios a que ganhem coragem, dêem o primeiro passo e que venham ter comigo,
mostrem-me as suas obras e digam-me o que pretendem. Vendo gente com gosto e
com garra, dou tudo de mim para ajudar essa pessoa, como bem sabes.
Quem leu mais livros,
a Sofia ou o Marcelo? (João Morgado)
A Sofia! Mentira, eu não consigo ler as pilhas de livros que
o Marcelo apresenta todos os dias na televisão! Aliás, ultimamente, dou graças
se conseguir ler um a dois livros por semana!
Morrighan” começou
por ser um blog pessoal, achas que neste momento conserva essa essência e se
sim, pensas que um dia a perderá? (Vitor Frazão)
Mais do que nunca, ainda mais do que quando esta pergunta
foi feita, em Janeiro deste ano, penso que essa essência se conserva. Primeiro,
porque acho que já passei por várias crises existenciais e mais do que nunca
acredito no trabalho que desenvolvo. Segundo, porque eu encaro este caminho
como se fosse a maturação de um vinho do Porto, quanto mais velho fica, mais
experiências tem acumuladas e por isso sabe melhor no que realmente se há-de
empenhar ou não. Terceiro, porque acredito em mim e nas pessoas que confiam no
meu trabalho. Cada post deste blogue tem uma conotação pessoal. Até mesmo a
divulgação de um livro. Hoje em dia só divulgo livros que me interessam ou que
por alguma razão quero ajudar divulgar. Ao início construí uma base sólida para
que com o tempo, e com o crescimento, meu e do blogue, pudesse realmente dar-me
ao luxo de seleccionar. E é o que faço.
O blog cresceu
imenso, achas que um dia continuará a fazê-lo além da sua criadora? (Vitor
Frazão)
Não acho, tenho a certeza. Ainda há pouco tempo comprei o
domínio para mais dois anos e por isso, preparem-se, não tenciono que o blogue
desapareça tão cedo.
O meio em que
“Morrighan” se insere, particularmente a secção do blog dedicada às
leituras, é um pouco agressivo, com imensos elementos desmotivantes ou pelo
menos desgastantes. Qual é o motivo (ou motivos) que te faz continuar, no meio
de tantas outras responsabilidades?
(Vitor Frazão)
Bem, acho que esta resposta vai buscar as outras duas
anteriores, pelo menos em parte. Quando esta pergunta foi feita, em Janeiro, o
blogue estava numa espécie de big bang em relação à música. Por causa desse
mesmo desgaste, e por a música ser uma paixão que tenho desde que me conheço
como gente, acabei por arranjar um equilíbrio em que a minha dedicação à
literatura não se satura por ser compensada pela música e vice-versa. O mundo
literário português ainda tem muito por onde evoluir, desde editoras a
bloggers, passando por leitores e autores, e existem muitos factores
desmotivantes e desgastantes que só existem porque as pessoas são mesquinhas e
pensam que só elas é que podem ser as supra sumas do que fazem. E nisto
refiro-me a cada um dos elementos que compõem este mundo. Penso que o truque
aqui é ser-se humilde o suficiente para se saber ocupar o seu lugar, mas não
tão arrogante que se ache superior aos outros, nem tão tolo que se ache
inferior. Eu estou em paz com a minha postura na blogosfera porque sei que o
que faço é de alma em coração. E como acredito no que faço, a motivação vem da
concretização que vou obtendo com estas experiências. Apesar dos dissabores, as
coisas boas suplantam isso tudo – as pessoas e os laços que se criam, não são
sequer quantificáveis.
Qual foi, até agora,
a proposta mais “indecente” que tiveste de um leitor/seguidor?
(Teresa Lopes Vieira)
Aiiiiiiiii, que pergunta, Teresa! Ahahah! Sabes, um dia abro
uma secção no blogue só para estas coisas – coisas indecentes e insólitas. Com
os cinco anos e meio do blogue, se soubesse escrever em condições, já dava para
escrever um belo livro de aventuras e experiências! Neste momento nem consigo
classificar qual a mais indecente. Mas vou pensar nisso.
Na minha opinião, e
de todos certamente, é de extrema importância o teu trabalho na divulgação do
que é nosso, e principalmente do que é nosso e é pouco conhecido. No entanto, e
sem querer descurar a tua divulgação de escritores portugueses, achas que
conseguirás entrevistas com escritores muito conceituados internacionalmente?
(Bruno Franco)
Já tive a oportunidade de o fazer, tenho feito de vez em
quando, mas nem sempre publico no blogue. Aliás, têm-me sido dadas
oportunidades para entrevistar uns quantos, mas não quero desvirtuar essa
componente do blogue. Uma ou outra de vez em quando, sim, porque não? Mas não
quero fazer disso uma coisa regular. Não para já, pelo menos. Um dia que
internacionalize o blogue, talvez avance com isso, mas também nessa fase penso
que teria de ter uma equipa comigo no blogue e não eu sozinha como é até agora.
Ainda assim, como disseste e muito bem, o meu objectivo é o que é nosso e as
entrevistas são, claramente, um meio de destaque para isso.
Como te imaginas
daqui a novo quinquénio?
a) Uma enigmática
espia de olhar mortífero que em breve desvendará uma conspiração de dimensão
mundial?
b) Uma deusa celta de
ecléctico sentido critico, protagonista da nova grande série de literatura
fantástica?
c) Uma temida
fazedora de opiniões com cada vez menos tempo e a caneta cada vez mais afiada?
d) Um exemplo de
trabalho, perseverança e criatividade, cujo empenho continuará a
surpreender-nos e a divulgar o que de melhor se faz em Portugal.
P.S. – Apesar das
quatro opções, esta não é uma questão de resposta fechada, nem sequer quando
refém de uma bola de basquetebol atirada de forma enfurecida por uma certa
jogadora da equipa feminina do Benfica. (Nuno Nepomuceno)
Ahahahah, esta foi a pergunta mais original de todas! E
sabes que mais? Dado tudo o que tenho acumulado, vejo-me como todas essas
quatro opções. Talvez não tanto a primeira, mas nunca se sabe o que se encontra
ao virar da esquina! Daqui a novo quinquénio eu imagino-me rodeada das pessoas
que gosto e que ajudam a que o Morrighan seja o que é hoje e o que acho que
será, ainda melhor, por essa altura. Com os anos uma pessoa aprende a ser mais
analítica, mais selectiva, mais pertinente nas suas observações. As leituras já
não são as imediatas só porque uma editora enviou aquele livro, as opiniões
deixam de ter paninhos quentes, as relações passam a ser mais sinceras e
directas com cada interveniente. Acho que é um processo natural e que nada tem
a ver com a perda de humildade, mas sim com o crescimento de cada um. Se eu
gostasse do mesmo que gostava quando comecei o blogue, se calhar não era muito
bom sinal e se calhar era significado que as centenas de leituras feitas até
então não me tinham ensinado nada. Não que veja com maus olhos o que já li, não
me arrependo absolutamente de leitura nenhuma por muito ridícula que alguém
possa achar, cada uma ajudou-me a tornar naquilo que sou hoje, mas não quer
dizer que não procure algo que me satisfaça mais. Sou uma pessoa insatisfeita,
inquieta, que quer sempre mais e melhor, mas que nunca deixa de estender a mão
a quem precisa. Prova disso é que não nego ajuda a editora ou publicação
portuguesa quando ma pedem. Também os autores portugueses terão sempre uma casa
no Morrighan, assim queiram tanto como eu cá estarem. Quando não querem, ou
esperam que seja eu a fazer tudo, ou não têm a humildade que devem ter, as
bolas de basquet são sempre bons arremessos. E o desprezo também.