Este ano, tivemos quatro dias de concertos, em tom de
warm-up, a preceder o Festival Paredes de Coura. Uma das bandas que actuou no
dia 19 foi Holy Nothing e, como não os conhecia, para além de ouvir as suas
músicas e depois ver o concerto, consegui apanhá-los, mais concretamente ao
Samuel, para uma entrevista rápida para o blogue. A energia em palco foi
enorme, a recepção do público muito boa e a conversa decorreu de forma fácil e
com muito boa disposição.
Comecemos então pelo início, em tom de apresentação: «Quando
começámos a falar deste projecto, estávamos todos separados. Eu estava no
Chile, o Pedro estava na Holanda e o Nelson estava no Porto. Começámos a
trabalhar à distância que foi, basicamente, começar a trocar ficheiros, coisas
ainda produzidas muito em casa ou em estúdios de amigos, cada um no seu país e
tudo muito digital. No início de 2012, encontrámo-nos todos no Porto e levámos
todo esse material, mais de computador, para a sala de ensaio. Foi aí que as
coisas se começaram a transformar – uma coisa que era quase electrónica
purista, tomou o formato banda. Foi nesse
momento que também conhecemos o Bruno Albuquerque, que nos trata da parte da
imagem, que faz narrativas visuais para os nossos concertos e que acaba por resultar
num influência mútua – nós influenciamos o que ele faz, mas o que ele faz
também nos influencia.»
Já o nome, Holy Nothing, apenas surgiu quando já gravavam:
«Nós estávamos a gravar com o Rui Maia, em 2013, no estúdio e não tínhamos nome
ainda. O produtor que estava a trabalhar connosco já
estava farto de ouvir essa discussão, pegou num livro do James Joyce e
disse-nos “abram um livro em qualquer página e aí vão encontrar o vosso nome”
(risos), e assim foi. Optámos por ir mesmo por aí, por uma coisa casual.»
Por causa do nome, surgiu-me uma dúvida existencial
relacionado com a sua origem e que, antes de ser esclarecida, se prendia com as
possíveis referências a Holy Fuck ou Holy Ghost… «Se tiver de responder a
isso, qual prefiro, Holy Fuck (risos) Mas acho que são todas ok, assim como
Holy Other (risos) e não saíamos daqui a noite toda!»
Pedi-lhe então que me falasse das verdadeiras influências
musicais: «Falar de influências é sempre complicado porque ouvimos todos coisas
muito diferentes e o que ouvimos está sempre a mudar. Pessoalmente, agora,
estou a ouvir coisas que não têm muito a ver com aquilo que estamos a fazer –
música brasileira, africana, anos 70. Estas coisas acabam por influenciar
aquilo que fazemos, mas não de uma forma directa, por isso é-nos difícil falar
de influências. Se calhar existem bandas com sonoridades parecidas com as
nossas, mas que nós não ouvimos, percebes?» Percebo sim senhor!
A banda é jovem, mas há poucos meses já saiu o primeiro EP e
podemos esperar mais: «Já temos material novo, mas ainda não sabemos o que
vamos fazer com ele. Se vamos criar um álbum, se vamos lançar outro EP. Temos a
necessidade de sentir alguma liberdade na forma como pensamos nisso. Não
queremos forçar nada, quando chegar a altura de lançar coisas, lançamos, mas
sempre neste registo muito do momento, muito relaxado.»
A música electrónica em banda, acaba por ter bastante
impacto ao vivo na interacção com o público, talvez mais do que lançar um disco
apenas: «Lá está, nós, por esse processo de criação do disco, ainda não
passámos, mas já gravámos um EP, e é sempre muito difícil porque temos
sempre dificuldade em passar aquilo que somos ao vivo. Acaba por ser uma coisa
electrónica, mas ao mesmo tempo muito orgânica, pouco computorizada e muito
mais ligada ao formato de banda, ainda que em termos de som possa soar mais
digital. A construção em estúdio é sempre um desafio para nós, como equilibrar
a parte digital e orgânica. Mas acho que faz parte, é como ensaiares – o
trabalho que tens a ensaiar é o que tens no estúdio, é uma constante
aprendizagem.» Disse-lhe que com o tempo, provavelmente o processo seria
agilizado e se tornaria mais fácil, mas o Samuel não tem de todo essa
expectativa: «Sabes, na verdade, espero nunca agilizar, espero que consigamos
manter este carácter quase experimental nas coisas que fazemos. Ou seja, o
nosso resultado final pode não ser experimental, mas o processo sim. Espero que
isso nunca se perca e que nunca chegamos àquele ponto em que já sabemos o que
nos espera.»
Estiveram no Bons Sons, actuaram então no warm-up de Paredes
de Coura, o que reflecte já um bom reportório de concertos em palcos
importantes. Perguntei-lhe como é que andavam a ser essas experiências ao vivo:
«Nós adoramos tocar ao vivo, a única coisa que te posso dizer é que tem sido
óptimo. Temo-nos sentido muito bem em cima do palco, olhar para o públco e
sentir que estamos a fazer uma festa juntos. É bom quando sentes isto de parte
a parte e o público tem sido excelente.»
A nível de objectivos futuros, a postura é modesta: «Nós não
pensamos em objectivos em termos de mercado ou de promoção. O nosso objectivo
passa por fazer aquilo que gostamos e o resto vem por acréscimo, penso eu. Isto
há-de-nos levar para onde tiver que ir.» Cada um dos elementos da banda tem a
sua profissão e fazer apenas da música vida não é bem um objectivo de vida:
«Cada um de nós tem o seu emprego. Gosto muito do que faço e a música é um
complemento. Mais, quando te começas quase a profissionalizar, começas a perder
muitas coisas que são boas e que nada paga. O facto de nunca te sentires
pressionado, essa liberdade, permite-te originar coisas muito mais naturais.» E
tocar lá fora? «Só tocámos uma vez lá fora, em Madrid, valeu a pena a viagem
(risos). Mas é algo que pode começar a acontecer em breve. Tocar lá fora é
sempre sinónimo de tocar mais e é disso que gostamos. O prazer de tocar
sobrepõe qualquer objectivo económico.»
Foi um prazer estar à conversa com o Samuel e podem seguir a página de facebook deles aqui: https://www.facebook.com/holynothingband