Desde que me recordo, a música electrónica e de dança é associada frequentemente a faixas curtas, rápidas, fáceis, aos chamados singles que ficam no ouvido durante meses. Bruno Cardoso, mais conhecido como Xinobi, construiu a sua base sólida enquanto DJ nas pistas de dança, mas nunca deixou o seu lado guitarrista de parte, iniciado a solo ainda antes de The Vicious Five e colocado em prática, hoje em dia, em Moullinex (full band) e ainda na Discotexas Band.
Todo este percurso e experiências ao longo dos últimos anos fizeram com que Xinobi se sentisse finalmente preparado para ter o seu primeiro álbum a solo. Numa entrevista dada a este blogue, Bruno afirmou que Instrumentos “reais”, vozes e pouco artificio são, diria, os componentes que mais facilmente podes destacar [na boa música electrónica]. Não estando a falar do seu próprio trabalho, a verdade é que eu não conseguiria descrever melhor o seu próprio disco. «1975», ano marcante para a sua família, dá o título a este que promete ser um disco memorável na sua carreira.
São dez músicas que pedem umas boas colunas, ou uns bons headphones, pois a viagem que se inicia merece ser vivida ao máximo. Para os descrentes da música electrónica, aqui fica uma prova de como é possível fazer-se um trabalho extraordinário, diversificado, não cansativo, ao longo de pouco mais de cinquenta minutos.
A música é terapêutica. Ajuda-nos a celebrar e acompanha-nos no sofrimento. Tens melodias que te deixam alegre, outras que choram contigo. Tens letras que te fazem questionar a vida, outras que te fazem lembrar que não estás sozinho e ainda te pode ensinar tanto sobre a vida. (citação da entrevista que pode ser lida aqui.)
Este é outro ponto crucial que faz com que 1975 seja diferente. Ao tomar o formato canção, ao ganhar vida através da voz e das letras, proporciona toda uma outra interacção com a música. A juntar à componente orgânica do som, com os tais instrumentos reais como a guitarra, esta componente lírica traz uma riqueza rara à música dita electrónica. Entre sons mais mexidos e outros mais cadenciados, repetição e exagero é coisa que não existe e não será assim tão estranho darmos por nós a ouvi-lo em loop.
Não sou uma especialista no que toca a música electrónica, ou a qualquer outro tipo de música, diga-se, mas enquanto ouvinte tenho para mim que este é um dos discos do ano de 2014. Senhor Xinobi, já não era sem tempo. Muito obrigada por este contributo para a música portuguesa.
Entrevista Xinobi: http://www.branmorrighan.com/2014/10/entrevista-xinobi-bruno-cardoso-musico.html
Playlist da Quinzena Xinobi: http://www.branmorrighan.com/2014/10/playlist-da-quinzena-16-31-de-outubro.html