Delirium
Lauren Oliver
Editora: Alfaguara
Sinopse: Houve um tempo em que o amor era a coisa mais importante do mundo. As pessoas eram capazes de ir até ao fim do mundo para o encontrar. Faziam tudo por amor. Até matar.
Finalmente, no século xxii, os cientistas descobrem a cura para o delírio do amor, uma perigosa pandemia que infecta milhões de pessoas todos os anos. E o governo passa a exigir que todos os cidadãos recebam o tratamento ao cumprirem 18 anos.
Lena Holloway não quer sofrer um destino semelhante ao da mãe. É por isso que mal pode esperar que chegue o dia em que será curada da doença que ataca mente e corpo e deixa todos à sua mercê. Poderá, finalmente, viver segura, tranquila, feliz.
Mas, quando faltam apenas noventa e cinco dias para a tão aguardada cirurgia, Lena faz o impensável e sucumbe a uma irreprimível e incontrolável paixão…
Opinião: Sempre que nos vemos perante uma Distopia, ainda antes de começarmos a leitura, as divagações e especulações são sempre muitas. Que futuro (im)possível é que nos será mostrado nas próximas centenas de páginas? Como é que eu reagiria se vivesse num mundo assim? Por norma, são-nos apresentados desastres químicos, económicos, guerras de poder e de supremacia, mas nunca antes tinha lido uma distopia em que a disrupção se devia a um único sentimento – o Amor.
Se o Amor fosse uma doença, aceitarias a cura?
Dizem que é por causa do amor, essa emoção arrebatadora (ou serão apenas processos químicos manipuláveis?), que se fazem os mais belos actos altruístas, mas também os mais destruidores. Alguma vez imaginaram uma vida em que o sangue não vos fervesse, nem as borboletas no estômago vos consumissem em certas e determinadas alturas? Sem o êxtase do desejo sexual e a sua consumação? Sem todos aqueles elos de amizade/família pelos quais seríamos capazes de dar a nossa vida?
É um mundo assim que Delirium tenta projectar. Um mundo onde o amor deliria nervosa é considerado uma doença, cujo tratamento chega aos 18 anos. Porquê sofrer por amor? Porquê tomar decisões e atitudes baseadas numa exaltação sentimental que nos transcende e por vezes nos embacia o discernimento? Não seria melhor um emparelhamento entre pessoas baseado em interesses e onde a cordialidade e a fria distância respeitosa imperassem? Com ausência de sensações de vertigens, de choro, de desespero,de saudade. Nada dessas coisas “pouco saudáveis”.
Através de Lena e de Alex, protagonistas de Delirium, assistimos às diferenças entre aqueles que já estão curados, os que ainda não foram curados e aqueles sobre os quais o tratamento nunca funcionou. A evolução da narrativa é algo lenta, mas muito focada nas percepções, nas dúvidas, no questionar sobre o que rodeia Lena. Narrado na primeira pessoa, o enredo revela-se de uma pertinência cáustica no que toca até onde o ser humano seria capaz para tornar uma população eficiente e sem distúrbios emocionais. As descrições desoladoras que são feitas de, por exemplo, casais que caminham na praia com relativa distância, sem sequer um sinal de afecto ou aproximação, são exemplos inflamadores do quanto o amor faz a diferença.
O que é que é preferível? Uma existência anestesiada, eficiente e sem qualquer altercação ou emoção capaz de nos superarmos a nós mesmos? Ou antes, um existir febril, emocionante, cheio de sorrisos e risos, um sem limite de possibilidades? Talvez algo pelo meio? As respostas encontrarão vocês naquilo que cada uma das passagens vos fizer sentir.
O ponto forte do livro é isto mesmo, esta evolução da vida de uma adolescente que se vê prestes a ser curada, mas que descobre que talvez tudo aquilo que lhe têm dito, todos os pontos negativos da doença que levou, supostamente, a sua mãe a suicidar-se, não compense tudo o que pode sentir se optar por continuar a sua vida sem a cura, com Alex como elemento motriz da mudança em Lena. A escrita é leve, fluída e simples. O fim, deixou-me um sabor agridoce, esperava algo… diferente, mais intenso. Não sendo um livro que me tenha conquistado por completo, encantou-me o suficiente para querer ler o próximo.
Deixo-vos, também, uma passagem que me marcou:
Pela sinopse, pensei que podia ser uma história a puxar para o lamechas, mas depois, lendo a tua opinião, percebi que é tudo menos isso. A imagem dos casais passeando na praia é bastante perturbadora. Vou tomar nota.
Eu acho que se pode olhar para o livro de várias maneiras. Esta foi a minha perspectiva 🙂