Viajantes
Daniel Costa-Lourenço, Bruno Torrão e fotografia por Marta Cruz
Editora: Livros de Ontem
Sinopse: Viajantes é um livro que conjuga a poesia de Daniel Costa-Lourenço e Bruno Torrão com a fotografia de Marta Cruz, tudo com o propósito de lhe mostrar Lisboa como nunca a viu. Através de uma poética por vezes amorosa, por vezes musical, o leitor é convidado a descobrir cada canto e recanto da cidade de Lisboa nos seus pormenores mais simples e reveladores.
“Este livro é uma viajem pelo lado invisível de Lisboa, por aquela cidade que sentimos e que nos transforma, que nos serve de cenário e que, por vezes, é também personagem.” Daniel Costa-Lourenço
“Cada poema leva-nos a um sítio, um bairro, uma avenida, uma rua, um beco quiçá…” Bruno Torrão
Opinião: Escrever sobre poesia não é uma tarefa fácil para mim. Não sou uma entendida em estruturas e formas poéticas, mas uma coisa eu sei – existem obras que nos atingem, qual tornado, e nos fazer sentir um turbilhão de emoções imenso, sem fim à vista, e que nos desassossegam, falam ao ouvido e ficam em eco durante minutos, horas, dias a fio. E é com base nesses sentimentos, nessa perturbação anímica, que gosto de escrever sobre livros como o Viajantes.
A proposta é simples: dois autores, uma fotógrafa e Lisboa como pano de fundo. O início ficou a cargo de Daniel Costa-Lourenço e é quase injusto falar sobre os seus poemas. Tal como Vicente Alves do Ó diz no Prefácio “Não cabe a ninguém – muito menos a mim – explicar seja o que for, ou elogiar a superfície brilhante do que se segue (…).” Existe uma capacidade, na escrita de Daniel, em expressar determinadas circunstâncias e intimidades que é assombrosa. A imagética projectada, também ela, é intensa, desprovida de timidez e aguçada, incisiva.
Já Bruno Torrão, dá-nos toda uma outra perspectiva mais violenta, com uma agressividade passiva que murmura sobre as paixões efémeras, os tormentos admitidos e renegados, os cenários que confrontam o leitor com a sua fragilidade. São encontros e desencontros a um ritmo que oscila entre o pálido deslumbramento e a fervorosa convicção. Este estilo mais sombrio, tantas vezes sexual, acaba por emparelhar como um oposto perfeito à poesia de Daniel Costa-Lourenço.
Mas esta obra não seria a mesma coisa sem as fotografias de Marta Cruz. Se por um lado ambos os poetas são fortes na projecção de imagens através das palavras, a verdade é que é com as fotografias de Marta que verdadeiramente se completa todo o cenário poético. Pormenores subtis, jogos de luzes íntimos e reconfortantes, são características que conferem a Viajantes um cariz único. A edição está muito bonita, bem cuidada e tem sido um prazer lê-lo e relê-lo. Existem passagens que ficam nas nossas memórias e a tentação de voltar é sempre muita.