Opinião: Mustang Branco, de Filipa Martins

Mustang Branco

Filipa Martins

Editora: Quetzal Editores

Sinopse: Uma mulher cresce protegida pela austeridade do pai – um Coronel – que, para além do bem-estar da família, tem como paixão um Ford Mustang branco titânio a rolar nas estradas da cidade da Beira, em Moçambique. Alheada da guerra civil que domina a ex-colónia portuguesa, apaixona-se pela pele curtida de um guerrilheiro. Vinte anos mais tarde, no seu apartamento, numas minúsculas águas-furtadas em Saint-Germain-des-Près, ela continua marcada pelas lembranças que tem deste catanador de chissamba – Caju, de seu nome, tal como o fruto.

Quando um conjunto de acasos a leva ao septuagésimo nono andar da Torre Montparnasse, reencontra o seu velho amor no ambiente cosmopolita de Paris, apertado pelos fatos cintados da alta-costura e de braço dado com o dinheiro. De imediato, é enredada numa teia de negociatas de contornos densos, misteriosos e devassos que a conduzem à prisão – e ao passado.

Opinião: “Nunca estamos no dia a que chamamos o dia de hoje.” É este o remate do terceiro romance de Filipa Martins. E tal como a citação, todo o romance acaba por ser um conjunto de encontros e desencontros, tanto emocionais como pessoais, numa dança inconstante e instável sobre o desejo e a vontade, o dever e a obrigação, o que nos move e o que nos detém. Atravessando paisagens como a Beira e Paris, passando por Londres, Mustang Branco traz-nos a história de uma jovem, que narra na primeira pessoa, que de uma infância opressiva e reprimida, passou para um liberalismo sedento de significado, sempre na busca da satisfação e da superação de si mesma. 

Começamos por um presente tumultuoso para, repetidamente, visitarmos o passado que o justifica. Temos uma protagonista feminina que vai falando connosco, dando-nos a conhecer as suas forças e as suas fraquezas, tornando-a tão humana e banal que qualquer mulher poderia ter vivido algo assim. A imagética é forte, os cenários estão bem descritos e por vezes é como se estivéssemos a assistir a uma tela a preto e branco, com o presente a cores, um misto de evolução de carácter, mas também de obsessões. 

Foi uma leitura que tanto me surpreendeu, e acelerou a leitura, como em certas alturas pareceu demorar-se demasiado a passar. Talvez seja assim a nossa própria vida, umas vezes parece que o tempo não é suficiente para nada e outras vezes permanecemos num limbo que nunca mais acaba. Estava a pensar no nome da personagem e não me conseguia lembrar, só da alcunha que Caju lhe tinha dado – Sardenta. Esta é outra característica na escrita da autora que acaba por se sobrepor muitas vezes à grande tela a que assistimos, os pormenores fazem a diferença. Por vezes, toda. 

Existe um caminho, enquanto mulher, que todas nós percorremos. Os dramas da infância, as inseguranças da adolescência, as paixões perdidas para as irmãs mais velhas ou para as melhores amigas, o chegar a adultas e o termos tudo isso em baús que com um vento mais forte se abrem e libertam as recordações mais mordazes. Não sei classificar este livro em categorias ou secções, sei que é um livro muito humano, com recortes dos tempos de guerra em Moçambique, com cruzamentos de vidas e personalidades reais. Esse Mustang Branco, qual símbolo de supremacia e controlo, acaba por ser a maior testemunha e consequência das vontades do homem. 

A escrita está bem estruturada, a leitura dá-se de forma fluída e natural e foi um prazer descobrir mais uma escritora portuguesa. Foi uma daquelas obras que ao ler senti que só podia ter sido escrita por um português. Existe essa particularidade e capacidade em descrever certas emoções que só nós, detentores únicos da palavra saudade, conseguimos. Fica a curiosidade para ler mais obras da autora. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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