O Cavalheiro Inglês
Carla M. Soares
Editora: Marcador
Sinopse: PORTUGAL. 1892. Na sequência do Ultimato inglês e da crise económica na Europa e em Portugal, os governos sucedem-se, os grupos republicanos e anarquistas crescem em número e importância e em Portugal já se vislumbra a decadência da nobreza e o fim da monarquia.
Os ingleses que ainda permanecem em Portugal não são amados. O visconde Silva Andrade está falido, em resultado de maus investimentos em África e no Brasil, e necessita com urgência de casar a sua filha, para garantir o investimento na sua fábrica.
Uma história empolgante que nos transporta para Portugal na transição do século XIX para o século XX numa narrativa recheada de momentos históricos e encadeada com as emoções e a vida de uma família portuguesa.
Opinião: Acompanho a carreira da nossa escritora Carla M. Soares desde o seu início, na Porto Editora, com o Alma Rebelde. Foi um início tímido, no primeiro semestre de 2012, mas que conquistou uma boa base de leitores fiéis. A qualidade da sua escrita demonstrou-se inegável, reflectindo ainda uma maior expressividade em A Chama ao Vento, o seu segundo menino editado digitalmente pela Coolbooks. Foi um livro mais complexo, de uma trama intrincada cujos meandros exigiam atenção. Tive muita pena que não tivesse uma edição física, embora leia digital, ainda sou completamente fã de ter o livro nas mãos e folheá-lo, e eis que surge O Cavalheiro Inglês, novamente com uma edição física belíssima, desta vez pela Marcador Editora, na colecção Livros RTP.
É quase ingrato escrever sobre este livro, pois fui eu quem fez a sua apresentação na Bertrand Picoas Plaza e, para quem esteve lá, certamente nada do que direi será novidade. Uma das primeira coisas que me veio à cabeça quando terminei esta leitura foi que este era, até agora, o melhor livro da Carla. Embora tenha adorado o A Chama ao Vento, achei que neste O Cavalheiro Inglês a nossa escritora encontrou o ritmo certo, a dose equilibrada de cada um dos seus ingredientes já característicos – os factos históricos, o romance, o drama e a acção. O início começa logo por levantar algum mistério, por deixar a curiosidade do leitor em alerta para o rumo da história. Quem será este cavalheiro inglês? De que forma é que a sua vida se irá cruzar com a de Sofia?
E eis que tocamos noutro ponto sensível – Sofia. A personagem feminina que faltava na bibliografia da autora. Tem sido um crescendo nas suas obras, a força e determinação dada às mulheres das suas histórias, e Sofia acaba por ter uma evolução notável ao longo da obra, mesmo com as suas fragilidades de menina proveniente de família rica. Ainda assim mostra-se destemida, disposta a desafiar os preconceitos da sociedade para lutar pelo bem da sua família e por aquilo que acha certo. Passa por uma série de provações e, mesmo estando com uma imagem desfeita perante os seus pares, não se coíbe de fazer o que acha que deve fazer.
Também Sebastião, irmão de Sofia, acaba por ser um protagonista desta trama. Um romântico incurável, mas ao mesmo tempo um rebelde por natureza. Se no começo as suas acções são contidas, com o tempo envolve-se em actividades revolucionárias com anarquistas, deixando Sofia num alvoroço, influenciando também o rumo da sua vida.
É impossível não referir o maldito duque e todo o mal que foi provocando. Sofia foi-lhe prometida, mas o que inicialmente pareciam rosas, rapidamente se tornaram espinhos. E é quando esta tormenta atinge o seu pico máximo que também a leitura acelera, estamos perante um virar de acontecimentos que torna impossível não querer ler mais uma página, percorrer mais algumas ruas de Lisboa ou até apanhar o comboio para o Porto.
Desnecessário será dizer que toda esta envolvente viciante à volta d’O Cavalheiro Inglês se deve à escrita de imagética extremamente forte de Carla M. Soares. Conseguimos visualizar cada objectivo, cada pormenor. Somos transportados para aquele tempo, tão bem descrito e desenvolvido. Nota-se um grande trabalho de pesquisa, um cuidado nos pormenores, que acaba por distinguir esta obra de outras do mesmo género. Sem dúvida, o meu livro preferido da Carla até agora.