Fotografia Nuno Capela |
Este será, provavelmente, um dos Diários de Bordo que mais gozo me vai dar escrever. Em primeiro lugar porque foi um dia extremamente bem passado, com pessoas fantásticas, boa comida, boa bebida (tinha de o dizer), mas acima de tudo porque são projectos como o Bons Sons (vou já deixar cair o Festival porque realmente já se nota que é bem mais do que isso, mas já passo a explicar) que me fazem acreditar que todo o trabalho em prol da cultura portuguesa valem a pena. Mais, acho extraordinário encontrar todo este entusiasmo a percorrer todas as faixas etárias numa pequena aldeia de Tomar – Cem Soldos. Há muito a dizer sobre este Festival que em 2016 deixará cair este prefixo, tornando-se o Bons Sons, um conceito próprio por si mesmo – de dinamização cultural, de envolvimento e integração social da comunidade de Cem Soldos na actividade de uma aldeia que, parece-me, poderá vir a ter mais do que os mil habitantes que tem agora.
Fotografia Nuno Capela |
Partindo de Lisboa rumo a esta pequena, mas amorosa, aldeia de Tomar, a visita iniciou-se pela Oficina das Avós, onde fomos testemunhas do processo criativo de toda a mão de obra de merchandising do festival. Se algumas daquelas belas senhoras já andam pelos 90, disse-nos o Luís Ferreira que é porque têm os seus horários todos muito certinhos com rituais diários que se mantêm há muito tempo. Só posso desejar que continuem porque para além dos sorrisos lindíssimos, também tudo o que constroem já passou a fazer parte da identidade do festival.
Seguimos em viagem pelos vários locais onde irão ser construídos alguns dos palcos, incluindo uma nova zona lounge construída com materiais sustentáveis e reutilizáveis, a fazer jus ao prémio que ganharam em 2014, no Portugal Festival Awards, de Festival Mais Sustentável. É também sabido que para além desta postura são ainda dinamizadas, durante o festival, campanhas de sensibilização ao público no sentido de adoptarem comportamentos ecológicos mais responsáveis.
Fotografia Nuno Capela |
Seguiu-se um momento delicioso em que ficámos a conhecer o Projecto Canixas, fazendo parte do espírito Formador do Bons Sons, no qual se pretende dotar as crianças de conhecimentos técnicos de música, para além de lhes apresentar as diferentes da música tradicional portuguesa, criando um espaço de convívio em que tal possa acontecer. Esta iniciativa terá os primeiros resultados apresentados no Palco Tarde ao Sol na presente edição de 2015. Sem dúvida que entusiasmo não lhes faltou, até porque quando se deu por terminado, tal como só as crianças o sabem fazer, exigiram nova canção e a dança também não faltou.
Provavelmente farei mais uns quantos artigos sobre o Bons Sons até à data do festival. Não só por haver tanto para contar, mas porque existem aspectos que merecem o devido destaque. Tendo o almoço como ponto de paragem para as restantes novidades nos serem contadas, ficámos a saber que um dos objectivos futuros, para além de residências artísticas, que já começaram, e actividade continua ao longo de todo o ano na aldeia de Cem Soldos, é também criar um dia para a imprensa/agentes/promotores em prol do Bons Sons se tornar numa espécie de montra com projecção internacional.
Fotografia Nuno Capela |
Podíamos dizer, sem qualquer risco de exagero, que este é um projecto muito ambicioso, mas ao contrário do que muitas vezes vemos – do querer muito, mas não ter como torná-lo realidade – a verdade é que todos fomos testemunhas de uma roda bem oleada, uma determinação férrea nos rostos de quem intervém para que a aldeia se vá tornando, ao seu ritmo, na capital da música portuguesa e não só, a meu ver têm todo o potencial para se tornarem numa Capital da Cultura. Foi-nos dito que de 2015 a 2020 um novo ciclo será construído. Se 2015 será um ano de transição, ficámos também a saber que à música juntar-se-á o cinema, as artes visuais e as artes performativas. A música portuguesa bem que pode ser o chamariz, mas todos estes ingredientes juntos expressam um quadro cultural invejável. Mensagem passada, de forma clara e eloquente, passámos à refeição e aos maravilhosos cozinhados de Cem Soldos. Eu já estava convencida de que queria viver a aldeia este ano, mas caso não estivesse acho que a gastronomia tinha dado um belo empurrão. E se os quintais e as casas dos habitantes se vão abrir para alimentar os visitantes, nem quero imaginar quantas mais iguarias não serão proporcionadas ao longo dos quatro dias de festival. Ah! Dou conta que ainda não vos disse quando é que isto se irá passar, mas também já deviam saber – de 13 a 16 de Agosto!
Aquela primeira foto inicial toma agora protagonismo no sentido em que nada melhor para sobremesa do que dois showcases de dois dos melhores músicos portugueses – Tó Trips, com músicas do seu novo disco Guitarra Makaka, e Benjamim (antigo Walter Benjamin), com músicas do seu primeiro disco neste projecto – que ainda não saiu – passando pela música Os teus passos, já nossa conhecida. As duas actuações foram bonitas, cada uma à sua maneira. Sendo dois estilos tão diferentes, também o ambiente formado ao longo das actuações o foi. O Tó com a sua intensidade na guitarra torna sempre a atmosfera mais contemplativa e sentida, enquanto o Benjamim tem sempre o toque mais alegre, mais pop mas também familiar, agora que fala das suas gentes e da sua terra. Seguiram-se mais uns petiscos e a certeza de querer voltar. Quem me conhece sabe que dou imenso valor à genuinidade das pessoas, à paixão e entrega que dão a tudo o que fazem, e eu senti isso enquanto estive em Cem Soldos. Foi bom, quero voltar.
Entrando na despedida, quero deixar aqui um grande beijinho e um abraço a uma série de pessoas que tornaram o dia ainda mais especial: ao Nuno, por ter conseguido arranjar tempo para vir fotografar coisas lindas como só ele sabe, ao Paulo e à Rita (claro!), à Nádia e ao Telmo (que não conhecia, mas que completaram a mesa dos fixes – sem ofensa!), ao Tó Trips e ao Luís Nunes (Benjamim), que alinharam comigo numa brincadeira que acabou por se tornar num momento algo embaraçado para mim (imaginem que eu queria tirar uma foto no palco, na brincadeira, e o Nuno chama o Tó e o Benjamim para ficarem atrás de mim. A sala estava vazia quando me sentei naquela cadeira e de repente estava lá a imprensa quase toda de câmeras apontadas – pânico!) e, por último mas mais importante, ao Luís Ferreira, à Ana, à Inês e restante comitiva, por todo o carinho e atenção com que nos trataram sempre. Seriedade, mas muitos sorrisos, afinal a alegria no que se faz é fundamental.
Fotografia Nuno Capela |
Para não sobrecarregar este post ainda mais, deixo-vos o link para a Foto Reportagem completa deste dia (com fotografias minhas e do Nuno Capela): http://www.branmorrighan.com/2015/05/foto-reportagem-viver-aldeia-cem-soldos.html
PROGRAMA: