Ontem estive na 21ª edição do Super Bock Super Rock, graças às razões pelas quais o meu pedido de acreditação não foi aceite – o carinho e entrega que tenho para com os artistas portugueses. O universo tem esta forma muito própria de funcionar em que de repente juntam uma série de factores de forma incrível. Os Thunder & Co. são um duo (ao vivo trio) composto pelo Rodrigo Gomes e Sebastião Teixeira, que conheci quando o primeiro disco de longa duração – Noiciceptor – saiu. Gostei imenso do disco, entrevistei-os, convenci-os a cederem-me as letras das suas músicas, que foram sendo publicadas até à véspera do Super Bock Super Rock. Tudo isto de forma descomprometida e por genuinamente gostar, tal como todos os outros projectos que tenho apoiado até agora. Nem de propósito, na véspera do SBSR soube que não me iam dar acreditação (não justificaram nem com a falta de espaço que é já um clássico nas justificações) eis que eles vêm falar comigo, que gostavam que eu fosse ao menos ao dia deles. Rejubilei! Não sei se devia estar a colocar tudo em panos tão claros, mas eles merecem um mega agradecimento público porque também eram uma das bandas que eu queria muito muito ver ao vivo, dado que ainda não tinha conseguido.
Eis que chego então ao recinto bem cedo, pouco depois das 16h00 e vou até Captain Boy. Pelo meio, estava eu com duas amigas, encontro alunos, pedem-nos para tirar fotos… que início de tarde tão prometedor! Eheheh. Fora de brincadeiras, Captain Boy era um artista pelo qual tinha curiosidade dado todo o alarido que tem sido feito através da plataforma Tradiio e até que não foi mau de todo, não. O rapaz é alegre, mostrou-se mais do que grato por ali estar, deu um bom concerto e só faltou o palco secundário ter mais pessoas para um entusiasmo maior. Confesso que não me ficou no ouvido, mas talvez vá ouvir uma segunda vez, agora em casa. Seguiram-se os Modernos, uma facção dos Capitão Fausto, para um concerto como eles já tão bem sabem dar, cheios de alegria, guitarradas fortes e sonantes e uma interacção entusiasta, sendo que os outros membros de CF não faltaram e que ainda houve invasão de pandeireta na mão por parte do Domingos. No meio disto tudo, o vocalista Alexander “Chilli” Jesson, dos Palma Violets, andou a espalhar charme, autógrafos e ainda houve tempo para curtir um bocado do concerto dos Modernos.
Confesso, a minha tarde/noite só começou verdadeiramente com Thunder & Co. Não, não digo isto por me terem oferecido o bilhete, não há essa necessidade. Quando já entrevistaste a banda, praticamente decoraste as letras e só faltava a concretização visual, bem, entusiasmo é eufemismo. E não desiludiram! Tanto o Rodrigo como o Sebastião pareciam algo nervosos ao início, mas postura positiva é coisa que não lhes falta e num instante o concerto ficou cheio de energia e da boa. Estando à vontade, foi muito bom constatar como as vozes ao vivo conjugam tão bem e como se coordenam em palco, sempre a dançar. Foi lindíssimo ainda assistir a pai e filho (julgo eu!) com t-shirts, respectivamente “Thunder” “&Co”. Ahah, fez-me lembrar os super heróis e o rapaz pequenito, mas já suficientemente alto para poder ver acima da grade, bem que dançou. No final, com a One Night Only a banda teve o maior feedback do público como um coro muito bem afinado. Que dizer mais? Gostei e quero repetir, aconselho a quem os tiver por perto ir lá dar um passinho de dança também. Para além das músicas do Nociceptor, também músicas do EP anterior tiveram lugar na setlist!
Eu sei, as minhas fotos são miseráveis, mas não eram permitidas máquinas não acreditadas e o meu telemóvel não é, de todo, topo de gama, faz-se o que se pode. Eheh. Depois dos Thunder&Co. fui ver Rodrigo Amarante, que venero, mas o ambiente estava algo estranho. A sala super fria, o concerto pareceu-me, ele mesmo, algo frio (não que Rodrigo Amarante não estivesse a tentar dar o seu melhor), mas vi-me constantemente a ser levada dali para outros locais na minha cabeça e decidi então ir ver como estava o Palco EDP com os Unknown Mortal Orchestra. Adoro-os, já os vi duas vezes, em Paredes e no Alive, mas nunca é demais. Só foi pena as constantes quebras técnicas durante o concerto. Microfone que não se ouvia durante grande parte da música – os assobios fizeram-se ouvir, mas ninguém parecia perceber – entre uma ou outra falha de som. Claro que esta é uma banda experiente e quando os problemas foram contornados o público ficou ao rubro até ao final do concerto.
Acabei por perder os nossos D’Alva e Cristal Fighters, mas os primeiros ainda há pouco tempo vi no CCB e penso que ainda vou ver pelo menos mais uma ou duas vezes este ano, e Cristal Fighters que já vi duas vezes em pouco tempo. Em vez destes últimos fui-me entregar a We Trust, que também nunca tinha visto ao vivo, mas que também já entrevistei e fiz um especial com as letras. O André Tentúgal sabe como colocar uma plateia de pé, como fazer mini medleys a meio das suas canções e apesar do público se ter mostrado algo resistente ao início, a banda não tardou a conseguir com que ficasse toda a gente de pé e em coro. Um pronuncio bonito para o conjunto que eu mais queria ver a partir dali – Florence + The Machine.
Ainda passei por FFS, etc. etc., mas já só pensava em Florence. Pena foi um pequeno incidente que tive logo ao início do concerto e que me levou a sair da plateia, mas mesmo do segundo andar do MEO Arena foi impossível não sentir e ficar arrepiada com a solidez e a emoção partilhadas. Há pouco tempo comentaram comigo, quando eu dizia que andava aos anos para conseguir ver esta banda, que ao vivo a Florence não era assim tão boa, que a voz dela isto e aquilo. Não sei que concertos viram ou onde, mas quando a última música, antes do encore, acabou, eu só consegui fazer o paralelismo com a magia dos Queen. Exagerada? Hum, talvez, são perspectivas, mas caramba, a voz dela, a performance corporal entre o dramático e o dançante alegre, a interacção fabulosa com o público, a própria entrega em ir ter com os fãs da front line e partilhar com eles abraços, beijos, coroas de flores em plena performance, corridas de uma euforia contagiante em que nem a bandeira de Portugal faltou e que ela tratou com enorme carinho. Não sei se ela é sempre assim em todos os locais, mas ninguém pode negar que ontem foi um monstro – no bom sentido – belíssimo em cima do palco. O público ajudou, claro, foi derradeiro nessa reciprocidade. Quando ela perguntou se podíamos ser o coro dela, bem, nem tinha sido preciso pedir porque quer ela quisesse quer não – acredito que adorou – o público esteve imparável o concerto todo. Sobre o alinhamento e aspectos técnicos, não faltarão publicações a falar disso e não é essa a minha intenção, mas que foi espectacular, lá isso foi. O MEO Arena é conhecido pela sua acústica duvidosa, mas por qualquer razão “sobrenatual” durante o concerto de Florence + The Machine nem sequer notei nada. A concentração estava toda nela e na excelência da sua voz magnífica e vibrante.
Penso que o que ajudou a este sucesso todo foi o seu envolvimento tão humano com a plateia. Para além do momento Patti Smith “People have the Power!”, houve ainda frases como “Abracem-se.” “Se estão perto de um amigo, de alguém que gostam, sejam vocês a erguê-los, quero ver pessoas! (numa alusão a colocarem-se às cavalitas uns dos outros)” “Tirem a roupa que não precisam e abanem-na no ar!” Escusado será dizer que na última a própria Florence tirou a sua camisola e desatou a correr no corredor dos fãs para depois desaparecer por uns momentos para se recompor. Todos aqueles milhares de pessoas na plateia saltavam praticamente em uníssono, sabiam até as músicas mais recentes na ponta da língua, oh well, foi lindo! Oh, okay, claro que este é um registo completamente tendencioso de uma fã que segue religiosamente o trabalho deles (é das poucas bandas internacionais que ainda acompanho passo a passo), mas pelo que tenho visto nas redes sociais não restam grandes dúvidas!
E pronto, terminado o concerto lá fui eu para casa, completamente exausta, mas de sorriso no rosto. É como eu digo, há astros que por vezes se alinham de forma extraordinária e que se tornam num bálsamo para aquelas fases menos boas, em que tudo parece querer bater de frente contra nós. Haja momentos/dias como este. Sinto-me uma sortuda e completamente grata! Não houve acreditação? Acho que foi o melhor que me aconteceu, não só o meu trabalho foi reconhecido por quem realmente importa como ainda por cima se tornou num dia inesquecível para mim. No fim do dia é isto que importa – as pessoas e a forma como nos relacionamos com elas e como nos sentimos gratas pelo que fazem por nós.
Numa última nota ao recinto – a disposição está porreira, está tudo bem distribuído, circula-se bem, mas a haver enchentes… Não sei. Acho que também é necessário melhorar as condições técnicas do palco EDP. Do palco Antena 3 só posso dizer bem. Para além do cartaz de luxo, do que vi correu tudo bem e realmente a localização perto das escadas acaba por dar um ar quase de auditório que pode acabar por trazer mais público que possivelmente nem conhece as bandas (quem é que se importa de ver algo novo desde que possa estar sentado?) No MEO Arena, lá está, só vi parte de Rodrigo Amarante que não estava muito agradável, e depois a Florence em que parecia estar tudo irrepreensível. O palco Carlsberg não contou com nenhuma visita minha, mas isso a culpa já é minha. Acuse-se quem foi se gostou! Estiveram lá os Throes and The Shine, mas ainda há pouco tempo estive na primeira fila num concerto deles e acho que eles me perdoam por os ter trocado, neste festival, pela Florence.
Parabéns aos corajosos que leram isto tudo até ao fim, adoro-vos! Abreijos e até ao próximo Diário de Bordo!