Opinião: Na Presença de um Palhaço, de Andrés Barba

Na Presença de um Palhaço

Andrés Barba

Editora: Elsinore

Sinopse: O cientista Marcos Trelles prepara-se para publicar um artigo numa importante revista da especialidade, mas terá de anexar uma curta biografia de trezentas palavras. Nas duas semanas de que dispõe para a escrever, viaja com a esposa até à casa da sogra, falecida um ano antes, para resolver de vez o problema da herança.

Na mesma altura, regressa a Espanha Abel, o cunhado, que pretende vender a casa da mãe e desfazer-se da última coisa que o liga ao país onde nasceu. Célebre comediante já reformado, foi ele quem, anos antes, empreendeu uma campanha política que elegesse um manequim para o Congresso, como forma de desmascarar o teatro político que nos subjuga.

Quem sou eu? Esta interrogação desafia Marcos a encontrar, no caos do nosso quotidiano de austeridade e desemprego, uma possibilidade de ordem dentro de sim, mas igualmente dentro de um país despedaçado. Neste romance,  a prosa limpa de Andrés Barba esconde a navalha com que se escalpeliza o espectáculo da política.

Opinião: Elsinore, a nova chancela da Editora 20|20 tem tido a particularidade de todas as suas obras, pelo menos as que já li até agora com Lorde e A Eterna Demanda, olharem de frente e de forma incisiva para o interior do ser humano. Em cada uma destas histórias, incluindo Na Presença de um Palhaço, existe um protagonista cuja identidade é explorada, cujo ambiente e percurso servem para fazer observações pertinentes sobre o que os rodeia e também sobre si mesmos. Neste livro de Andrés Barba temos o narrados Marcos, um investigador que, na necessidade de fazer uma auto-biografia para uma revista científica, vai explorando passado e presente revolvendo incómodos e desejos, numa tentativa de definir a sua própria personalidade. 

Durante a narrativa entre então em cena Abel, o seu cunhado e ex-comediante. A perspectiva que Marcos acaba por dar ao leitor em relação ao seu cunhado é interessante em vários aspectos, principalmente no que toca a temer, a invejar, o próximo, mas nunca tendo bem a certeza do seu próprio papel. Abel, com o poder que ganhou através do seu humor, da sua crítica à sociedade incansável e da condenação política, acaba por ser alguém que tanto se admira como se julga em praça pública. Também o seu pai toma protagonismo a certa altura e aqui entra em cena o quão despegados e preocupados conseguimos ser, alheios aos sinais exteriores de alerta. 

Ao início, o que mais me fascinou, foi o retrato do investigador que quer publicar e não consegue, mas algo também ficou muito claro – nem sempre o mérito fica com quem o tem e a ética de Marcos também ficou a desejar. Este “circo” de personagens acaba por retratar uma boa parte da sociedade dos dias de hoje e o livro está bem escrito, porém a certa altura estava à espera de mais. Não sei explicar bem o quê. Li o livro bastante rápido, lê-se bastante bem, mas talvez por os outros dois livros da Elsinore serem mais densos este acabou por saber a pouco. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

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