A última dança de Charlot
Fabio Stassi
Editora: Bertrand
Sinopse: Na noite de natal de 1971, Charlie Chaplin recebe a visita da Morte. Charlie propõe-lhe que volte no ano seguinte em troca de uma experiência desconhecida pela indesejada inimiga: a diversão. Com o intuito de ver crescer o seu filho mais novo Charlie vai assim ao longo dos anos tentando fazê-la rir, alternando a sua espera por mais um natal com uma carta de despedida ao filho.
Tal como uma vidente previu, na noite de Natal dos seus 82 anos, a morte vai ao encontro de Charlie Chaplin para o levar consigo. Mas o seu filho mais novo, Christopher, ainda é muito pequeno e o ator quer vê-lo crescer mais num pouco. Faz então um pacto com a Morte: se conseguir fazê-la rir, viverá mais um ano.
Na sua longa carta de despedida ao filho, enquanto espera por mais um Natal, Chaplin vai contando a surpreendente história da sua vida e das figuras improváveis com quem se cruzou.
Das suas origens humildes em Londres, passando pelo abandono do pai, a doença mental da mãe e o primeiro emprego no circo, até à chegada à América. Ardina, tipógrafo, pugilista, realizador de cinema, cada passo contribui para o nascimento de Charlot.
Opinião: Existem livros que nos levam para outros tempos, para outras vidas. Para uma sensação de redescoberta através de outros olhos, porém dando-nos a sensação de sermos nós mesmos a passar por cada um dos cenários descritos como se estes se materializassem à nossa fente. A última dança de Charlot é um desses livros. Não sendo uma total biografia de Charlie Chaplin, contém vários factos reais – coisa que por curiosidade fui comprovando ao longo da leitura com pequenas pesquisas – e ainda trás o bónus do laivo romanceado em tom de diário intercalado com as interacções, em tom de guião, com a morte. Charlie quer continuar a acompanhar o crescimento do seu filho por mais algum tempo e é através da figura mítica de Charlot que o tenta fazer.
O romance inicia-se com a primeira interacção com a Morte, onde o trato é feito por benevolência desta quando se desata a rir pelo mais improvável. E é então que Charlie começa os seus rolos, na descrição do que foi a sua vida desde criança. Os seus amores e desamores, as suas conquistas e as suas perdas. Não quero adiantar mais sobre a história, acho que realmente vale a pena ser lida. Como tenho andado com pouco tempo para ler, colocava a meta de ler pelo menos um rolo e uma interacção com a morte por dia. Não foram raras as vezes em que quis desalmadamente continuar, mas o sono já exigia alguma atenção e não queria que a névoa soporífera me toldasse dos pequenos pormenores.
A escrita de Fabio Stassi é eloquente e dinâmica. Mesmo nos cenários mais parados existe uma intensidade e um entusiasmo no relato que lemos que tem consequências cinematográficas. É claro que não podemos separar Charlot do cinema nem da imagética provocada mal se fala no seu nome, mas quem lê muito sabe que não são todos os autores que transportam essa característica para a sua escita. É um livro que se lê muito bem, um companheiro que traz vida ao leitor e lhe conta várias pequenas histórias que tanto podem se de desesperança como de deslumbramento. Todos vivemos sobre sonhos que desejamos almejar. Por vezes o caminho é simples, outras vezes leva-nos a destinos improváveis onde nos cruzamos com pessoas inesquecíveis. E é neste preâmbulo que se baseia a o belíssimo livro A Última Dança de Charlot. Adorei.