À conversa com Inês Magalhães sobre a 2ª Edição do Magafest

É já no próximo fim-de-semana que decorre a 2ª edição do Magafest, evento anual resultante das MagaSessions organizadas pela Inês Magalhães na sua própria casa. São vários os Domingos por ano em que muitos talentos nacionais, por vezes ainda pouco falados, dão a conhecer a sua música. À semelhança do que fiz o ano passado, estive à conversa com a Inês e com alguns dos artistas presentes no cartaz deste ano. Em tom de balanço do primeiro Magafest, do impacto que teve nas MagaSessions e quais os próximos artistas, fiquem com a nossa conversa n’A Vizinha, um bar bem simpático na Bica. 


Fotografia para Eugénio Ribeiro

Depois da conversa feita o ano passado, com a introdução ao conceito e à motivação das MagaSessions, comecei por perguntar à Inês qual o balanço da primeira edição do Magafest.

Já me perguntaram “Então? O que mudou em relação ao ano passado?” e eu respondo “Felizmente, pouco”. Porque no ano passado correu muito bem e foi um sucesso tanto da parte dos músicos como da minha. Depois de ter falado com eles o feedback foi muito bom. As experiências das MagaSessions continuaram na Casa Independente e eu, apesar de ser uma casa e de ser tudo muito parecido, tinha medo que se perdesse a proximidade e o à vontade que existe nelas, mas não aconteceu. O dia com os músicos, toda a parte, as montagens e os sound checks, correu muito bem. E não sei se chegaste a saber, mas naquele dia caiu uma carga de água tropical e eu tinha concertos agendados para o terraço. No dia antes, comprei uma lona, fui até Almada… Pá, trinta por uma linha, estive a montar a lona por cima da videira que eles têm com um amigo meu… Ficou impecável, mas houve só uma parte da lona que não ficou bem esticada. Bom, essa parte, quando começa a chover, foi tipo à filme. Começa a chover torrencialmente, os amplificadores todos por baixo, e a criar uma bolsa de água, mas uma bolsa de água para aí com 500 kg imagino, e a videira está presa por aqueles cabos de aço, mesmo à filme. Começámos a ouvir os cabos tipo “peum-peum-peum” a despegarem-se da parede, toda a gente em pânico… isto a uma hora para começar o festival. 

E como é que se lida com uma situação assim?

Eu em automático, as minhas emoções tinham que estar off, porque senão vou para um quarto escuro, sento-me e choro (risos). Então, tiramos tudo, ficou foi o palco principal, como não tinha o bar na Casa Independente, pusemos no outro lado e foi fixe porque deu para continuar com os músicos ao mesmo nível das pessoas, sem os músicos estarem no palco, portanto, isso foi fixe. Tirámos tudo… Bem, quando cortámos a bolsa… juro, estiveram dois minutos a cair água, só para tu veres o peso e a quantidade de água. 

Como tem sido a preparação deste Magafest? 

Este ano, felizmente, pouco mudou – a parte da organização e da forma como faço o festival e a razão pela qual faço o festival – mas na produção as coisas estão bem mais suaves. Porque já fiz um, porque já tenho os contactos, já tenho imensas coisas feitas agora que, como não tenho uma equipa, já estão precavidas. Por exemplo, a parte toda do design que é uma coisa que as pessoas estão a pedir “Agora precisamos de um banner! Agora precisamos do cartaz! Agora para o passatempo não-sei-quê!” Mesmo no site, sou eu que estou a tratar do site. Este ano já tinha uma check list… “OK, ainda há tempo… Não faz mal… Faço já!” Então, fiz uma data de coisas antes, portanto, este ano, tudo muito mais suave, mas a qualidade e a sinceridade com que o projecto é feito mantém-se. Acho que isso é o mais importante.

No ano passado o concerto começava às 15h, mas este ano vai começar às 18h, mas o número de artistas é mais ou menos o mesmo. Qual é a grande mudança aí pelo meio?

No ano passado, havia uma hora e tal de intervalo que era para as pessoas jantarem e não sei quê. Este ano, não há intervalo nenhum, é tudo seguido. Felizmente, no ano passado, fiz com uma hora de intervalo, porque com esta coisa das lonas, dos sound checks e o não sei quê, acabou por não haver intervalo nenhum e foi tudo seguido. Portanto, este ano também não pode chover! Nenhum concerto coincide de propósito, para caso haja algum problema, as coisas correrem exactamente da mesma forma, só que em vez de ser no terraço, acontecem todas no palco ou, como no ano passado, o concerto do João Lobo na bateria aconteceu na cozinha deles e foi incrível. Como foi cedo, eram 16h, salvo erro, ainda estava pouca gente, como deves calcular – aquilo é um espaço que não dá para mais de 100 pessoas… Mesmo assim, como ainda não estava muita gente, deu para toda a gente ver… e, pronto, é uma experiência como acontece lá em casa. Por isso, este ano, espero que o terraço aconteça, espero mesmo, porque tenho visto que vai estar um sol abrasador. Falei com o São Pedro, claro! A ver se me dá uma ajuda! Se ele quer que dia 6 chova, tudo bem, mas que me reserve o dia 5. Mas a ideia é começarem os concertos no terraço, que é quando está menos gente, e começarem às 18h porque uma coisa é estares em Paredes de Coura ou num festival que estás ao ar livre e sentes menos que estás num espaço fechado e onde tens mais espaço para vaguear – apesar das pessoas terem pulseiras e poderem sair, ir a casa e voltar, se não lhes apetecer ouvir aquela banda ou não gastar dinheiro e então vão comer noutro lado – outra coisa é estares com grandes intervalos ali dentro. A ideia é dois concertos acontecem lá fora e depois começam lá dentro. Ainda há um que é Garcia da Selva que é um som mais ambiente, e é o último lá fora, depois são todos lá dentro no palco até porque conto que a casa esteja bastante cheia e não há espaço para estar a ocupar o terraço. Mas são estas as grandes diferenças porque o importante no MagaFest é perceber que o festival não começou festival, começou por aquelas sessões e o festival acontece como uma celebração de elogio à música, ponto. Portanto, o que realmente interessa são as MagaSessions que é um trabalho que acontece quase diariamente durante o ano todo. Nisso mantém-se o mesmo do ano passado.


Tal como no passado, tens no cartaz nomes que não foram às MagaSessions. Fala-nos dessas escolhas.

Sim, tenho. Jibóia não foi, mas esteve no ano passado em Noz ao quadrado no MagaFest. Mas dizes muito bem, Lula Pena não foi, Filho da Mãe não foi… Lula Pena já conheço há alguns anos, já foi a várias MagaSessions e já havia à vontade. O ano passado eu já lhe tinha proposto e ela disse “Sim, sim. Quero muito ir.” Depois acaba por não poder, as nossas datas de disponibilidade não coincidiram e não deu. Fiquei com essa pedra no sapato e tipo “Não, isto tem que acontecer!” Este ano, quando propus à Lula foi óptimo “Claro que sim! Claro que vou! Adoro o projecto! Adoro a ideia! Conta comigo!” A única pessoa que, realmente, não conheço, porque os outros conheço até de amizade ou de estar,  é o Filho da Mãe. Eu não tinha contacto antes, mas ele é amigo do Norberto, é amigo de várias pessoas que estão à volta e é muito chegado à Casa Independente. Por isso, já conhecia as MagaSessions, já conhecia o projecto e quando lhe propus o projecto também foi “Claro que sim! Quero muito!” e até porque com o budget que eu tenho para os músicos, ou eles percebem o projecto e o contexto e de onde é que veio o MagaFest ou então é “Tu só podes estar a brincar comigo!” Até porque não dá ainda. Apesar de não ser para fazer dinheiro com o festival e, por isso, se eu pudesse dar mais aos músicos, dava, mas não podendo, também eles aceitam sabendo perfeitamente de onde é que vem o projecto, onde o trabalho está o ano todo e, por isso, depois quando acontece o festival, até os músicos que não foram às MagaSessions ou que não conhecia tão bem como o Filho da Mãe, conhecendo o projecto aceitam ir.

Em relação às MagaSessions, achas que desde que aconteceu o MagaFest, houve mais adesão? Houve alguma diferença?

O primeiro concerto a seguir ao MagaFest, no ano passado, foi a Selma Uamusse, tenho quase a certeza que foram para aí 250 pessoas. Claro que em casa entraram 80 ou 90 e depois as outras, infelizmente, tens de dizer “Está esgotado. Não pode ser.” E já não sou eu, já é outra pessoa. Entretanto, já tenho uma pessoa para a entrada, já tenho uma pessoa para o bar… Mas agora o que acontece é isso está “Esgotado!” e as pessoas, mesmo assim, vêm aquilo e não querem saber. Sobem e dizem “Vá lá… Deixa-me entrar…” Portanto, para as MagaSessions pouco mudou, mas o que acontece é que realmente há mais pessoas a saberem das MagaSessions. Ainda assim, muita gente que foi ao MagaFest não faz mínima ideia das MagaSessions e é algo que me põe um pouco triste. Este ano, tanto no press release ou mesmo no cartaz, fiz questão colocar MagaSessions para ver se as pessoas associam… Porque festivais, toda a gente é capaz de fazer um festival e os festivais acontecem. Tens dinheiro, fazes um festival, chamas aquelas pessoas e tudo acontece. As MagaSessions é um projecto mais social e eu acho que é isso… As MagaFest são uma celebração. Não sabendo das MagaSessions, fica um pouco de vazio todo aquele dia.

Fotografia Vera Marmelo

E é engraçado porque muitos projectos que apresentas nas MagaSessions acabam por ter mais visibilidade com o Magafest. Aliás, muitos projectos, se procurarmos por eles, o material encontrado é quase todo das MagaSessions…

Sim, se pesquisarem um pouco… Bom… Mas tu também estás muito dentro do meio e és uma pessoa bastante curiosa. Fazes… bom… não digo trabalho, mas tens essa curiosidade inata em ti, mas a maior parte das pessoas não o faz. Felizmente o arquivo VIMEO das MagaSessions está a crescer e a verdade é que é engraçado. Eu ponho um nome de um artista qualquer na internet que já foi e “Oh!” e aparece lá as MagaSessions.

Imagina agora que as MagaSessions continuam a crescer e a chamar mais gente. Se já tens a casa lotada, como é que vais fazer?

A capacidade não pode crescer, não é? Porque a casa tem algum espaço, mas não amplia. Eu acho que apesar das pessoas passarem a ter conhecimento das MagaSessions através do MagaFest, a verdade é que as pessoas que se propõem a ir a casa de alguém para ver um concerto também não são todas e acaba por ser um público muito especial. Eu acho que a coisa acaba por ter um balanço próprio, um equilíbrio que é entre a vontade de ver concertos e as pessoas que se propõem a ver um concerto num sítio diferente, a um Domingo… Enquanto houver esse equilíbrio, as coisas continuam na mesma, porque a minha ideia é continuar sempre na mesma. Se as pessoas querem mesmo ver, cheguem mais cedo.

Há algum nome que queiras anunciar para a próxima MagaSession depois do Magafest?

Já tenho agenda até Janeiro, mas não te posso dizer muito. A próxima vai ser a 11 de Outubro – Zorra. Já ouviste?

Ainda não.

É super fixe, mas vê primeiro ao vivo. O Simão foi dar um concerto ao Sabotage e fazia a primeira parte de Zorra e o Simão já me tinha dito “Ah, este CD! Ouve! Curti bué!” e eu ouvi e achei que era um pouco repetitivo. Mas como ia ver o Simão, vi Zorra e acabei a adorar. A verdade é que na dinâmica em estúdio os músicos também tentam fazer tudo certinho, que quando estejam a tocar que esteja tudo a tempo e certinho, o que perde um bocado o brilho do improviso e da naturalidade. No caso deles a diferença é notória e ao vivo supera em muito o disco. Tu vais a um concerto e vês que é realmente bom. É uma sonoridade paisagística quase. É muito bom.

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MAGAFEST 2015 ▲▼◆ from MAGASESSIONS on Vimeo.

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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