“A música crescia e morria pela casa, como alguma coisa que nascesse e, ao mesmo tempo, não existisse, como água. Entrei na sala e sentei-me. Todo o meu corpo. Primeiro, o reflexo de alguma coisa dentro de mim: o brilho. Depois, o olhar grande dela. A palavra: amor. A voz dela a ressoar como um sino de vento: amor. Acordei devagar. A música era o espaço da sua ausência. O silêncio a nascer sem existir. O dia era verdadeiro. Na janela, atrás da chuva, a montanha grande, imensa como uma vida enorme de terra.”
Uma Casa na Escuridão, José Luís Peixoto