Faz hoje um ano que os Imploding Stars voltaram aos discos com A Mountain & a Tree. Começaram há alguns anos, lançaram um primeiro EP mais progressivo, mudaram de elementos, mas a essência do post-rock sobreviveu e tomou forma num novo trabalho da banda. Já os entrevistei há alguns meses, mas não podia adiar mais, principalmente quando tenho sido da opinião que é uma banda que merece crescer e ser valorizada pelos seus pares. Só posso esperar que continuem e que venham mais discos.
Como é que surgem os Imploding Stars em Guimarães? O que é que vos uniu?
Ao início não éramos estes cinco, mas começando pelo início, nós sempre tivemos um gosto muito grande pelo Post-rock, sempre fomos assiduos ouvintes de todas as bandas e há uns anos atrás decidimos fazer uma banda de Post-rock. Lá fomos começando, sem saber muito bem o que estávamos a fazer, e depois as coisas foram crescendo. Lançámos o primeiro EP, que não é bem este tipo de Post-rock que estamos a tocar agora, mas que continua a ser Post-rock na mesma, se calhar um bocadinho mais progressivo, e depois a banda foi sofrendo algumas alterações em termos de formação. Estes cinco que estamos agora, para nós foi um fechar de ciclo. Estas pessoas são agora os Imploding Stars e quando chegámos a este Post-rock – que é o Post-rock que todos nós adoramos, esta cena mais melódica, mais sensorial – decidimos lançar um disco. Foi mais ou menos assim que a banda foi crescendo e chegando a este Post-rock, porque gostamos e decidimos fazer o que gostamos. E tivemos sorte de apanhar esta altura em que, se calhar, este tipo de música está a emergir. Começam a aparecer mais bandas de post-rock para eventos para massas.
Antes de avançar, e por curiosidade, o vosso nome Imploding Stars fez-me associar-vos aos Explosions in the Sky, mas num reverso que foi quase como virar o nome do avesso. Explosions/imploding, sky/stars…
Também já pensamos nisso, por isso, não foi uma associação assim tão má. (risos) Não foi o motivo, aliás, nem sei qual foi o motivo porque escolhemos este nome, mas também é uma banda que temos em grande consideração, todos nós gostamos muito dos Explosions in the Sky. Depois de escolhermos é que nos apercebemos que havia aqui quase que uma brincadeira. Nós fomos pensando em vários nomes e acabámos por decidir que este era um que tinha a ver com a cena de Post-rock. Imploding Stars, estrelas a implodirem no céu, cenas a acontecerem e, pronto, foi assim que ficou. Foi por “exclusão de partes”. Não é que este fosse o pior ou o melhor. Tínhamos vários, sinceramente já não me lembro de nenhum deles, este foi o que toda a gente gostou e acabou por ficar.
O que é que vos fez sair da onda progressiva inicial do EP para este Post-rock mais “purista” de A Mountain and a Tree?
Sempre gostámos muito deste Post-rock mais purista, mas, na altura, tivemos um produtor a puxar um bocadinho a cena, que até fomos acabando por gostar, e tentámos fazer uma cena mais abrangente. E pronto, esse disco não é mau, nós gostámos do disco na altura, mas, se calhar agora… Chegámos a pensar incluir uma música do disco antigo neste novo set, mas depois estivemos a tocá-la junto com o set e não se enquadra tão bem. Não é que não gostemos e que já não seja a nossa cena, mas foi assim um bocado também por influência na ajuda da produção. Este disco foi só produzido por nós, fomos nós que fizemos tudo, está mais nosso, digamos assim. Acabámos por sair daquele registo e voltar à cena que gostamos mesmo.
O primeiro disco/EP de uma banda pode não ser de todo definitivo no que à sonoridade diz respeito. Às vezes os segundos discos até são bem diferentes…
Sim, ainda estava tudo muito no início, também três dos membros eram diferentes, tínhamos um produtor… Nós gostámos imenso daquele disco, não foi sequer por causa do produtor que o fizemos, foi porque gostámos. É verdade que ele teve uma grande influência, e é um grande amigo nosso, foi ele que gravou o disco, produziu o disco, masterizou também… Desta vez, tínhamos não só novos membros como também fizemos nós a produção toda, fizemos as pré-gravações e fomos só ao estúdio gravar o que já tínhamos feito.
Desse EP resultaram vários concertos, até fora do país.
Sim, essas tours foram todas apresentações do primeiro EP. Agora estamos a pensar por onde nos mandar. Mas um dos objetivos é voltar a ir para fora, porque lá fora, se calhar, ainda soa um bocadinho melhor.
Antes de focarmos no vosso novo disco como “a vossa cara”, na vossa óptica sentiram dificuldades ou resistência na aceitação com o vosso primeiro EP?
Nós há dois anos andámos a apresentar o primeiro EP, tocávamos principalmente em sítios mais pequenos, em bares mais pequenos, em sítios não tão metrópoles. Também acontecia nas cidades grandes, mas nos sítios mais pequenos acontecia sempre “Ai, então a banda não tem voz? Mas porquê? Estranho… Porque é que vocês não têm voz? Porque é que não põem ninguém a cantar? A cena até é fixe!”. De lá até aqui, agora já se consegue tocar Post-rock a todo lado e raramente levar com essas bocas. Podem não gostar, não perceber o porquê, mas começam a entender porque se faz música assim dessa forma e já não são tão retraídas, já não se ouve “Ah mas porquê? Não vou ouvir isto porque nem sequer tem voz!”. Também começam a haver mais bandas instrumentais em festivais e o pessoal começa a aceitar mais… Agora vais tocar a algum sítio e o pessoal já sabe o que é e já gosta. Há pessoas que ficam muito emocionadas, mesmo nunca tendo visto uma banda instrumental portuguesa, e dizem “Isto é espectacular!”. Já apanhámos cenas assim do género. Mas pronto, estamos a caminhar no bom sentido e isso é excelente.
Vocês assumiram este último disco – A Mountain and a Tree – como um disco conceptual. Falem-nos um pouco sobre a sua história.
Se formos a falar em traços gerais e, se calhar, o que significa para nós o fio condutor… Aquilo é uma espécie de um memorando à relação homem-natureza, porque nós sabemos que a natureza é bonita, é excelente, faz coisas incríveis por nós, mas temos aquela tendência para a estragar, sempre a destruir. O nosso vídeo clip é um bocadinho dessa história que aparecem várias partes de vários sítio. Muitas delas são do Gerês, que é uma reserva natural incrível, e depois, a partir daí, entram os 3Ds em que temos o planeta a explodir e umas cenas a saírem do planeta. É um bocado essa a ideia que queremos passar dessa relação e do porque é que nós estragamos, porque é que não fazemos de uma maneira diferente… É um bocadinho isso. Mas até pelos ciclos das músicas, vai-se percebendo isso na Awaken Forest, Across Distant Seas, etc., existe esse ligar a natureza ao homem e vamos levando a história por aí fora. Depois também deixamos um bocadinho em aberto a interpretação de cada pessoa. Existe esta mensagem base, mas depois a pessoa ouve e também pensa por si.
É regra para vocês que o disco tem que ser ouvido sequencialmente?
Sim, assumidíssimo! Fazemos sempre questão de frisar esse ponto. Até o nome das músicas é uma espécie de uma viagem, inclusive pelos elementos. A última, a Beneath This Tired Ground, este chão cansado, é o culminar da cena toda. Aliás, posso dizer que temos dois temas que estão partidos ao meio porque fazem sentido separados. Se calhar, para as pessoas que vão ouvir, não vão notar grande diferença, mas para nós, como banda, é uma música só, até porque ao vivo tocamos aquilo como se fosse uma música só. Ou seja, quatro temas no disco, são dois temas ao vivo. Nós decidimos parti-los assim numa espécie de brincadeira. À parte disso, as músicas estão todas ligadas.
Daí o facto de terem duas ou três músicas mais longas, entre os 9 e os 12 minutos, e depois outras bem mais curtas?
Essas pequeninas são as que estão coladas. Se formos a colá-las uma vai para 8 e a outra vai para 11. Nós decidimos fazer essa brincadeira e tem resultado bem. O pessoal fica todo curioso e acho que foi uma boa ideia.
Como é que surgiu o processo de composição deste álbum?
Nós juntamo-nos todos e compomos à frente do computador. Também fazemos aquelas ditas jams e apanhámos aí uma ideia ou outra, mas o trabalho é sempre em casa e pensado no que é que pode ficar bem aqui… Experimentam-se várias coisas, grava-se, depois apaga-se, volta a ficar bem, volta-se a colar, pega-se um bocadinho daqui e dali… É feito dessa forma. Assim uma coisa muito pensada para conseguir ir buscar detalhes. Compomos mais ou menos assim.
E a parte conceptual, como é que surge?
Sendo o mais sincero possível (risos), isso não foi uma ideia desde o início. Fomos fazendo… As coisas à volta disso foram-se desenrolando e fomos criando o conceito a partir daí. Foi tudo surgindo naturalmente. O conceito não foi pensado, nem vamos fazer música para representar isto. Fizemos e sentimos que aquilo dava para fazer um álbum conceptual à volta desse tema. Sentimos que aquilo passava de uma maneira forte essa mensagem. Depois começámos a dar os títulos às músicas e a descrevê-las. Nós fizemos um faixa a faixa para a Arte-Factos em que está tudo descrito, tudo o que nós queremos dizer com cada faixa, se alguém tiver a curiosidade de ir lá ver. Depois vimos que este conceito estava perfeito e chegámos lá sem sequer pensar nisso.
O artwork foi feito por quem?
Por um amigo nosso que é o Rafael Lamas.
Foram vocês que pediram o desing ou foi ele que interpretou o disco à sua maneira?
Ele conhece-nos bem, é um amigo pessoal nosso. É designer e trabalha nessa área e nós demos-lhe total liberdade… “Rafa, precisamos de uma capa, já ouviste o disco, já foste ver ensaios e já estás farto de ver a concertos, conheces-nos, faz uma capa para este disco.” Ele ouviu tudo e fez aquilo. Aquilo é exactamente a primeira cena que ele mandou e a primeira cena que ele fez, não chegou a ter muitas opções. Eu estava com ele no café e ele “Olha lá isto, comecei a montar e que tal?”. Eu e o Hélder, o baterista, estávamos com ele a tomar café e nós “Está perfeito! Não mexas mais!” Ele começou a trabalhar à volta daquilo. Deu tratamento de cor e tratou tanto da parte exterior como interior do disco.
1 Ano de A Mountain & a Tree |
Em termos de comunicação e de chegar aos media tradicionais do meio, como é que está a ser o processo com este novo disco?
Desde o último para agora está a ser muito mais fácil agora. Era quase impensável passar na rádio. Na altura chegámos a passar na Vodafone FM no programa do Tó Trips e chegámos a passar numa universitária ou outra, mas muito pouquinho em relação a este. Este está a ter uma aceitação muito maior, estamos a conseguir chegar a mais coisas, também temos alguma ajuda por trás que é sempre uma ferramenta incrível e indispensável, se queremos explorar esses tais meios de comunicação. Já conseguimos ir à televisão, já fomos ao Jornal da Noite da RTP, que nunca pensámos que fosse possível numa banda instrumental, fomos à SIC Notícias, temos conseguido ir a algumas rádios marcar algumas entrevistas também. Estamos a sentir uma aceitação maior. Pode ser daquilo que falamos há bocado, das pessoas estarem mais receptivas, pode ser de termos uma ajuda maior por trás… Se calhar uma banda só com o primeiro EP, as pessoas não dão tanto crédito. O pessoal quer é saber o que vem a seguir. O álbum é mais ou menos o atingir a maturidade da banda… Mas que está a ser melhor, está, sem dúvida, e mais fácil também.
Voltando um pouco atrás, as experiências lá fora, como é que foram?
Foram excelentes. Foi tudo incrível. Funciona tudo da mesma forma que em Portugal, só que as pessoas são muito mais calorosas a receberem. Também por sermos a banda que vem de fora, fomos sempre super bem recebidos, conhecemos imensa gente, ficámos em casa de muitas pessoas, foi brutal.
Agora com este disco, a intenção é voltar para fora?
Sim, sem dúvida. Estamos a tentar tratar disso, para o mesmo sítio também e noutros sítios quiçá… Queremos divulgar a cada vez mais pessoas e ir lá fora para todos os sítios. Na nossa página, nas estatísticas, por aí 25%-30% são gostos fora de Portugal, o que é muito fixe. Mas também temos muitos locais em Portugal nos quais ainda não tocámos e a que gostaríamos de ir tocar. Quem não quer tocar num Coliseu? Vamos ver o que se segue.
https://www.facebook.com/ImplodingStars/
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