Nesta correria que têm sido os meus dias, sei que tenho deixado escapar muita coisa boa. Embora não seja fã de conversas por escrito, sei que de outra maneira, neste momento, não seria possível, e por isso decidir ceder e abrir excepção aqui para o Tito Pires, ultimamente mais conhecido como Electric Man. O seu disco homónimo já está cá fora (têm ligação para ele no final da entrevista) e as apresentações já começaram. A próxima é em Lisboa e já amanhã! Fiquem então a saber mais um bocadinho sobre o Tito e o seu trabalho com Electric Man!
Olá Tito! Conta-nos, quem eras tu ainda antes dos Gessicatrip?
Olá! Antes dos Gessicatrip… era um jovem brigantino acabado de sair da faculdade, prestes a abandonar o Porto, cidade onde estudei, para trabalhar em Lisboa e começar tudo de novo.
A música sempre fez parte da tua vida?
Bem, eu acredito que sim. No entanto, foi por volta dos 13/14 anos que essa paixão começou a ganhar forma. Foi nessa altura que comecei a aprender a tocar guitarra e tentei, desde logo, formar a minha primeira banda.
Electric Man surge na consequência de ser difícil manter os Gessicatrip activos, já que a formação foi mudando só contigo como constante. Foi difícil tomar a decisão de avançar sozinho para um projecto one-man-band?
Não. Foi, na verdade, algo super natural. Os Gessicatrip representam um período de aprendizagem muito intenso. Batemos muitas vezes com a cabeça na parede para aprender pequenas coisas. Sei que sou suspeito, mas penso verdadeiramente que deixámos uma obra interessante que ficou por descobrir. Apesar da aprendizagem tento preservar ainda uma certa inocência… principalmente na composição. Acho que é daí que salta a nossa identidade e isso… é fundamental!
Do português passaste para o inglês como língua escolhida para cantares. Alguma razão em especial?
Fiz diversas experiências ao longo de um ano. Na música privilegio sempre a sonoridade e… o que estava a fazer soou-me melhor assim, em inglês. Apenas isso.
Mesmo sendo um projecto one-man-band é certo que as tuas músicas têm bastante riqueza sonora. Como é que depois reproduzes tudo ao vivo? Estás a pensar em, eventualmente, ter mais gente a acompanhar-te nos concertos?
Este projecto foi pensado neste formato desde o início. Na fase de composição e gravação conhecia esse “limite” que acabou apenas por puxar mais pela minha criatividade. Mas sabia que tudo o que estava a fazer seria possível reproduzir ao vivo. No palco desdobro-me entre guitarra e uma série de efeitos, sintetizador, theremin e voz. Tudo isto com um loop… faz com que as coisas aconteçam.
Nesta fase estou, por isso, a pensar manter tudo neste formato. Tenho, no entanto, ainda o Pedro Carruna a trabalhar comigo, como VJ. Se futuramente juntar mais gente no palco… quererá dizer que há cachet para músicos profissionais. Não posso, nesta altura, ficar dependente da boa vontade e entusiasmo fugaz de músicos amigos.
Não se torna por vezes solitário fazer tudo sozinho? Principalmente quando já se esteve em bandas… Ou acabas por conseguir explorar coisas que de outra maneira não conseguirias?
Solitário é, sem dúvida. Tive até algum receio de seguir desta forma. Eu… sempre quis ter uma banda. Cheguei a este projecto porque tive a necessidade de me tornar independente para continuar a fazer música, mas tenho-me sentido muito bem nesta nova pele e acredito que este é o meu verdadeiro caminho.
E explica-nos, o que é que afinal é isto do electro-rock?
Não sei bem. Penso que é apenas um rótulo para tentar explicar de forma sucinta aquilo que faço. Talvez não seja uma descrição perfeita ou completa, mas é o melhor rótulo que consigo arranjar.
Na parte lírica, o que é que pretendes explorar? Existe algum tipo de estética específica, conjugando sonoridade/lirismo/imagem, que queiras ter como impressão digital de Electric Man?
Não tenho um conceito ou um tema que me guie. Deixo-me levar pela música e pela sonoridade de palavras que me vão saindo na criação da melodia. Mas acho que há uma estética, talvez algo “dark”, herdada de sons mais pesados que me acompanharam na adolescência, e também por influência de bandas como She Wants Revenge, Depeche Mode, Bauhaus… entre muitas outras. É curioso como no final tudo se encaixa e ganha forma.
Como está a ser a recepção ao projecto? Sentes que é fácil ou difícil furar o mercado musical português?
Está a ser surpreendentemente boa. Dizem-me que fiz um grande disco e eu acredito! (risos)
Na verdade, como fui também o produtor, ouvi aquilo tantas vezes que nem tinha bem noção do que ali estava quando pus o disco cá fora. Por isso… sabe muito bem ouvir isso.
Fácil nunca foi… É incrivelmente difícil até. Confesso que tenho uma ligação quase obsessiva pela música. Acho mesmo que estou na música porque não consigo fugir dela e, dessa forma, a dificuldade pouco importa.
O que é que mais desejas para este teu projecto?
Desejo tocar muito ao vivo em diferentes salas e, sobretudo, em festivais que é onde sinto que tudo isto fará mais sentido.
CONCERTO DE APRESENTAÇÃO – LISBOA
26 DE NOVEMBRO – SABOTAGE – 23H
ACTUAÇÃO MUVI LISBOA (Cinema São Jorge)
5 DE DEZEMBRO
https://www.facebook.com/electricmanmusic/
BANDCAMP
https://electricman.bandcamp.com
Mais sobre Electric Man:
Electric Man é Tito Pires, fundador, vocalista e guitarrista dos Gessicatrip, e é também o nome do seu álbum de estreia, composto e tocado integralmente por si, fazendo jus à expressão one man band.
Os Gessicatrip surgiram em 2009 como um projecto livre, sem regras na criação de novas músicas. Ao longo dos 5 anos de actividade, foram vários os músicos que enriqueceram o som da banda e permitiram a estadia de Gessicatrip em palco, entre convidados e residentes, sendo Tito Pires a única constante.
A dificuldade em manter o grupo no activo reforçou a ideia de criar algo sozinho, permanecendo a liberdade de criação que Tito Pires sempre cultivou.
Ao longo de um ano, Tito Pires foi realizando diversas experiências sonoras que fervilharam em imensas ideias. No final, tudo se materializou em Electric Man. O nome é proveniente da uma música dos Gessicatrip e, além de evidenciar o formato, transmite também a ideia de continuidade/ passagem que não esquece o passado recente.
Entre batidas electrónicas, guitarras em loop num jogo criativo de efeitos, sintetizador, devaneios de theremin e voz, nasce um “electro rock”, em muitos momentos dançável. A forma mantém-se livre e sem regras, resultando num som com identidade.