Contos de cães e maus lobos
Valter Hugo Mãe
Editora: Porto Editora
Sinopse: Esta obra, prefaciada por Mia Couto, é composta por 11 contos, ilustrados por trabalhos de artistas como Graça Morais, Joana Vasconcelos ou José Rodrigues. Ilustram estes Contos de cães e maus lobos os artistas Ana Aragão, Cadão Volpato, Daniela Nunes, David de la Mano, Duarte Vitória, Filipe Rodrigues, Graça Morais, JAS, Joana Vasconcelos com Alice Vasconcelos, José Rodrigues, Luís Silveirinha, Nino Cais e Paulo Damião. Recentemente, através da chancela digital do Grupo Porto Editora, a Coolbooks, um dos contos que integram este novo livro foi publicado em formato ebook, com 6 ilustrações de Paulo Damião.
Opinião: Não sou uma especialista nas obras de Valter Hugo Mãe, pelo contrário, transporto comigo a vergonha de ter lido pouco mais do que A Desumanização e algumas das suas crónicas. Tive foi o privilégio de o conhecer há pouco mais de um ano e de o entrevistar. Não será demais dizer que sou hoje uma pessoa mais rica depois de o ter ouvido e ainda mais depois de ter lido esta pequena pérola que é este livro de contos. Sem bajulações ou qualquer tipo de elogios fáceis, digo-vos isto porque sou mesmo da opinião que estamos perante um escritor que tem a capacidade de transformar o feio no belo, o triste no belo, as coisas banais e pragmáticas em obras que independentemente das emoções que transmitem são belas à sua maneira.
Contos de cães e maus lobos transportam-nos para vários imaginários onde tudo toma uma profundidade digna de reflexão e de um despertar urgente. São 11 contos com 11 ilustrações cujo trabalho deve ser admirado, e que ilustram de forma particular cada um dos contos. Nas linhas que seguem cada ilustração que puxa à imaginação, deixamo-nos ser engolidos e conquistados. A escrita é simples, os cenários são simples, mas o reboliço no meu coração ao longo de grande parte das páginas foi tudo menos simples. Acho que é importante esta capacidade de através das palavras fazer pulsar mais forte os corações de quem as lê. Talvez pelo que tem sido a minha vida desde há um ano, os contos O Menino de Água e As mais belas coisas do mundo me tenham tocado particularmente. No primeiro são apenas duas páginas e meia e, no entanto, senti que o mundo todo cabia e era sugado nelas. O segundo é um pouco maior, mas também o percurso vai sendo através de uma sensação de procura e descoberta. Não há nada como o sentimento de perda para nos unir profundamente a emoções que por vezes não compreendemos.
Há também que enaltecer o prefácio de Mia Couto, e penso que vale a pena frisar uma passagem com a qual me identifiquei desde logo: “Há na escrita de Valter Hugo Mãe algo que nos desconcerta e nos fragiliza.” Estou tentada a adicionar que no fim também nos deixa mais fortes, mais capazes, com mais esperança na mudança. Os 11 contos são tão diferentes uns dos outros e ainda assim tão parecidos na candura que carregam com eles. Sabem porque é que já reli e hei-de reler novamente estes contos? Porque me fazem sentir menos sozinha, porque encontro reconciliação e até regeneração do meu espírito naquelas linhas. Se isto não quer dizer que estamos perante uma obra de arte única, não sei o que quer dizer. Acredito na capacidade redentora da escrita. Tanto para quem escreve como para quem lê.
Estamos perante um livro intemporal que serve tanto para crianças como para adultos. Só posso agradecer ao Valter Hugo Mãe por todo o amor e carinho que emprega na sua escrita, pelo modo como encara a vida e tão sinceramente se expressa sobre a mesma. E termino com a última frase de As mais belas coisas do mundo: “Quero sempre inventar a vida.”.