[Balanço] Os Melhores Discos de 2015

Se 2015 foi um excelente ano em termos de Literatura Portuguesa, como podem constatar nas Melhores Leituras de 2015, a Música portuguesa não ficou minimamente atrás. Aliás, nos meus melhores discos de 2015 só vão aparecer discos portugueses, não podia ser de outra maneira já que na verdade pouco ouvi de discos estrangeiros. Claro que saiu o novo de Florence + The Machine e ainda houve o disco de Sufjan Stevens, entre tantos outros, mas a verdade é que o que ouvi este ano foi mesmo maioritariamente português. Em quase todos os meses houve discos novos e bons discos. É deles que vou então falar aqui. A ordem que vão ser apresentados, tal como nos livros não é muito relevante, mas existe uma tríade que merece ser destacada.

Vocês devem estar a pensar que sou maluca ao colocar no mesmo patamar estes três discos, mas na verdade para mim não fazia sentido de outra maneira. Os primeiros dois saíram no mesmo dia do ano, 9 de Março, para não mais saírem das minhas playlists – falo de Thunder & Co e MAHOGANY. Já o disco de André Barros, num género que me parece menos ouvido e apreciado, foi editado a 18 de Maio e tocou-me como poucos o conseguirem fazer.

Continuando, não é à toa que os Thunder & Co. são convidados de honra na festa de aniversário do blogue no Musicbox Lisboa. O seu disco, Nociceptor, foi um marco em 2015 não só pela música como por todo o trabalho visual e principalmente por se manter um projecto fiel a si mesmo, com consistência e maturidade. Foi outro disco que passou no meu carro vezes sem conta, as letras na ponta da língua, a N.I.K. a fazer “os seus estragos” bons (é a minha preferida do disco) e ao vivo a dança é certa. Eles dizem que é um disco lamechas e é um bocadinho, mas é um lamechas dançante bem bom! Vale muito a pena vê-los ao vivo e por isso lá vos esperamos dia 15 de Janeiro!

Também nesse dia vamos ter, num estilo completamente diferente, MAHOGANY. É uma pena não haver a edição física deste disco, mas é outro que me enterneceu desde a primeira audição. É um disco simples, sincero, com um trabalho de samples muito bem conseguido e cuja estética também ajuda a que sejamos transportados para outros cenários. Existe um certo calor e conforto na voz do Duarte Ferreira e nas histórias que nos parece contar. Não sei como é que este disco tem passado ao lado de tanta gente. Claro que cada um tem os seus gostos, mas penso que não será demais dizer que provavelmente é o disco mais subvalorizado do ano. Espero que dia 15 um pouco disso seja remediado!

Concluindo a tríade, o disco do André Barros, Soundtrack Vol.1, foi dos discos que mais mexeu comigo, de sempre. Sempre fui sensível às composições em piano, e não sei se é por estas músicas estarem também contextualizadas em certos filmes ou circunstâncias, mas arrepiei-me sempre que as ouvi e tornaram-se numa espécie de companheiras sempre que o meu estado de espírito atravessa fases mais frágeis. É bom quando encontramos reconhecimento e conforto em melodias que nem precisam de voz para expressarem as nossas emoções. Tenho de destacar a música Gambiarras, com o poema sublime de Valter Hugo Mãe. Se isto não é uma obra de arte lindíssima, não sei o que é. 2015 não foi um ano nada fácil, mas sem dúvida que a música ajudou a torná-lo um lugar menos escuro.

Concluindo, estes três discos foram dos que mais trabalhei aqui no blogue. Houve opiniões, Queres é (a) Letra! e uma cobertura do percurso mais atenta, sempre que possível. 

Seguem-se duas bandas que acompanho praticamente desde que surgiram e que, finalmente, em 2015 viram os seus primeiros discos a serem editados. Les Crazy Coconuts e Few Fingers são dois projectos de Leiria, que transpira música e que tem sido com muito gosto que tenho acompanhado e ajudado no que posso, e reflectem a diversidade, originalidade e qualidade do que se faz por lá. Os primeiros, no seu roch, shoegaze, sapateado, pop e electrónica, trazem-nos um disco a homenagear os programas de rádio e os mentores do sapateado. Os segundos trazem-nos músicas que nos tocam no coração, que servem de banda sonora a tantas circunstâncias da vida, numa sonoridade muito particular e na voz única de Nuno Rancho. Gosto de ambos mais ao vivo do que em disco, por isso podendo é apanhá-los, a energia dos Les Crazy Coconuts é contagiante e o harmonia e a beleza sonora dos Few Fingers é como uma segunda pele de conforto. 


Guitarras… Não sei dedilhar um acorde sequer, mas é impossível não ficar maravilhada com o que se é capaz de fazer com uma. Os discos de Tó Trips e Grutera, mesmo sendo tão diferentes, levam-me a paisagens e a emoções muito próprias. O Tó dispensa apresentações, toda a gente o conhece dos Dead Combo, mas a verdade é que quando está a solo e a fazer-se acompanhar de João Doce, os seus concertos em nome próprio transformam-se num cenário exótico, sentido e intenso. É lindo. Nunca vi o Grutera ao vivo, o que é para mim uma das falhas de 2015, mas o disco tinha de fazer parte desta lista, não me refugiasse eu nele umas quantas vezes.


Continuando com guitarristas de composições singulares, temos o Tio Rex e o Peixe. Ensaio Sobre a Harmonia é dos discos mais honestos que saíram em 2015. Digo isto não só por conhecer as pessoas por trás do projecto, por conhecer o Miguel e a sua paixão pela música, mas também porque bastará estarem atentos às letras e à forma como todo o projecto toma contornos físicos para verem que tudo é feito com muito amor, mas melhor ainda, com muito, muito talento. Motor, uma edição Cultura FNAC, volta a trazer o talento de Peixe, conhecido inicialmente por fazer parte dos Ornatos Violeta, a todos os que apreciam texturas e cenários que oscilam entre o simples e o complexo, que nos levam a fechar os olhos e a deambular por um imagético muito pessoal. 


Uma das grandes notícias de 2015 é que There Must Be a Place vai voltar a existir, mas antes disso houve discos dos dois projectos que o constituem – Best Youth e We Trust. Discos completamente diferentes, o primeiro num estilo muito sensual e ousado, o segundo numa homenagem aos heróis do nosso dia-a-dia. São dois discos que acabam por marcar a música portuguesa não só pela exportação e os concertos no estrangeiro que os Best Youth fizeram, mas também pelo poder de Everyday Heroes, com as suas letras e energias vibrantes. São dois projectos cuja produção ao vivo é digna de se ver e que têm crescido e maturado de forma consistente. Um orgulho para qualquer português. 


Holy Nothing e Mirror People são outros dois projectos que me acompanharam principalmente ao longo do Verão de 2015. Dificilmente têm pontos em comum, mas ambos fizeram parte do leque de escolha no que toca à pista de dança. Já conhecia os Holy Nothing desde o primeiro EP editado o ano passado e estava muito curiosa em relação ao disco. Não desiludiram. Mirror People tive o prazer de conhecer este ano e ainda por cima vou ter a honra de o ter no aniversário do blogue, como convidado dos Thunder & Co. Tanto o Rui Maia como a Maria do Rosário se vão juntar à festa e não podia ter ficado mais contente. Já sabem, 15 de Janeiro! 


Eu bem digo que a música portuguesa anda saudável e que se recomenda em doses industriais e prova disso são também estes dois discos. Há algum tempo que andava expectante em relação ao disco dos The Happy Mess e fiquei muito contente com o resultado final. The Invisible Boy abriu o mote a músicas que ficam na cabeça num rock dançável e enérgico. Maquina Del Amor foi uma das surpresas de 2015. Música matemática, dizem alguns, viagens espaciais dizem outros, eu cá digo para ouvirem e tirarem as vossas próprias conclusões. Ainda não consegui ver nenhum destes dois projectos, mas quero, e muito. 


Os destaques terminam com dois belíssimos discos, de músicos cheios de talento cuja versatilidade é comprovada ao vivo. Juntei Tape Junk e Benjamim porque é impossível não sentir um carinho especial por ambos, em que Alvito tem um papel especial em ambos os discos. João Correia e Luís Nunes, os protagonistas de cada disco, respectivamente, são artistas muitos genuínos e deram origem às conversas/entrevistas que mais gostei de fazer este ano. Existe uma honestidade e uma liberdade nas músicas destes dois discos que fazem falta quando compomos a nossa biblioteca musical. Tenho muito orgulho nestes trabalhos, principalmente porque ao início poderiam ser géneros que eu não ouvisse tanto, mas o que é certo é que me conquistaram. 


É claro que há discos que faltam aqui, como o de Moullinex, Equations, 10 000 Russos, Electric Man, João Martins (Ides of March), Basset Hounds, Os Capitães da Areia e os The Walks. Sinceramente, tem-me fascinado a diversidade e a qualidade do que se tem feito no nosso país. O que inclui também aqueles que se começaram a dar os primeiros passos este ano, mas que ainda não têm discos ou só lançaram EPs. Também quero falar um pouco disso…

Vou começar pela Surma, ex-Backwater and The Screaming Fantasy, é uma das minhas grandes apostas para 2016. Não tenho dúvida alguma que esta miúda ainda vai dar muito à nossa música e que vai chegar muito longe. Tem apenas 21 anos, mas já carrega com ela uma harmonia e coerência sonora e estética admiráveis. Dia 12 de Fevereiro temos concerto de aniversário no Porto no Maus Hábitos! 

Os Twin Transistors são outra banda que brevemente vai dar que falar. Começaram a dar concertos este ano, fala-se em disco já no próximo semestre e já estão confirmados para a edição do Lisbon Psych Fest 2016. São do caraças ao vivo e o melhor que fazem é mesmo ficarem atentos. 


Com EPs lançados temos o LOP, um Split EP de Daily Misconceptions e O Manipualdor. Se existe trabalho equilibrado, uma espécie de jogo entre o yin e o yan, então este é esse trabalho. Também O Manipulador vai estar no 7º Aniversário do blogue em Lisboa. Vi-o ao vivo e fiquei completamente rendida. O trabalho com o baixo, os pedais, a poderosa estética através das projecções… Tudo transforma o concerto num momento único. Imperdível e irresistível é também o primeiro EP de Bússola que sabe a pouco quando já se viu ao vivo. Estou muito ansiosa que venha o disco de longa-duração destes cinco músicos que conseguem preencher qualquer espaço que possa estar vazio com as suas vozes e sonoridades. 


2015 deu também vida a outros dois projectos: Galgo e Burgueses Famintos. Os primeiros, ainda tão jovens e já cheios de vontade, energia e postura contagiantes. Os segundos, jovens também, mas já com uma carga de maturidade e de vida que dão toda uma outra densidade à música e à verbalização do texto.


Também Twisted Freak lançou um novo EP digno de se ouvir, Fancis Dale e Isaura percorreram o país com os seus EPs e conquistaram palcos como o Lux, e ainda tivemos Ermo, Paraguaii, Cave Story e Old Yellow Jack. 

Olhando em retrospectiva, tenho pena de não ter conseguido trabalhar mais outros discos, mas a verdade é que quando se está sozinha atrás de um blogue como o BranMorrighan em que praticamente recebo tantas solicitações como sites de música com autênticas equipas… Existirão sempre factores diferenciadores e é claro que eu própria vou tendo os meus critérios. No geral tenho muito orgulho em todo o trabalho que anda a ser feito em Portugal, tenho apenas pena que muitos se mantenham cegos. 

E é claro que tenho noção que faltam aqui nomes como David Fonseca, Márcia, They’re Heading West, o disco de remisturas da Capicua, etc. etc., mas para esses já falam todos os outros sites e jornais e revistas. A verdade é que eu própria acabo por me envolver mais com projectos que ainda estão a começar ou que de alguma maneira ainda não têm todas as camadas (quase) intransponíveis das grandes editoras que parecem criar uma maior distância para com projectos mais pequenos como é o caso do meu blogue. Mas não tem mal, sinceramente estou contente com o que tenho feito e como tudo tem corrido. É claro que, por exemplo, sendo fã do David Fonseca desde que me lembro que existo tenho pena de nunca ter estado mais perto ou sequer de o ter ainda entrevistado, mas sem pressas. 

Sei que 2016 vai trazer discos novos e começo-me logo a lembrar dos queridos You Can’t Win, Charlie Brown, dos First Breath After Coma, D’Alva, X-Wife, Nice Weather For Ducks, Lotus Fever, Azul-Revolto, Mira un Lobo, RA, Paus, Linda Martini, De La Motta, Miss Titan, etc. etc. Acho que vai ser outro ano alucinante em termos de discos! Boas audições e qualquer sugestão é só deixarem comentário.

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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