A janela
Tenho saído muito pouco de casa. Depois de explorar bastante a aldeia e a região, comecei, finalmente, a trabalhar no livro que me trouxe até aqui. Melhor dizendo, comecei a escrever, que já venho a trabalhar neste projecto desde 2015. Por estar tão focado e tão imerso na escrita, posso não sair tanto de casa, mas a presença do cenário que me tem envolvido nos últimos dias é constante, escrevo virado para uma janela que tem vista sobre a aldeia.
Mesmo passando os dias em frente ao ecrã do computador, é impossível dissociar-me de Pinheiro. Não só por ser o lugar onde estou, mas porque Pinheiro é o cenário da história do meu livro. Ficcionar sobre uma aldeia com a qual tenho uma ligação emocional tão forte não tem sido fácil, é necessário tomar muitas decisões, a maior parte delas difíceis. Quando olho pela janela, procuro ver a aldeia com um certo distanciamento, para poder tomar as decisões mais acertadas relativamente ao livro que estou a escrever.
É curioso que vim para Pinheiro para me aproximar mais do lugar sobre o qual quero escrever, mas, em nome de uma maior clareza mental, confronto-me com a urgência de me distanciar dele, mesmo ainda estando aqui. A janela para onde estou virado é ideal para isso: estabelece a fronteira entre mim e a aldeia e coloca-me na posição de espectador. Distancio-me para que me possa aproximar. Contradição ou não, é este o caminho.
Pinheiro (Carregal do Sal), 23 de Janeiro de 2016 – 16h21m
Samuel Pimenta
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