No tema “Higgs Boson Blues” Nick Cave diz-nos que os dias de chuva o deixam sempre triste (The rainy days always make me sad). Penso que seja um sentimento partilhado pela grande maioria das pessoas. Então, neste fim-de-semana depressivo devido à chuva – menos depressivo para quem teve a sorte de andar a mandar bolas de neve à prima de quem não gosta, mas que se cola sempre para ir à Serra da Estrela – fiz o exercício de pensar em ocasiões em que já tenha sido feliz em dias de chuva.
O primeiro pensamento leva-me para o Festival Paredes de Coura, onde normalmente todos os anos a chuva aparece, mas em 2006 a coisa foi caótica. Nessa altura ainda não me tinha rendido ao rock burguês e acampava. No segundo dia do festival a coisa ficou negra e a chuva só nos deixou sair da tenda ao final do dia para os concertos. O que mais me chateou nem foi tanto isso, foi o facto de ter ficado na tenda com 3 amigos, quando no dia anterior tinha travado uma amizade colorida com a amiga das minhas primas. Falhei aí a minha oportunidade de ser feliz ao som da chuva, oportunidade que voltaria no dia seguinte no concerto incrível de Bauhaus. A chuva nunca deu tréguas, mas foi incrível toda aquela atmosfera. Ainda me lembro de no final do concerto ir debaixo de chuva para a tenda a cantarolar a “Transmission” dos Joy Division.
Também foi num dia de chuva que fui pela primeira vez ver o meu Sporting, um União de Leiria Vs Sporting no ano de 1996. Apesar do resultado, foi um dia que me marcou.
A última memória para esta espécie de crónica de dias felizes à chuva é mesmo a do BranMorrighan ter ficado em terceiro lugar na categoria de Melhor Blogue de Literatura em 2015. Dar os parabéns à Sofia pelo excelente trabalho e dizer-lhe que se ela em 2016 quer vencer o premio, o melhor é começar por me despedir.
Ah e já agora também foi num dia de chuva que conheci a Sofia – esqueçam, é só coisas boas, agora estava a navegar na maionese.
Afinal, os dias de chuva podem não ser assim tão chatos como este texto. Por isso vou acabar de o escrever, pegar no disco “Peso Morto” dos Peixe: Avião e fazer-me à estrada debaixo deste temporal. E talvez te encontre. Se isso acontecer, vamos ficar sem jeito, sem saber o que dizer. Eu talvez te diga com a voz a tremer “já viste este tempo aborrecido, que não faz mais do que chover” e tu dir-me-ás “para a semana já dão sol” e vamos rir muito desta conversa.
João Pedrosa