Fotografia Vera Marmelo |
Dono de uma linguagem sonora cada vez mais única, a sua história reserva já diversos capítulos e encarnações. Acompanhamo-lo nas margens do rock, seguimo-lo no influente trabalho da editora Merzbau e continuamos a observá-lo neste brilhante percurso onde o piano é o coração deste corpo em constante evolução. Como habitual num exercício de busca criativa e até pessoal, o rumo ao desconhecido proporciona frequentemente momentos de descoberta e de partilha. E desde o longínquo ano de 2006 que esse processo se tem sedimentado através de quase uma dúzia de discos assinados a solo ou em colaborações.
O que faz de Tiago Sousa um exemplo insular na abordagem ao instrumento é o afastamento natural face a estilos e expectativas. Demasiado mestiço para os cânones da escola erudita, nele escutamos elementos vagamente jazzísticos, referências resgatadas à filosofia oriental e uma multiplicidade de mundos entrelaçados. Embora intimista, a delicadeza e a grandiosidade da implosão emocional das suas peças não encontram outro habitat que não a universalidade. Trata-se pois de música genuinamente livre e libertadora na sua mais plena dimensão em que o pano do onírico adorna orgulhosamente o palco do telúrico. O modo como nos envolve e nos devolve à realidade faz dele um virtuoso na habilidade de conjugar os silêncios e os seus ganhos como pontuação na escrita.Para completar, a consciência socio-política do músico faz dele um discreto mas assertivo artista de acção cuja obra ‘Coro das Vontades’ (apresentada em 2012 no Teatro Maria Matos e editado este ano em CD) é, sem dúvida, a maior das façanhas. É com uma mão coberta de terra e outra de sangue que os dedos de Sousa encontram em cada tecla, cada nota e cada imagem uma possibilidade de conceber um mundo novo.
Com ‘Samsara’ cristalizou ideias e concebeu um dos documentos mais apaixonados a surgir no panorama português nos últimos anos. Tão simples quanto isso. Com ‘Um Piano nas Barricadas’, traz inéditos e promissores horizontes que primam logo pela riqueza da diversidade instrumental. Por aqui encontra-se a melodia do clarinete, o ritmo da percussão, o calor da guitarra clássica ou o universo sonhador da harpa. A sensibilidade na forma de interligação entre estes pontos reserva tanto de inesperado como de revelador. Tudo começa no piano sim, mas o que daí nasce é uma surpreendente viagem para o ouvinte. O resultado situa-se para lá do que até então poderíamos estar familiarizados com a sua obra. E neste momento nada poderia fazer mais sentido na carreira de quem já deixou um cunho muito próprio.
A ZDB tem agora o privilégio de acolhê-lo naquela que será a primeira escuta colectiva do próximo disco. Para evidenciar este registo, Tiago estará acompanhado por dois músicos completando assim o papel de trio. Trata-se pois de um aguardado regresso ao palco desta casa de uma das constelações mais brilhantes dos nossos tempos. NA
Formação: Tiago Sousa piano | Ricardo Ribeiro clarinete | Baltazar Molina percussão
Entrada: 8€ | Bilhetes disponíveis na Tabacaria Martins, Flur e ZDB em dias de concerto | reservas@zedosbois.org
Entrevista Tiago Sousa 2014:
http://www.branmorrighan.com/2014/09/entrevista-tiago-sousa-musico-portugues_9.html