No fim-de-semana, mais propriamente no Domingo, peguei no livro Razões para Viver do Matt Haig e li metade de empreitada. Depois chegou a hora de ir dormir e entretanto é Quarta-feira e ainda não consegui voltar a pegar no raio do livro, que ainda por cima estava a ser super interessante. E partilho esta irritação convosco porque acho que a leitura deste livro, como de tantos outros, na altura em que está a acontecer não é um acaso. O livro é sobre depressão. Um testemunho na primeira pessoa de alguém que bateu bastante fundo, com quem a medicação não funcionava, pelo contrário, só o deixava pior e que reflecte a realidade de quem andou com profunda ansiedade de mãos dadas com a depressão. É que são duas coisas diferente, mas que combinadas se transformam num cocktail altamente mortal. Admito, nunca sofri de depressão enquanto doença a longo prazo. Todos nós já tivemos momentos mais ou menos depressivos, alturas mais ou menos difíceis, mas o real problema está quando isso se instala silenciosamente até ao ponto em que quando a pessoa dá conta, já não sabe como foi lá parar nem tem forças para sair de lá.
Ao longo dos meus parcos quase 28 anos, assisti de forma bastante próxima, às vezes até pessoal, a casos de depressão que demoraram (alguns ainda estão no processo) anos até que surgisse alguma luz ao fundo do túnel. Acho que isso, de alguma forma, me tem ajudado a identificar estados de espírito mais perigosos. Sempre fui muito dada à filosofia “em frente é que é o caminho” (mais na filosofia de não voltar atrás e tendo em conta as devidas curvas) e o facto de ter tomado contacto com a doença suficientemente cedo na minha vida fez com que em certas circunstâncias da vida eu tivesse noção que há caminhos psicológicos que percorremos que por vezes começam a ganhar mais sombras do que deviam. Não é que as coisas me estejam a correr mal, não estão, não é que eu ande triste, também não ando, mas é aquela sensação de cansaço em que parece que até estar a escrever ao computador exige levantar uma tonelada. Responder a mails, pegar na pilha de artigos científicos por ler, pensar naquele abstract para aquela conferência, planear o trabalho que tem que ser entregue ontem, planear agendas, etc.etc., bem, normalmente faço isto tudo com um entusiasmo do caraças, mas não sei se é deste tempo de Abril, a coisa não anda fácil. A falta de tempo para descansar e fazer tudo também não ajuda.
Tudo isto para dizer que este tal livro, Razões para Viver, é bom. Muito bom. Ainda não acabei de ler, se calhar até vou mudar de opinião, ou não, mas sei que enquanto o lia, enquanto “assistia” ao processo do Matt, o facto de não querer ir parar ali, embora já me tenha cruzado com algumas das situações, dá uma força extra. Este livro não só ajuda quem não entende a depressão a ter uma melhor noção sobre a mesma, como também tem o efeito encorajador de não querermos chegar ali caso consigamos identificar os primeiros sintomas desde o início. Ele diz que uma das coisas que o salvou foi a corrida. Eu tenho as minhas caminhadas, mas ultimamente nem isso consigo. Ainda assim, bem… Na verdade fica só o desabafo. Isso e um pedido de desculpas à minha mãe por ter usado a palavra merda (ups, lá estou eu outra vez) no último Diário de Bordo. Ao outro dia às 6h da manhã ela chamou-me à atenção do mesmo. Admitamos, com razão. Obrigada, mãe! E um beijinho para vocês todos!
PS: Foto tirada numa dessas caminhadas milagrosas.