Fala-me de Um Dia Perfeito
Jennifer Niven
Editora: Nuvem de Tinta
Grupo: Penguim Random House Portugal
Sinopse: Violet Markey vive para o futuro e conta os dias que faltam para acabar a escola e poder fugir da cidade onde mora e da dor que a consome pela morte da irmã. Theodore Finch é o rapaz estranho da escola, obcecado com a própria morte, em sofrimento com uma depressão profunda. Uma lição de vida comovente sobre uma rapariga que aprende a viver graças a um rapaz que quer morrer. Uma história de amor redentora.
Opinião: Há muito tempo que um livro não me fazia abdicar das minhas 6 horas de sono para o terminar. Verdade seja dita, com o passar do tempo dou cada vez mais importância às horas mínimas de sono e, por muito que me custe, acabo sempre por pousar os livros, quando consigo sequer chegar a abri-los, à dita cuja hora (no máximo 6h antes de ter de acordar). Comecei Fala-me de Um Dia Perfeito numa das muitas viagens que tenho feito, no Domingo. Ora, se o terminei de ontem para hoje, provavelmente devo ter batido o record de 2016 em termos de tempo de leitura de um livro com mais de 300 páginas em menos de 48 horas. Como ontem trabalhei, só pude pegar nele à noite e passadas algumas páginas tive a mesma sensação nítida de há uns anos atrás enquanto lia A Culpa é das Estrelas – que não ia ser uma leitura como as outras e que ia ficar fortemente abalada com a mesma.
E é por aqui que quero começar, com a desmistificação desta comparação com o livro de John Green. É certo que faz lembrar um pouco os seus contornos dramáticos, mas o livro de Jennifer Niven acaba por ter uma personalidade muito, muito própria. Reparem que eu sou daquelas pessoas que acha A Culpa é das Estrelas um dos livros mais tocantes de sempre. Lido na altura certa e com o estado de espírito certo vai apertar o coração de qualquer um, vai fazer chorar (ou não) boa parte dos leitores e fica como um marco de literatura. Com Fala-me de Um Dia Perfeito eu sinto que se dá uma espécie de passo em frente em relação a esse estado. Não que seja melhor ou pior, mas porque a temática é de natureza que todos acham controlável, ao contrário do cancro, quando na verdade consegue ser tão ou mais mortífera e imprevisível. Falo de doenças mentais, de depressões, perturbações comportamentais e instabilidades emocionais com tendências suicidas.
Tenho uma curiosidade demasiado aguçada para o meu próprio bem e logo ao início da leitura fui espreitar a nota da autora. Mesmo depois de a ler, o meu cérebro de alguma maneira quis proteger-me do inevitável e não deixei de percorrer todas as páginas de maneira inocente e esperançosa, de maneira a que o próprio fim fosse um livro em aberto. Deuses, claro que não. Vou ser sincera, ao contrário do que a maioria poderá sentir, não foi o romance disfuncional que me prendeu ou comoveu, Finch e Violet são bons protagonistas, mas não os achei extraordinários. Achei Finch fascinante sim, mas o que me prendeu foi todo o processo psicológico deste último. A forma como a sua infância o influenciou, como a sua caminhada para a vida adulta com uma família ausente o afectou, a forma como consegue camuflar tudo e ainda assim sentir um amor que acha não poder fazer jus ao mesmo.
A escrita é agradável, fluída, tem ritmo suficiente para nos prender e para nos querer avançar rapidamente na história. Dadas as várias componentes, comportamental, emocional e psicológica, a narrativa decorre explorando cada uma delas de forma a que juntas se transformem numa forte corrente que puxa o leitor para cada cenário, cada diálogo, cada pensamento. Eu gostei bastante desta leitura, apesar de ter emoções tão contraditórias em relação à própria autora por ter dado o desfecho que deu num tom tão… normal. É claro que para quem gosta deste género de livros, facilmente se irá perder neste. Só posso desejar que tenham boas leituras e que fiquem atentos aos vossos amigos e familiares, que não ignorem sinais de depressão e de mudanças de comportamento repentinas que se tornam prolongadas.