Opinião: O Estrangeiro, de Albert Camus

O Estrangeiro

Albert Camus

Editora: Porto Editora

Sinopse: Publicado originalmente em 1942, O Estrangeiro foi o primeiro romance de Albert Camus e, a 23 de julho, chega às livrarias portuguesas numa nova edição da Livros do Brasil, revista de acordo com o texto fixado pelo autor, e com prefácio de António Mega Ferreira.

Sendo indubitavelmente uma das obras-primas da literatura francesa do século xx, foi traduzida em mais de quarenta línguas e adaptada para o cinema por Luchino Visconti em 1967. Nesta história, o protagonista Meursault recebe, um dia, um telegrama informando-o de que a mãe morreu. De regresso a casa após o funeral, enceta amizade com um vizinho de práticas duvidosas, reencontra uma antiga colega de trabalho com quem se envolve, vai à praia – até que ocorre um homicídio. Romance estranho, desconcertante sob uma aparente singeleza estilística, em O Estrangeiro joga-se o destino de um homem perante o absurdo e questiona-se o sentido da existência.

Opinião: Depois de uma série de leituras em que o suicídio era um tema presente, eis que a minha intuição me levou a pegar n’O Estrangeiro. Não sabia bem ao que ia, nunca tinha lido nada de Albert Camus, mas avisaram-me logo para me preparar, pois seria uma leitura estranha. Tudo bem, nada a que não esteja habituada e que de certa forma até cria sempre um desafio para mim. A questão com O Estrangeiro é que ele traz consigo todo um peso de fama por ser não só considerado um clássico como por o seu autor ter sido Prémio Nobel da Literatura. Quando pegamos num livro com estas características convém que as expectativas sejam moderadas ou nenhumas, pois caímos no risco de sairmos desiludidos por algum enviesamento dispensável. Foi mais ou menos nessa mentalidade que então abri o livro.

O prefácio, por António Mega Ferreira, desvenda logo mais do que o que seria desejável, mas findado o livro, e relido o prefácio, é um bom complemento à obra. Entrando na história de Meursault, rapidamente nos apercebemos do absurdo literal que é a sua maneira de ver o mundo. Sem qualquer conotação crítica positiva ou negativa, cada momento na sua vida é declarado e enfrentado, pois não existe o conceito de contemplação aqui, com a simplicidade dos factos, deixada de parte a emoção. Enquanto leitora, fui sentindo uma certa dualidade emocional. Se por um lado a sua ausência de julgamento, encarando apenas o que é como apenas o que é, lhe atribuía uma certa simplicidade e até castidade, por outro custou-me imaginar um mundo onde após a morte de uma mãe não se sentisse qualquer tipo de emoção, que após um pedido de casamento o pensamento fosse que tanto fazia, que quando declarado culpado de um homicídio não tivesse qualquer vontade de se defender por achar que não valia a pena.

A escrita de Camus é também ela despejada de grandes adornos, a forma como todo o romance está escrito revela um sentido prático que se reflecte nas acções do seu protagonista e também na forma como o sentido da existência é abordado enquanto um certo absurdo, uma certa frieza e quase despersonalização em relação aos actos e às respectivas consequências. Não chega a uma centena de páginas, lê-se rápido e bem, mas quando cheguei ao fim senti alguma incompletude. Não tem a ver com o ter gostado ou não do final que o autor deu ao livro, mas antes porque talvez, como qualquer ser humano, procurasse um sentido ali que não existe e que também reforça o enredo montado. Se para Meursault que era tão simples e aceitava praticamente tudo sem contestar a vida não se tornou mais fácil, imaginem para todos aqueles que se questionam dia após dia, que se colocam em causa e que pensam sempre duas vezes antes de qualquer coisa. Talvez nem um nem outro estejam certos, mas O Estrangeiro dá-nos uma perspectiva interessante de como terceiros reagem a este alheamento complexo da vida. E essa reacção resulta sempre em condenação. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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