Envolvemos o nosso mundo violento e misterioso numa aparência de compreensão. Cobrimos os vazios na nossa compreensão com ciência e religião e damos a entender que a ordem foi imposta. E a ficção funciona quase sempre. Deslizamos sobre superfícies, ignorando a profundidade que se esconde por baixo. Somos libélulas esvoaçando sobre um lago com quilómetros de profundidade, percorrendo caminhos erráticos até fins sem sentido. Até ao momento em que algo se ergue do frio desconhecido para nos engolir.
Guardamos as maiores mentiras para nós mesmos. Jogamos um jogo em que somos deuses, em que fazemos escolhas e a corrente segue o nosso rasto. Fingimos que existe um fronteira com a selvajaria. Fingimos que o controlo de um homem será profundo, que a civilização será mais do que apenas uma camada, que a razão será a nossa companhia em lugares sombrios.
Mark Lawrence, Príncipe dos Espinhos