Fotografia por Nuno Capela |
Tal como acontece com toda a gente, a minha vida tem mudado ao longo dos últimos anos. Muito. Se pensar no contexto do BranMorrighan, por exemplo, já faz mais de sete anos e meio que o criei. Sete anos e meio, quando se está na casa dos vinte é muito, muito tempo. Reparem, tinha apenas 20 anos – sim, pessoal de vinte aninhos que lê este blogue e que já se acha gente grande, eu também me achava já muito adulta e crescida, mas agora aos vinte e oito olhando para trás e para a frente… bem, ainda sou uma criança, mas com a consciência que cresci mais do que alguma vez imaginava possível. Ainda estava a meio da licenciatura e andava entretida a pesquisar sobre várias mitologias, sobre paganismo, lendas celtas, a transição e evolução das religiões, etc. etc. Sempre fui muito curiosa sobre tudo o que nos envolve e sobre uma suposta ordem ou sentido das coisas. Claro que não vou divagar sobre isso agora, não é nisso que o post se foca, mas acho que conseguem perceber que o caminho desde então mudou drasticamente.
Desde 13 de Dezembro de 2008, dia em que o blogue nasceu oficialmente, até hoje, 8 de Agosto de 2016, posso dizer que já vivi o suficiente por várias vidas. É verdade que me repito várias vezes quando digo que sou uma sortuda, mas a verdade é que sou. E não o digo para causar qualquer tipo de invejas, porque considero que esta sorte, mesmo que inconscientemente, pois nunca planeei nenhum dos marcos que fui atingindo, foi construída, passo a passo, e teve sempre um preço. Sim, eu acredito que tudo na vida tem um preço e os maiores raramente são monetários.
A primeira das razões pelas quais me considero uma sortuda é porque me posso dar ao luxo de fazer aquilo que gosto. E não é por ter um historial financeiro alargado ou sequer estável. Muitas batalhas têm sido travadas. Com a ajuda possível da minha família tenho muito orgulho em dizer que desde que entrei para a faculdade que fui ganhando o dinheiro possível para pagar as propinas tanto de licenciatura como de mestrado, sendo que comecei a fazer investigação em 2010 precisamente para poder garantir a continuidade dos estudos. Não é vergonha nenhuma que não se nade em dinheiro, mas é um orgulho enorme poder dizer que nunca baixei os braços, mesmo quando queria pequenos luxos. O blogue foi sempre um escape emocional, um libertar de mundos que sempre estiveram presentes em mim, mas que não tinha como deixar respirar. Desde a leitura à música, tudo aconteceu de forma natural.
Foi mais ou menos no Verão de 2009 que a parte literária começou. Com um Verão em que li imenso e decidi começar a escrever sobre isso. Passado uns meses tinha propostas de editoras para receber livros, ganhei alguma confiança com essas propostas e fiz eu outras e até hoje a relação mantém-se com a grande maioria, sendo que o respeito que os grandes grupos editoriais mostram pela minha pessoa e pelo meu blogue, não tem preço. A blogosfera literária deve ser das mais imensas e a expressão de “nascem blogues como nascem cogumelos” é totalmente verdadeira. Sei que muitos inspiraram-se no BM ao início e é bom ver que muitos têm resistido desde então. É que manter um blogue durante quase oito anos, sempre em crescimento, com algumas pausas pelo meio, não é tão fácil como possa parecer.
Tendo em 2012 a literatura estabilizado completamente no blogue, e sendo eu uma pessoa ávida por música e assídua participante em concertos e festivais, em 2013 decidi que estava na altura de me aventurar pela música. De voltar a sair da minha zona de conforto e tentar contactar aquelas pessoas/bandas que tinha em pedestais e em que só me dizia a mim mesma que nunca me iriam responder. Mas responderam. Primeiro o Hélio Morais (os Linda Martini são provavelmente a banda de quem mais concertos já vi na vida), depois o Noiserv, e por aí em diante. Muito graças ao LMR que tanto me apoiou neste caminho, em Janeiro de 2014 decido fazer o primeiro evento. Literatura e Música misturados e este é um momento que considero bastante marcante na vida do blogue.
No final de 2013, na FNAC do Chiado, eu tinha conhecido os First Breath After Coma. Ou melhor, tinha-os visto. Feita tímida, acho que já os tinha entrevistado por escrito, mas não fui capaz de os interpelar pessoalmente naquela altura (sim, acreditem, o muito à-vontade que hoje em dia parece que tenho, foi ganho um pouco pela força das circunstâncias e pela vontade de realmente fazer mais, dentro das possibilidades, pela literatura e pela música portuguesas). Quando organizei o primeiro evento através do blogue então em Janeiro de 2014, a banda que actuou foi os Les Crazy Coconuts! E aí deu-se o primeiro real contacto com a Omnichord Records, editora com a qual hoje em dia colaboro um pouco em quase tudo. O Hugo Ferreira, mentor e força motriz da mesma, sempre mostrou um grande entusiasmo pela cena leiriense e ao criar a Omnichord Records, em 2012 com o primeiro disco dos Nice Weather For Ducks, colocou mesmo Leiria no mapa das referências da nova música portuguesa.
Os meses foram passando, eu transitei para eventos puramente musicais e as colaborações foram surgindo através da participação de algumas bandas como os The Allstar Project, Twin Transistors, Surma, os já referidos Les Crazy Coconuts, entre outras, em aniversários e naquela que já se tornou uma noite anual – An Experimentel Jet Set, Trash and No Star Night. Claro que todas estas iniciativas não tinham sido possíveis sem a porta que me foi aberta no Musicbox pelo Pedro Azevedo. Nunca mais me vou esquecer de quando ousei enviar um mail para organizar o 6º aniversário do blogue lá. Um blogue ainda desconhecido no universo musical e com um nome estranhíssimo. O layout era muito diferente do que é agora, toda a gente achava que eu era gótica ou algo do género. O que é certo é que depois de me reunir com o Pedro no final de 2013, penso que entretanto já fiz lá curadoria pelo menos umas três a quatro vezes por ano, desde então. Ter locais como o Musicbox, que é uma sala de referência da noite lisboeta e do circuito de bandas, a dar estas oportunidades é de louvar. Ainda para mais quando houve noites que levei bandas que ainda nem um disco tinham. Umas correram melhores do que outras, mas alguma coisa deve estar a ser bem feita para me continuarem a receber por lá 🙂
Okay, isto já vai longo de mais e eu ainda não cheguei onde queria. Da mitologia para a literatura, da literatura para a música, disto tudo para os Diários de Bordo, hoje em dia o BranMorrighan é uma parte muito importante de mim. Não é um blogue convencional, não é um site que se possa dizer imparcial, afinal é escrito por apenas uma pessoa e todas as opiniões são pessoais e é por isso que raramente se lê algum post intitulado por crítica. Eu não sou uma crítica de nada, eu leio, eu ouço, eu assisto, eu falo sobre o que sinto quando faço cada uma dessas coisas. E todos estes passos que têm sido dados têm sido possíveis por ter um núcleo de amigos (em que incluo a família, claro) muito forte. Não os quero estar a nomear porque passo a vida a falar deles em vários posts, como já falei do Eugénio Ribeiro, por exemplo, mas este vai ter que ser – o Nuno Capela. Tenho a certeza que o blogue tem dado outros passos através do contributo dele, sempre tão desinteressado e sempre tão focado na experiência que é viver por completo todos os momentos partilhados com esta gente tão talentosa. Acho que o Nuno Capela tem esta capacidade, através das suas lentes, de captar a essência de cada segundo como ninguém. E ainda por cima é das melhores pessoas que tenho na minha vida. Sim, sou uma sortuda!
Com isto tudo o que quero dizer é que é normal que a quantidade de entrevistas a bandas, escritores, promotores etc tenha diminuído. Sendo o blogue reflexo de parte daquilo que sou e faço, o seu caminho anda de mãos dadas com o meu. Neste momento o meu foco é o meu doutoramento e conseguir levar o meu trabalho científico o mais longe possível, para além de continuar a dar aulas na faculdade ou formações em empresas, mas também é continuar a divulgar os projectos em que mais acredito. E a Omnichord é um desses projectos, que é agora parte de mim também e por isso aparece tanto, e cada vez mais, aqui no blogue. Não é que vá deixar de falar dos outros, reparem, na minha cabeça eu tenho tudo muito bem separado. Uma coisa é o que faço no blogue, e brevemente vão sair entrevistas com The Gift, Orelha Negra, Insch, entre outras, outra coisa é o que faço com a Omnichord em que ajuda na promoção, em andar com as bandas na estrada, etc. etc. Claro que vem tudo parar aqui ao blogue porque é tudo parte de mim, mas até agora, e espero que assim continue, nada entra em conflito com nada porque todos sabem, sejam bandas, imprensa, promotores, etc., que é com a Sofia Teixeira que estão a comunicar e que só sei dar o meu melhor nas coisas em que me comprometo.
E eu falava num preço. Claro que sim. Acham que tudo isto não tem tido consequências na minha saúde, nos meus humores, etc.? Não sou de ferro. Não sou uma fonte de boa disposição ininterrupta e também eu tenho as minhas inseguranças, as minhas incertezas, infinitas dúvidas e até crises existenciais. Mas o que eu acho que tem sido realmente importante neste processo todo é que a cada momento eu tenho de escolher uma coisa em que me focar. São muitas, é verdade, mas a vantagem de se ter muitas é que se uma corre mal, podemos dar espaço para essa respirar enquanto nos focamos noutra. Porém, a vida está longe de ser apenas sobre trabalhar, fazendo apenas shift se algo não corre bem. E eu dou muito valor a todos os momentos que passo com os meus amigos ou até em “solidão”, nas minhas caminhadas, nas minhas meditações, nos meus retiros. A vida é realmente uma dádiva e poder viver isto tudo, num país que tem das melhores vistas, climas, cheio de gente maravilhosa e talentosa até mais não, é ter-se realmente uma grande sorte.
No fundo eu espero poder estar a motivar-vos, de alguma maneira, a lutarem por aquilo que mais querem. A enfrentarem as dificuldades com um valente sorriso e a definirem novas metas se as que traçaram antes se mostraram becos sem saída. Caminhem de cabeça erguida, aceitem o que a vida tem para vos oferecer, mas não fiquem sentados à espera que as coisas vos apareçam no colo. Os maiores e melhores momentos das nossas vidas acontecem porque, dando ou não por isso, lutámos por elas. Por isso perdoem-me o tom cada vez mais pessoal destes posts, esta ligação cada vez mais intensa que tenho com aquilo que vou vivendo, mas a vida são dois dias e gosto de pensar que são dois dias bem vividos. Mil beijos!
Grande desabafo, muito bem!
Pessoalmente, sigo o blog desde a "era literária" e não tenho quaisquer problemas com os vários assuntos em que vais tocando. Gosto muito de alguns, outros dizem-me pouco, mas é precisamente por isso que gosto de ler o teu blog: és uma pessoa genuína que escreve sobre aquilo que realmente gosta e não um blog que se guia pelos "caprichos" da sua audiência. Tenho encontrado por cá muita coisa boa, mesmo em áreas que não seguia antes, como a música.
Continua assim e muita força na conjugação da tua vida pessoal e profissional com o blog.
Olá Joel,
Muito obrigada 🙂
Nem sempre é fácil, mas este projecto para mim nunca fez sentido senão desta maneira. A minha mãe "sempre se queixou" que eu nunca andava na moda, ahahahah, e acho que isso parece continuar com o passar dos tempos. Mas é como me sinto bem e como acho que quem me lê deve sentir, que é sincero.
Obrigada pelo apoio!