Entrevista aos The Machine Wolf, Banda Portuguesa

Hoje apresento-vos uma jovem banda portuguesa, mas com elementos de currículo invejável – The Machine Wolf. As primeiras perguntas são dirigidas directamente ao Jorge Oliveira com quem tenho falado sobre o projecto e por saber que a origem do mesmo vem principalmente por iniciativa sua. A partir desse ponto é-nos apresentado o Marcelo e o Gonçalo e os três dão-nos uma perspectiva do que tem sido e do que está para vir. Mais sobre a banda aqui: https://www.facebook.com/themachinewolf15

Antes dos The Machine Wolf, tocaste como músico contratado em várias bandas conhecidas e tiveste outras duas de originais. Queres-nos falar um pouco sobre este teu percurso enquanto músico?

Jorge Oliveira: Olá, sim, tive e tenho de facto essa “sorte”, é muito gratificante vermos o nosso empenho premiado com tais colaborações. Tornei-me profissional em 2002 aquando da minha entrada para a formação original dos Fingertips, com quem estive até 2010, ano em que decidi sair para acompanhar Zé Manel no seu projecto a solo (Darko) até aos dias de hoje.  Paralelamente ao período em que me mantive na banda e até depois, como sou músico freelancer, colaborei também entre outros, com: Hands on Approach, Souq, Sloppy Joe, Classificados, GNR, etc.

Dos trabalhos de originais que mencionas, foi principalmente nos Souq e com Darko que tive a primeira grande experiência de composição, mas comecemos pelos Fingertips.. 

Não tendo sido eu o compositor das canções, tinha ainda assim liberdade e muito trabalho de pesquisa para criação rítmica dos temas. Estudei conceitos e abordagens, estudei estruturas, fiz muito “trabalho de casa” que me permitiu aprender e participar em muitos dos arranjos. As sessões eram minuciosas, ao milímetro, perfeccionistas, rigorosas e exigentes, passávamos horas a ver dvd’s e ouvir discos, para aprender como quem tinha êxitos. Os ensaios que antecediam as tours, eram exaustivos, chegávamos a ter ensaios todos os dias úteis, durante semanas, das 10h às 0h.. Tive nesse período e se calhar até hoje, o melhor suporte e método de trabalho que um músico pode ter, super profissional e sempre muito, muito empenhado em fazer crescer um produto para além da expectativa rotineira que até dada altura se enraizava no nosso país. Foi uma escola, talvez a melhor formação que tive a nível de percepção do que é a música como arte, profissão e negócio. 

Nos Souq, entre 2007 e 2015, onde gravei um disco de estúdio (At La Brava) e um ao vivo (Teatro Aveirense), obras essas que durante todo o processo me fizeram amadurecer e cimentar um ideal, foi onde eu pude de certa forma livre e sem restrições, colocar a minha identidade como músico compositor, um pouco como sucede em Darko, onde também tenho uma participação activa. 

Momentos bons e maus, como em tudo na vida, peripécias loucas, acontecimentos gigantes, marcantes, como por exemplo, tocar na Roménia com os Fingertips no mesmo palco em que actuavam Simple Minds e Ricky Martin, sobre o olhar atento de uma plateia de talvez 40.000 pessoas.. fazer a primeira parte de Queen (Est. do Restelo), The Cure (Vilar de Mouros) e/ou de George Michael em Coimbra.. enfim.. depois as bandas (já mencionadas acima) com quem gravei discos até hoje, muita partilha, muitas horas de ensaios, de estúdio e também de diversão e satisfação. 

Entretanto.. o surgimento do convite dos GNR. Teve tanto de engraçado como de embaraçoso o meu primeiro momento na banda, eu ouvia os GNR tocar quando era miúdo.. via os seus concertos.. e.. tanto tempo depois estar em palco com eles a tocar todos aqueles êxitos.. foi uma sensação que jamais esquecerei e deixarei de agradecer a quem a proporcionou, o convite pessoal do Tóli Cesar Machado deixou-me nesse dia, atónito, feliz, realizado e com a certeza de que tinha feito bem o meu trabalho para ter chegado onde cheguei. 

O que é que despertou em ti esta tua dedicação à música? 

Jorge Oliveira: Embora tendo iniciado a minha actividade como músico “apenas” aos vinte anos de idade, tive desde muito cedo o sonho de ser músico, era aí que queria chegar, lutei por isso e cá estou satisfeito pelo caminho (nem sempre fácil) que até hoje consegui percorrer. Procurei sempre ter a melhor formação, trabalhei muito para isso. Procurei como procuro ser a cada dia que passa, melhor pessoa e melhor músico, a meu ver uma coisa não pode estar dissociada da outra, é esse o sentimento que desperta em mim constantemente e sempre que me proponho a criar algo, a conclusão é óbvia. 

Formas, então, em 2015, os The Machine Wolf. Qual a tua maior motivação para a criação de mais um projecto musical? 

Jorge Oliveira: A minha maior motivação é essencialmente a minha vontade e prazer em trabalhar no que me faz feliz. Surgiu essa possibilidade ainda durante o meu ultimo ano nos Souq, com tempo, muito pouco diga-se, percebi que as influências musicais que fui tendo nos últimos anos estavam a encaminhar-me para outro tipo de sonoridade, outro tipo de composição e texturas, a vontade foi aumentando e.. “quando o homem sonha, a obra nasce.” 

Como é que o Marcelo e o Gonçalo acabaram por se juntar a ti?

Jorge Oliveira: Foi um processo simples.. Estava numa fase em que tinha chegado a um ponto de saturação e necessitava de mudar. Foi assim que decidi sair dos Souq e dar uma continuidade mais sólida e exclusiva aos TMW. Fazendo uma analise a quem me rodeava e ao que eu queria para mim, rapidamente percebi que, mesmo que não conseguisse arranjar instrumentistas brilhantes, o que não foi o caso, daria sempre preferência a pessoas brilhantes, um dado importante e que reforço sempre que me perguntam. Esse é para mim o principal factor para algo funcionar.

O Gonçalo Lemos, já o conhecia à mais tempo, era a pessoa e músico ideal para fazer soar os riff’s que sobrevoam o meu consciente, e para trazer mais qualidade e ideias compatíveis com as minhas, visto tratar-se de um miúdo com uma cultura musical acima da média e com multi talentos, vocês terão a oportunidade de o ver em acção em breve e aí confirmarão tudo o que acabo de dizer a seu respeito. Quanto ao Marcelo Pestana, a sua forma de trabalhar era totalmente desconhecida para mim. No entanto como era e é amigo de longa data do Gonçalo Lemos, acabamos por conversar acerca do que me motivaria endereçar-lhe um convite para fazer parte da banda, e assim foi. É na prática o menos experiente, mas com os níveis motivacionais equivalentes, com vontade, muita vontade de fazer parte do projecto e de crescer. Foi uma aposta pessoal, que está ganha, porque acabou por evoluir com o andamento do processo, ouviu e pesquisou muita coisa para aprender, de estilos aos quais não estava habituado a ouvir.. trabalhou e trabalha muito, um episódio um pouco a semelhança do que me acontecera nos Fingertips aquando da minha entrada. 

Olá Gonçalo e Marcelo! Falem-nos também um pouco sobre vós e a vossa relação com a música até se juntarem ao Jorge nos The Machine Wolf.

Gonçalo Lemos: Bem, desde cedo que me encontro rodeado por música, seja na minha infância em casa dos meus pais ou quando comecei a aprender a tocar bateria aos 11 anos. Após algum tempo a estudar o instrumento começo também a descobrir a guitarra como autodidacta, e nessa altura entro no mundo das bandas, por assim dizer. Mais envolvido no “Metal” nos primeiros tempos, fui expandindo ao longo dos anos os meus horizontes musicais para outros géneros, e actualmente faço parte dos Monolyth (com o Marcelo Pestana), Fadormose, :papercutz, entre outros. Aproximadamente há um ano e meio atrás surge o convite por parte do Jorge Oliveira, um amigo e meu antigo professor de bateria para integrar um novo projecto.. A partir daí tem início a fase de concepção, composição, gravação, toda uma série de trabalhos inerente a um “desafio” destes, sempre acompanhado por pessoas incríveis e sempre focadas no que realmente importa: a música. 

Marcelo Pestana: A minha relação com a música sempre foi algo de positivo, desde novo que comecei a adquirir o gosto pelo canto, mas tudo começou quando decidi entrar numa escola de música. Comecei com a guitarra, mas percebi logo que não era o meu instrumento e decidi então começar a cantar, em vez de continuar a ter aulas de guitarra. Na escola em questão, aos 15 anos de idade, integrei um “Combo” onde tocávamos versões, mas.. faltava ter algo que fosse meu, que tivesse a minha própria identidade e rapidamente isso acabou por surgir. Em 2009 fui abordado para entrar para uma banda de “Metal” que estava ainda a começar, foi aí que tive o meu primeiro contacto “a sério” com o mundo da música, com conteúdos originais e onde pude colaborar na composição dos temas. Monolyth, a minha primeira banda, o meu primeiro projecto pessoal, a banda onde eu podia mostrar onde estava completamente à vontade, a vertente “Metal” sempre foi a minha maior vertente, a minha maior influência e o maior gosto. Com o passar do tempo, pensei em formar algo diferente de Monolyth, estava a pensar convidar uns amigos e formar uma banda de estilo diferente, mas nem foi necessário isso acontecer, porque o Jorge Oliveira decidiu a dada altura  perguntar-me se eu estava interessado em ingressar nos The Machine Wolf!!! A minha resposta foi dada na hora e fiquei extremamente feliz e grato por esta oportunidade. Com esta nova banda que nada se assemelha a Monolyth, posso aproveitar para evoluir ainda mais, tanto a nível musical como pessoal, desde os novos estilos, novas vertentes musicais, novos conceitos, novas formas de gravar e interpretar. Tem sido um desafio e uma aprendizagem, tem sido também essencialmente, gratificante e reconfortante. 

Este ano lançaram o vosso primeiro EP – Eclectric. O espectro musical, dentro do rock, que cada música percorre é muito abrangente. Como é surge esse processo de composição?

Jorge Oliveira: O processo de composição não é muito diferente da generalidade das bandas, embora logicamente existam vários métodos e formas de trabalhar. O objectivo é sempre fazer música, gravar o disco, tocá-la, mostrá-la às pessoas. As influências de cada um, obviamente define e muito aquilo que ambicionamos, aquilo a que soamos. 

Temos elementos com gostos tão distintos como similares, e isso reflecte-se, podemos ser musicalmente  tão pesados como podemos ter ambientes mais calmos e  muito distintos num só tema. Não temos regra, nem obedecemos a estratégias de composição, fazemos as coisas à nossa maneira, as estruturas dos temas vão sendo concluídas com o desenrolar dos mesmos, se entendermos que falta mais uma parte, trabalhamos com esse propósito até ficarmos satisfeitos com o produto final.

A estética é clara e legitimamente uma preocupação, é também esse factor que nos dá uma identidade, queremos ser até onde nos for possível originais no que fazemos, sendo que é hoje em dia uma árdua tarefa para qualquer banda. Não nos importamos com clichés, desde que façam sentido nas músicas que compomos. 

Pessoalmente quando pensei TMW, quis desta vez afastar a formula tradicional de perder horas a fio numa sala de ensaios a tocar e a compor, e sugeri que optássemos por criar em estúdio.. menos desgastaste, com muitas mais ferramentas para usar e abusar em tempo real no fabrico do conceito sonoro. É evidente que para isso necessitaríamos de um local disponível para tal, o que não é fácil pelas razões que todos sabemos, estar quase como residente num estúdio durante dias a fio, envolve muita despesa, mas aí tivemos a ajuda inigualável e impagável do Xavier Marques, um grande amigo e uma espécie de quarto elemento que “está na sombra”, com o seu estúdio Casa da Lenha em Oliveira do Bairro. 

Enquanto compunham, que tipo de emoções é que era importante para vocês transmitirem sonoramente?

Gonçalo Lemos: Penso que o espectro é bastante alargado… O “Eclectric” tem uma componente animal, é um registo que transmite agressividade e imprevisibilidade, embora com alguns momentos de introspecção. No próximo EP explorámos um pouco mais esta última vertente, sempre fiéis ao que nos caracteriza mas com ênfase num registo mais atmosférico, etéreo, transportando o público para uma viagem digamos assim.

E as letras? Que tipo de história é que “Eclectric” nos conta? 

Marcelo Pestana: Posso afirmar que o “Eclectric” não é uma história de inicio, meio e fim, mas sim uma “batalha” retratada através dos vários momentos que o ser humano possa sentir, tais como a doença, o desespero, a loucura, a religião excessiva que se torna num tipo de “publicidade” gratuita e de exemplo para a sociedade, o ponto de saturação. Hoje em dia e cada vez mais, sentimos o peso de tudo aquilo que nos possa controlar ou até moldar, e o “Eclectric” é uma janela de emergência prestes a ser quebrada, é a nossa escapatória perante tudo aquilo que nos aborrece e que nos leva até à exaustão. É a nossa forma de expressar o nosso sentido de liberdade. Todos temos o direito e a escolha de tentar “fugir” do que não queremos para nós próprios. 

Em relação à estética, porquê o lobo? Quão importante é para vocês esta parte característica da banda? 

Gonçalo Lemos: O lobo funciona como representação visual da nossa sonoridade, quase como se fosse uma extensão da própria música. É muito importante esta componente fazer sentido, para nós e para quem nos vê, e desde cedo que nos identificamos com a personagem e com todo o artwork associado. Transmite força, energia, atitude e independência, características que se traduzem nas nossas composições mas também essencialmente na nossa maneira de estar e de trabalhar. 

Que balanço é que conseguem fazer deste ano e pouco de The Machine Wolf? Tem sido o que esperavam? 

Jorge Oliveira: É uma questão delicada.. Nós somos independentes! Estamos a trabalhar para conseguir ter uma equipa, estamos a usar variadissimos recursos para conseguir promover o “Eclectric”. Tudo o que conseguimos até à data, foi felizmente graças à boa vontade de algumas grandes pessoas e entidades, também ao facto de muita gente ter gostado do que ouviu e do que vê no nosso conceito. Optamos por não tocar ao vivo neste ano e meio de actividade, estamos a criar repertório para podermos apresentar um espectáculo decente, exigente e com qualidade. Queremos fazer dois EP’s por ano, temos esse desafio/objectivo, e estamos a trabalhar para isso acontecer.

Como disse anteriormente, a vossa sonoridade é difícil de encaixar numa categoria. Também nunca na história da música portuguesa se fez música tão diferente e em tanta quantidade. De que forma é que vocês avaliam a abertura do mercado português ao vosso estilo de música? 

Jorge Oliveira: Também para nós se torna difícil explicar às pessoas em que estilo nos encaixamos.. a causa disso? O que mencionei anteriormente, não somos muitos, mas temos gostos muito distintos, e se calhar é essa a formula, sem que saibamos “rotular”, não estamos preocupados com essa questão. 

Estamos de facto a viver uma época de ouro na música portuguesa, se calhar mais no meio alternativo onde tem surgido artistas e bandas com uma qualidade que não era costume encontrar ao virar de uma esquina. Tem sido excelente e interessante assistir a esta lufada de ar fresco. 

Não consigo responder à ultima questão com a exactidão e o conteúdo que gostaria, pois os TMW ainda estão a surgir. Para já, os nossos seguidores nas várias plataformas que temos, tem-nos comprado discos e endereçado os parabéns pela ousadia e pela originalidade que temos, temos a vontade natural de qualquer banda, de tocar muito nas rádios e na estrada, de ser grande e de ser feliz. Só isso.

Sei que estão em processo de gravações de um novo EP que promete mostrar ainda mais diversidade sonora, em que exploram outros ritmos. Queres falar um pouco sobre o que está para vir? 

Jorge Oliveira: Sim.. o “Skin” está pronto.. Faltam pequenos ajustes na mistura e posteriormente a masterização. É um disco um pouco diferente do “Eclectric”, tem diferentes ambientes, é menos nervoso e igualmente ecléctico. É a pele com que nos vestimos actualmente. 

Sem presunção e sem colocar em causa a autenticidade do original, também somos um pouco camaleões, vestimos e despimos com a mesma facilidade várias texturas e várias “nuances” rítmicas, somos arrojados e exigentes, gostamos de experimentar, gostamos muito de gostar do que estamos a criar. 

Em jeito de balanço, “Skin” é um disco que nos deu menos horas de trabalho que o “Eclectric”, mas é um disco que nos agrada muito pela ousadia, é um disco que nos diverte, porque faz com que dancemos, faz com que viajemos, e que nos deixemos levar pelas melodias que fomos descobrir no nosso subconsciente. Sendo legitimamente suspeito, está um belo disco. 

E quem vos quer ver ao vivo, ainda tem que esperar muito? 

Jorge Oliveira: Não! Estamos a ultimar várias questões relacionadas com a logística da banda para podermos avançar com os concertos na altura certa. Não temos pressa, mas estamos ansiosos. Desta vez vamos optar por uma forma diferente no que toca à edição do disco. Estamos empenhados em conseguir um bom video para o lançamento do tema que achamos ser o indicado para a apresentação do disco, estamos a ponderar agendar umas quantas apresentações com as cidades já devidamente identificadas, mas com locais ainda por definir. Ainda não temos data definida para a edição do EP.. Pode ser previamente publicada, ou não.. Está quase. 

Aproveito também para em nome dos TMW, agradecer o facto de nos possibilitarem abrir mais uma janelinha de promoção ao nosso trabalho, tem sido assim com gente que nos quer bem, com pessoas e entidades com as quais temos todo o interesse e satisfação em colaborar, muito obrigado. Vamo-nos ver por aí, com certeza. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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