Bem-vindos à nova rubrica do BranMorrighan, tendo como estreia o novo vídeo da artista portuguesa Joana Barra Vaz – Casa é Canção! Dado o contexto deste vídeo, e do novo disco – “Mergulho em Loba” – que se avizinha, achei que valia a pena explorar os bastidores e as razões que levaram à criação de um videoclip em tom de documentário. A ideia é explorar a motivação e o conceito dos vídeos que em si mesmo contêm mais do que a própria música e que de alguma maneira contam uma história. Deixo-vos com uma pequena introdução sobre “Mergulho em Loba” e com o texto da Joana Barra Vaz sobre o novo vídeo “Casa é Canção”.
“Mergulho em Loba” de Joana Barra Vaz será editado no dia 30 de Setembro pela Bi-Du-Á. Um dia antes, Joana Barra Vaz e a banda f l u m e apresentam oficialmente o seu primeiro longa duração no Teatro do Bairro, pelas 21h30. “Mergulho em Loba” é a continuação da trilogia “flume” iniciada com “Passeio Pelo Trilho” (2012).
A trilogia tem uma forte influência geográfica e, neste caso, o nome não esconde a sua principal inspiração: o mar. Escrito e composto entre 2012 e 2013, “Mergulho em Loba” é um disco de perguntas, uma viagem sonora com momentos de dança e de introspecção. Foi produzido por Joana Barra Vaz, Luís Nunes, e José de Castro; conta com arranjos de David Pires, Joana Barra Vaz e da Banda f l u m e II : David Pires, David Santos, Ricardo Jacinto, José de Castro, João Gil, Ana Nagy, Mário Amândio, Gabriel Correia e ainda com a participação de Selma Uamusse no tema “Tanto Faz”.
O disco foi gravado entre os Estúdios Iá por Bernardo Barata (Diabo na Cruz, Oioai), Alvito “Road” por Luís Nunes (Benjamim), a Sociedade Musical União Paredense, Estaminé e em casa de Joana Barra Vaz pela própria e misturado por Tiago Gomes de Sousa.
O novo single “Casa é Canção” vem acompanhado de um videoclip documental do processo de gravação que dá continuidade aos teasers apresentados pela autora no decorrer de 2016, abrindo-nos a porta de casa às suas canções.
A principal inspiração para o vídeo foram todas as pessoas que aceitaram fazer parte do “Mergulho Em Loba”, principalmente os músicos — que me ajudam a crescer muito enquanto compositora — e ainda o José de Castro, o Bernardo Barata e o Luís Nunes, a minha família, e a SMUP: no fundo são aqueles que abriram a porta dos seus estúdios-casa. É uma homenagem a eles e a tudo o que dão. Se a minha “Casa é Canção”, a casa das minhas canções são eles e as pessoas que se ligam a elas. Por mais que seja o meu primeiro disco em nome próprio, quis mostrar que não é, de todo, um disco “a solo”, como se costuma dizer. Não aparece a equipa toda — mas quis ser fiel a quem tinha participado neste tema.
O vídeo segue a narrativa dos teasers que temos apresentado online: neste vídeo já estou nas sessões de voz em Alvito com o Luís Nunes, num ambiente perfeito de tão acolhedor. Por sorte, tinha acabado de conhecer o Gonçalo Pôla e ele filmou-nos com um olhar tão delicado que ainda hoje me espanta. Na altura não dei por nada, não sabia que o Gonçalo tinha filmado tanto e, naquelas imagens, estamos mesmo a gravar a voz final para o disco. É muito especial: foi daqueles encontros que ficam… O resto foi filmado por quem pegava na câmara — neste caso o Luís — e por mim, sem pensar muito nisso. Espero que o vídeo transpareça a sensação de casa que procurei sempre durante as gravações. Também aparece a S.M.U.P. — onde estreei o sótão numa residência artística, ainda o espaço estava em obras. Montei um pequeno estúdio, e passei lá um mês e meio a terminar a
produção do disco e a ensaiar. Foi nessa residência que percebi que o sótão era uma sala de gravação e de concertos muito boa e que acabei por a estrear também em concerto na Inauguração da Sociedade em 2015.
Estas filmagens tiveram um efeito regenerador e ajudaram-me a recuperar o espírito com que comecei o disco. Estamos a montar um espetáculo com algumas surpresas. Será uma oportunidade também de celebrar e de reunir parte da família deste universo de f l u m e: que foi pensado para ser uma trilogia de discos com inspiração em paisagens geográficas. A ideia surgiu nas vésperas da gravação do Trilho: ao organizar as canções apercebi-me desta lógica geográfica e dei-lhe esse nome: f l u m e, que significa rio, canal de água. Se o “Passeio Pelo Trilho” explorava paisagens campestres, e era mais ingénuo, o “Mergulho Em Loba” viaja por paisagens marítimas e apanhou com a crise de frente, o que se nota nas letras: tentei escrever de um ponto de vista íntimo sobre as dualidades, quer do país quer de um amor, e trocar o “lobo do mar” pela “loba do mar”. As paisagens acabam por influenciar a identidade sonora dos discos, e no caso do “Mergulho Em Loba” a escolha de instrumentos recaiu sobre o coro feminino, o violoncelo, a trompa e o trombone, e a bateria e percussões; inclusivé a música que dá nome ao disco — “Loba” — tem percussão de água gravada pelo José de Castro.
Estou muito feliz com a recepção que estas novas canções têm tido e expectante com o lançamento no dia 29, no Teatro do Bairro: aproxima-se a hora de “entregar” o disco às pessoas, finalmente! Eu espero que gostem. E é bem provável que dê um mergulho no próprio dia para me inspirar.
Casa é canção
Onde ecoa um refrão sem esforço
Casa reluz
No tilintar da chave o teu rosto
Casa é qualquer lugar
Onde descansas o teu peito
Casa tem dois braços que
Nos recebem de qualquer jeito
Casa é de dois
De cinco de sete
De quantos formos nós todos
Casa seduz
Pé descalço
Meu sossego em seu ombro
Casa é qualquer lugar
Onde descansas o teu peito
Casa tem dois braços que
Nos recebem de qualquer jeito
Geografia onde fica a minha casa?
E que significa não ter poiso, não ter nada?
Geografia, o que define a minha casa?
“Casa não tem tempo de partir ou de chegar
Casa toda é tempo para quem sabe regressar. “