Não são raras as vezes em que atravessamos momentos na nossa vida em que surge Aquela pergunta que se torna proibida. Não a queremos ouvir, não a queremos responder, não nada. Mas é inevitável. Algures, alguém, seja por curiosidade, cobrança ou apenas preocupação, vai fazê-la. Não é que na minha vida tenham surgido muitas alturas destas, mas já devem estar a adivinhar a origem do tabu… O meu doutoramento! Claro que sim!
“Como vai a escrita da CAT?”
“Como vai a escrita do paper?”
“Como vai a escrita da tese?”
“Como vai a escrita do código?”
“Como vai a escrita de opiniões no blogue?”
“Como vai a escrita do raio que te parta?”
Ahahah, esta última, claro, não é real. E, reparem, não tem mal nenhum que façam este tipo de perguntas, pelo contrário, mas há alturas e pessoas que quando o fazem, fazem também disparar o sistema nervoso! É claro que tenho noção que escrever não é assim tão difícil, não é como se me sentisse bloqueada para escrever no sentido de não saber o que escrever. O problema é mais ridículo que esse. É a insegurança! Insegurança que a estrutura não preste, insegurança que o conteúdo não esteja claro e objectivo quanto baste para que interesse logo desde o início, insegurança que, no fundo, meses e meses de trabalho sejam postos de lado como se não tivessem existido.
E isto é válido para quando estou a escrever relatórios, artigos científicos, ou até quando estou a programar. Chega a ser ridículo. Eu tenho uma ideia, faço desenhos, diagramas, esquemas, o que for, é só abrir o editor e começar. Mas e… começar? Parece que de repente o ar está mais denso e custa um bocadinho mais respirar. Verdade seja dita, acho que o problema é mesmo meter as mãos na massa, porque depois começando raramente tenho bloqueios ou dúvidas sobre aquilo que quero transmitir, mas até ter a certeza de que o que quero é o melhor e até me sentir pronta a começar, às vezes demora. Não faço ideia como é com as escritas dos romances, pois não percebo nada de escrita literária, mas na escrita científica o receio de realmente não se estar a fazer nada de útil ou que possa de alguma maneira contribuir para uma evolução da ciência causa alguma paralisia. Ou então sou apenas eu que sou parva.
Isto tudo porque acabei de ler A Louca da Casa, de Rosa Montero, onde ela explora a escrita literária, os vários tipos de escritores, dá dados biográficos sobre vários autores de clássicos e ainda explora as várias crises emocionais que todos eles passaram/passam. Desde depressões a estados de angústia profunda. Entre a realidade e a fantasia, a verdade é que ler este livro exorcizou algumas coisas em mim porque às vezes dá-me a sensação que existem alguns tipos de escrita literária que aproximam-se bastante da escrita científica. Não no estilo, mas no método. É isto. Fica o pequeno devaneio domingueiro. Isso e a constatação que tenho então, neste momento, uma opinião de um livro para escrever, parte de um artigo científico para completar, a CAT para escrever de raiz (só tem ainda o índice) e um projecto científico novo que precisa de tempo para desenho conceptual e programação. Pouca coisa!
Beijos e espero que possam estar mais descansados desse lado. Se se encontram em situações parecidas de stress (mesmo em contextos diferentes), arranjem na mesma escapes (como ginásio, caminhadas, corridas, o que for que envolva alguma actividade física) para poderem descomprimir e respirar fundo para recarregar energias! Até já!