A Louca da Casa
Rosa Montero
Editora: Livros do Brasil / Coleção Miniatura
OPINIÃO: Primeiro livro terminado em 2017. Uma espécie de record no que toca ao término da primeira leitura num qualquer ano. Mas a culpa não é d’A Louca da Casa, pelo contrário, este foi o único livro, de vários que experimentei na primeira semana de Janeiro, a prender realmente a minha atenção.
Já em 2015 havia iniciado o ano com uma leitura de Rosa Montero – A ridícula ideia de não voltar a ver-te – e isto tem o seu quê de catártico, começar o ano a absorver tantas emoções familiares que raros escritores têm a capacidade de transmitir com essa proximidade. Desta vez não tive meios para registar muitas das passagens que me marcaram, como fiz com a anterior obra da escritora, mas antes de explorar muito mais este livro é fácil dizer: LEIAM-NO!
“A imaginação é a louca da casa” é um frase de Santa Teresa de Jesus. E a imaginação pode ser inquietante. Toda esta obra de Rosa Montero é um hino à fronteira entre o real e o imaginário, que por vezes é tão ténue que deixamos de conseguir distinguir uma da outra. E esta fragilidade, ou força, humana, é explorada através de uma viagem literária recheada de nomes de referência e ainda com vários relatos pessoais. Penso que existem várias formas de olhar para esta obra, daí a mesma não se encaixar em nenhum género específico, o que adoro.
Recentemente descobri que é este tipo de obra literária que mais me desperta a atenção e mais me prende. Existe de tudo um pouco, ficção, biografia, romance, ensaio, fantasia… Existe principalmente uma grande projecção de uma ideia que se quer explorar. Em A Louca da Casa, a ideia é a da escrita e de como a escrita pode ser libertadora e asfixiante ao mesmo tempo.
Li algumas entrevistas da autora sobre este livro, portanto sei que muito do que o que está lá não é real, mas honestamente não quero saber o quê. Podia esquadrinhar a vida da autora e perceber se os dados pessoais que apresenta são reais, podia ir tentar verificar tantas outras coisas, mas não quero. Não quero porque a narrativa em si foi um acontecimento por si mesmo. Quem é que nunca sentiu que tinha tantas emoções a transbordarem, em que nos sentimos a roçar a loucura, em que o único alívio possível parece ser pegar num caderno ou num teclado e começar a escrever?
A escrita tem este poder, de exorcizar demónio, reais, imaginados, sonhados. Claro que achei super interessante o relato sobre vários escritores e como a sua afirmação na crítica se tornou uma obsessão. Revi muitos escritores amigos meus em muitas passagens sobre as frustrações, os altos e baixos durante a escrita de uma nova obra, ou até nas crises do antes e do depois.
No entanto, foi na personalidade de Rosa Montero que mais me apeguei. Não que seja uma espécie de voyeurismo, mas antes porque revejo muito na personalidade da autora. Na sua independência, nas suas inseguranças e nas suas certezas (reais ou aparentes). Cada obra é tão real para um leitor quanto a sua experiência pessoal. Digam o que disserem, esta é a minha opinião. Todas as nossas vivências vão sempre influenciar a forma como olhamos para qualquer obra de arte. Acho que este livro também é sobre isso. Seja como for, A Louca da Casa fica mais do que recomendado.