Opinião: Quando perdes tudo não tens pressa de ir a lado nenhum, de Dulce Garcia

Quando perdes tudo não tens pressa de ir a lado nenhum

Dulce Garcia

Editora: Guerra & Paz

Sinopse: Um homem, duas mulheres, uma criança. A história de um triângulo amoroso à luz do que são hoje as relações sentimentais, marcadas por separações e recomeços e jogos psicológicos variados. Um romance onde se fala de paixão, desejo, raiva e um medo incrível da loucura. Também tem ameaças, mentiras e sexo. E humor, esse lado cómico que existe em todos os episódios, até nos mais trágicos. O que nos leva a apaixonarmo-nos e deixar tudo para trás? Como é possível mentirmos para obrigarmos alguém a ficar ao nosso lado. É normal um pai não gostar de um filho? E o amor, sempre o amor, é hoje uma doença ou a única terapia? Isabel sempre disfarçou os seus sentimentos debaixo de uma capa de serenidade, sobretudo desde que o irmão enlouqueceu depois de assistir a uma autópsia. Mas apaixona-se. Uma história de amor escandalosamente contemporânea, que fala de desejo e raiva, da violência do fim dos casamentos e da luta em torno da guarda dos filhos, da culpa de quem decide partir e de como isso pode arrasar o futuro.

OPINIÃO: Há muito tempo que não lia uma obra de estreia, de uma escritora portuguesa, tão boa. O romance é baseado numa história real, mas o que me surpreendeu foi o formato “thriller” que a autora acabou por adoptar. Temos uma primeira narrativa mais longa da protagonista, passando depois a outras mais curtas, rápidas, cheias de pormenores, saltos temporais e mentais, não só da protagonista como também da personagem masculina central ao triângulo amoroso que nos é posteriormente dado a conhecer. Após a leitura da sinopse, confesso que achei o início algo inusitado. Cheguei mesmo a pensar que se poderia dar o caso de estar perante um livro em que a sinopse pretende fazer da história mais do que ela é (não me digam que nunca se depararam com livros assim…), mas estava redondamente enganada. E ainda bem.

Quando perdes tudo não tens pressa de ir a lado nenhum é, por si só, um título genial. Chama a atenção, faz-nos logo reflectir sobre uma série de acontecimentos, sem ainda sequer conhecermos o universo que se encontra dentro daquelas páginas. Pontuação máxima no que diz respeito ao título, mas também à capa, que está muito bem conseguida. O enredo, em si, vai certamente tocar todos os leitores que decidirem mergulhar nele. Não digo que se vão identificar por completo com qualquer um dos lados da história, ou talvez aconteça, mas duvido que ao longo do caminho não encontrem pontos comuns, circunstâncias com as quais provavelmente já se cruzaram, directa ou indirectamente. 

Estamos perante uma obra muito reveladora dos aspectos viscerais das relações entre seres humanos. Não só das relações amorosas directas, mas também de como as relações parentais podem ter ecos intermináveis quando crescemos. O grande ponto forte deste entrelaçar de vidas e de imprevisibilidades é a coerência e o realismo (não fosse então baseado numa história real) que tanto nos arrebata como nos surpreende. E quando falo em surpreender, não é que realmente sejamos apanhados desprevenidos com alguma das decisões que vão sendo tomadas pelos protagonistas, mas antes pelo reforço do quão difícil consegue ser e do quão distorcida a mente humana por vezes fica quando tem que lidar com rejeição. Existe de tudo: coragem, ousadia, cobardia, loucura, o tradicional parecer o que não se é e só se revelar quando de repente se vê a zona de conforto ameaçada, e ainda passionalidade agressiva, sem fronteiras sobre o que é saudável ou não. 

Dulce Garcia mostrou-se de uma mestria  brutal. A consciencialização constante de que todo o acto tem uma consequência, combate constantemente com uma série de emoções que não se conseguem explicar, que tornam o ser humano, por vezes, irracional. Encontrar o equilíbrio entre o que é certo e racional, tentando o mínimo de danos colaterais possível, é uma luta que todos travamos diariamente e aqui fica um desses testemunhos. Parabéns à autora e parabéns à editora pela excelente aposta. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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