Carolina Sepúlveda |
O aclamado projecto de Pedro Oliveira, ex-Spider, Blarmino, e Pedro Chau, baixista dos The Parkinsons, continua a sua profícua viagem de apresentação do EP de estreia.
E o que acontece quando a paragem é numa sala com Jacco Gardner e Eduardo Morais?
Acontece a viagem cósmica intitulada Solar Flares, novo tema dos Ghost Hunt produzido pelo músico holandês e registada em vídeo pelo realizador português.
“Uma sonoridade repetitiva e hipnótica, marcada por caixas de ritmos e sequenciadores, pela sobreposição de camadas de sintetizadores, linhas de baixo circundantes e guitarras que cortam o ar, resultando num som denso e encantatório. É uma musica instrumental com muitas músicas lá dentro.” Vitor Belanciano in Ípsilon (4 estrelas)
DATAS ANUNCIADAS:
30/04 Teatro das Figuras, Faro
06/05 Festival Rock Off, Cantanhede
19/05 Musicbox, Lisboa (com Silver Apples)
26/05 Warm up Festival A Porta, Leiria
09/06 Teatro de Aveiro
26/06 Festival Basqueiral, Santa Maria de Lamas
28/07 Festival Rodelus, Braga
29/07 Ponte de Lima
“Ghost Hunt é ruído feito com muitas máquinas, mas é ruído feito com paredes e paredes de som meticulosamente combinadas. Paredes essas que revelam ser linhas melódicas, que podem ser curtas como jingles ou longas como cantos de baleia. Essas linhas melódicas difundem-se umas nas outras como o fluxo das ondas num mar agitado.
Com Pedro Chau a servir-lhe linhas de baixo muito tensas e ásperas, Pedro Oliveira instala em palco um estúdio de som. O equipamento está disposto em U, e no interior desse U músico, operador de som e arranjador fundem-se num só corpo.
Para um ouvinte com carinho por etiquetas, a primeira referência a que imediatamente associamos Ghost Hunt é a bandas como Kraftwerk, Harmonia, Cluster, Neu! A razão é menos estética do que operativa: há no modo de tocar dos Ghost Hunt uma grande afinidade pelas técnicas de assemblage da geração do Krautrock. Algum do equipamento que usam foi criado nessa época. De resto, a sua maquinaria é quase toda analógica. Não podemos ignorar também o percurso da dupla em bandas de guitarras (os dois Pedros são de Coimbra. O facto de se reunirem quando já nem vivem na mesma cidade ilustra bem a importância da cena de Coimbra, que gerou os músicos mais inovadores e obcecados do país.) Temos de fazer marcha atrás por muito daquilo que os formou, acima de tudo a música dos anos 80: o som “shoegazer”, a tecno de Detroit, o acid, o electro industrial, o synthpop, e, lá mais para trás, as primeiras bandas de heavy metal, o punk, o rock psicadélico, o garage rock. Mas este arsenal de correntes estéticas, na praia de Ghost Hunt, dissolve-se em rochas sedimentares e areia muito fina. A música está nas ondas. Na zona de rebentação.
A produção musical é um constante vai-vem entre manipulação e pureza expressiva, entre engenho e inspiração. Entre imitar para chegar a algo novo e improvisar livremente até embater numa referência antiga. Há uma década atrás, Pedro Oliveira
formou com JP (outro Pedro, outro músico vindo de Coimbra) os Spider e depois Blarmino. Passou então por uma série de metamorfoses em que se reconhecia a nostalgia pelos anos 80: da tecno com guitarras para o electro com guitarra e baixo. Mas já então podíamos identificar a sua marca de estilo: som denso, psicótico, ritmo agreste, melodias encantatórias.
Em Ghost Hunt já não se trata de estar entre uma coisa e outra, a fundir estilos ou géneros. Também não se trata de fazer disparar sons e efeitos previamente preparados – são fabricados à nossa frente, no acto de execução. Podemos assistir à sua construção, como tudo se ergue e volteia pelo espaço.
A música conta a sua própria história: como se faz: que relação é estabelecida com as ferramentas disponíveis. É uma fábrica de sons vivos a engendrarem delírios de viajante. Visitamos um laboratório de memórias psicotrópicas, com infinitos jogos de dança, jogos de quero-mas-não-toco, e uma multidão de diálogos e juras de amor às camadas geológicas da música. Viajamos dentro do som. Às vezes até julgamos reconhecer algo familiar, que nos fascinou há muito, muito tempo – mas fomos apenas surpreendidos pelo fantasma da música a ser caçado à nossa frente.” Rui Catalão
“… Vêem-se e ouvem-se guitarras, mas Ghost Hunt não é um grupo de rock convencional; Vêem-se e ouvem-se sintetizadores e sequenciadores mas não se pode dizer também que este duo se encaixe tranquilamente no campo mais familiar da electrónica. É a natureza híbrida destes fantasmas que lhes dá a identidade particular.” Rui Miguel Abreu