“Há uma moda omnipresente entre os jovens: passar o tempo a fazer exercício e a ter um estilo de vida saudável. Para mim, saudável, nesta altura, nesta idade, é fazer do corpo um abismo, um apocalipse. O prazer de ser jovem reside na ausência da preocupação com a salubridade e numa conquista do barro, da imersão no erro, no caos. A higienização da vida, na juventude, é um envelhecimento precoce. Procuram um ideal de saúde e beleza no momento em que esse ideal já faz parte das suas vidas. Não imagino como se lhes será dolorosa a velhice.
É muito provável que a preocupação com um estilo de vida saudável lhes traga alguns benefícios mais tarde, mas retira a experiência de uma vida posta no limite, impede-os da embriaguez, da possibilidade do êxtase, em troca de uma moderação e contenção caquécticas, consumindo bagas exóticas e superalimentos (o que será isso?), folhas de alface e iogurtes com bactérias inventadas pela publicidade. Andam em bicicletas sem rodas e correm esteiras sem paisagens, enquanto ouvem pop nos seus auscultadores e contam os batimentos cardíacos num telefone. Escolhem uma vida sem sobressaltos, absolutamente rendida a uma temperança monástica. Preferem uma vida em quantidade, longa, em vez de intensa, curta e dolorosa. É uma pena. Como escreveu Joaquín Verdaguer, «não criemos, pelo amor de Deus, um mundo de café sem cafeína, tabaco sem nicotina e álcool sem embriaguez. Não façamos do mundo um imenso e feio bolo sem açúcar.»”
Afonso Cruz, Jalan Jalan