Fotografia José Frade |
Conheci o trabalho de Ben Frost através de um músico português, o Ricardo Remédio. Na altura pedi-lhe para fazer uma playlist para o blogue e Venter, do disco “AURORA”, fazia parte dessa playlist. Desde então que desenvolvi um certo fascínio pelo trabalho de Ben Frost. Existem texturas, conjugações sonoras e paisagens electrónicas a que só ele parece conseguir dar forma e provocar uma série de emoções. São como bandas sonoras de cenários que nos são arrancados do âmago. Isso ou apenas dimensões que vão sendo construídas e nas quais mergulhamos sem sabermos bem onde estamos, mas onde queremos permanecer. “The Centre Cannot Hold” corresponde a esta última sensação. E aqui faço um parêntesis. Já viram a série alemã da Netflix, Dark? A música original é da autoria do Ben Frost e, dadas as características da série, da fotografia, dos enquadramentos e do enredo, comecei a associar a série um pouco a este universo do disco.
Pouco depois das 22h já o público estava sentado. Para uma Terça-feira à noite foi admirável como a sala encheu. Ainda com as luzes de plateia ligadas, já uma instalação visual/sonora se fazia ver/ouvir. Assim que as luzes se desligam, o silêncio entre o público impera. Ben Frost sobe ao palco e é como se todos suspendêssemos um pouco a respiração. O jogo entre a melodia, a distorção e os ritmos impostos levam-nos a viajar pelo vazio, pela escuridão, pelo fim, mas também pelo início, por ciclos de morte e renascimento num jogo de luzes que consegue manter as sombras afastadas o suficiente para também sentirmos luz no seu trabalho. A instabilidade dos tempos é aqui colocada como ponto visceral da criação artística de Ben Frost. Toda a arte visual que acompanhou o concerto, desde plana a tridimensional, ajuda a criar uma espécie de hipnose. Todo o concerto é desafiante, até mesmo violento. Todo o corpo vibra com as projecções sonoras e a mente inquieta-se. Não é fácil falar de um espectáculo destes pois acredito que é daqueles que é vivido de forma muito pessoal por cada um. A noite de Terça-feira, no Teatro Maria Matos, foi uma autêntica obra de arte e Ben Frost o artista que usa a imperfeição para criar perplexidade, abismo e, ao mesmo tempo, esperança.
Fotografia José Frade |
Fotografia José Frade |
Fotografa José Frade |
Fotografia José Frade |
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