Está a decorrer, desde 16 de Junho, o magnífico Festiva A Porta em Leiria, que cruza diferentes artes e faixas etárias. Dado o seu dinamismo, tornou-se imperativo saber um pouco mais sobre a iniciativa que faz Leiria ferver de actividade, alegria e deslumbramento durante estes dias. As respostas à entrevista são da Ana João, uma das directoras artísticas do festival em conjunto com Gui Garrido, Lara Portela e o colectivo Meia Dúzia e Meia de Gatos Pingados.
Como é que surge o “Festival A Porta”?
O festival A Porta surge da vontade de criar sinergias entre pessoas e associações que sonham com uma Leiria diferente, com as suas portas mais abertas à arte e às pessoas. É um festival que quer abrir ao público espaços nunca antes navegados, revitalizar zonas da cidade esquecidas, incentivar a criação artística contemporânea, nas suas múltiplas disciplinas e expressões, e mostrar o que de melhor se faz na cidade, com a cidade. Leiria está cheia de gente ávida de arte e energia transformadora, que quer proteger e ao mesmo tempo potenciar o seu património cultural. É esta gente que abre A Porta aos leirienses e ao mundo.
Sendo um festival tão interdisciplinar que logística e apoios é que este requer? Tem sido fácil consegui-los?
Requer a força de vontade de Meia Dúzia e Meia de Gatos Pingados (o coletivo que organiza o Festival), muito profissionalismo e fortes parcerias entre todos os agentes envolvidos. Ao fim de 4 anos, o festival já consegue envolver um número considerável de recursos humanos e materiais. No entanto, o financiamento e a disponibilidade da equipa de produção ainda não são suficientes.
De que forma é que o festival tem contribuído para a exposição de todo o trabalho artístico e educativo que é feito em Leiria?
Para além de um Serviço Educativo, que este ano leva cerca de 500 alunos do 1º ciclo e 200 utentes de IPSS’s a visitar e experimentar a Casa Plástica, e que dinamiza uma série de Oficinas/workshops infantojuvenis de caráter multidisciplinar e intergeracional, o festival tem tem vindo a criar soluções concertadas e criativas para poder conquistar o público e mostrar-lhe o trabalho de artistas emergentes e em franca expansão.
A parte musical é, à primeira vista, a que chama mais à atenção. Quais é que são as vossas preocupações em termos das bandas que convidam e do tipo de concertos que darão?
A música no Festival A Porta privilegia 3 eixos: mostrar a música que se faz em Leiria e desafiar os artistas da cidade a novas experimentações, projetos e encontros; criar uma janela para a emergência da nova música portuguesa e internacional; e proporcionar festa, animação cativando um público diverso e inter-geracional com propostas para todas as idades. A região de Leiria é representada neste festival por First Breath After Coma, Nice Weather for Ducks, Koyaanisqatsi, Carollyne, Churky, 001, Coringas. A música internacional traz propostas dos Estados Unidos da América – Emperor X, Holanda- Blue Crime ou Espanha – Mohama Saz, e Portugal vibrante vem com nomes como Conan Osiris, Memória de Peixe, Filho da Mãe ou Primeira Dama. Finalmente e para todos, há Bonga. Artista sem tempo, do mundo, o grande guardião da festa nesta edição da Porta.
A maior parte dos concertos são gratuitos. O festival ainda assim consegue ser sustentável?
Garantir a sustentabilidade do festival é um trabalho infinito que é repensado a cada nova edição. Só 3 dos cerca de 30 concertos são pagos, e isso já é um dado novo em relação a edições anteriores. À medida da definição de cada cartaz, e do projeto de cada ano vamos entendendo também as necessidades e nos ajustando ao que o festival se vai tornando. Para já, e com a expansão do festival urge profissionalizar esta estrutura, garantir-lhe condições de trabalho e possibilitar que A Porta se abra o ano todo, além desta semana de intensidade.
Fora a música temos ainda ofertas culturais como a Casa Plástica, a Portinha, os Jantares Temáticos e 1001 Portas. Ou seja, temos actividades para todos os gostos e feitios, dos mais pequeninos aos mais velhos. Conseguem dar uma espécie de sugestão de itinerário para uma experiência completa num dia no Festival? Ou seja, como seria um dia ideal no Festival A Porta?
Todos os dias são muito diferentes uns dos outros, sendo muito difícil para nós escolher apenas um deles. O ideal seria começar por ir tomar o pequeno-almoço numa esplanada da Praça Rodrigues Lobo e, com calma, estudar o desdobrável do festival. Logo descobriria que existem 4 noites de concertos pela frente, impossíveis de rejeitar. O primeiro, dos First Breath After Coma e convidados, na bela Villa Portela; o segundo, com os Dead Combo no Teatro José Lúcio da Silva. Sexta e Sábado, no Jardim Luís de Camões, com Nice Weather For Ducks e Bonga!!! Mas nem só da noite se faz este festival. No sábado, 23, o coração bate mais forte na Rua Direita e suas transversais. De manhã aconselha-se um bom passeio para conhecer os 70 corajosos que aceitaram juntar-se à Feira Bandida para mostrar as suas artes e antiguidades. Os mais novos poderão participar ao longo do dia numa das oficinas da Portinha previstas onde poderão fazer pão colorido, um filme de animação, um tapete em tecelagem vegetal e muito mais. Aí por volta das 14h, poderia experimentar o passeio das artes e ir conhecer a Casa Plástica e as propostas de 21 artistas plásticos em exposição. De volta à Rua Direita, é deixar-se levar pela maré e ir assistindo à magia do momento que durante uma horas transforma aquele espaço numa dimensão intemporal, com concertos e 1001 portas a abrir. No domingo, para descomprimir e assimilar uma semana intensa de coisas boas, levariamos a manta até ao parque do avião, um cesto recheado para um piquenique partilhado entre família e amigos, e ainda alguma vontade para passear de canoa ou paddle pelo rio, dançar ao som dos G Combo, fazer uma cãominhada, pintar uma porta, ou simplesmente deitar de barriga para o ar, fechar os olhos, e sentir o prazer de ali estar.
Mais informações sobre o festival: http://www.branmorrighan.com/2018/06/destaque-festival-porta-de-16-24-junho.html