Já sabes o que vais ler neste Verão? Sugestões de Sofia Teixeira

Já sabes o que vais ler neste Verão?

O Verão é sempre uma altura em que os livros caem que nem uma limonada fresquinha. Seja na praia, numa esplanada, numa varanda em noite de Verão, ou até mesmo como companheiro de viagem, existe sempre espaço para uma leitura que nos entusiasme, que nos agarre, que nos traga mais significado aos nossos dias. Este ano não terei propriamente férias de Verão, mas para quem tem a oportunidade de usufruir de uns dias sem preocupações e stresses laborais, deixo-vos as minhas dez sugestões, cada uma de um género diferente, cada uma especial à sua maneira. Para lerem as sugestões do João Morales, basta visitarem este link.

A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te

Rosa Montero

Porto Editora

176 páginas

18,80 euros

Aqui está uma obra que comecei a reler na minha viagem a Lipari, Itália. Eu bem costumo dizer que os livros têm uma vida própria e que são eles que nos escolhem a nós e não o contrário. Lembro-me perfeitamente de estar a sair de casa, prestes a partir, e de voltar atrás para o colocar dentro da mochila. Quando o li pela primeira vez tocou-me profundamente, mas esta releitura revelou-se uma autêntica redescoberta de novos pormenores e novas subtilezas que na altura me passaram despercebidos. É sobre a grande Marie Curie e a própria magnífica Rosa Montero. Duas grandes mulheres cujas vidas se entrelaçam através da dor e do luto, resultando no diamante bruto que é este romance. A vida de Marie Curie, a primeira grande mulher cientista a ganhar um nobel, está recheada de controvérsia. Para a altura em que viveu, Curie era tanto revolucionária como se centrava no papel da filha/irmã/esposa dedicada. Este é também um livro sobre a evolução do papel da mulher na ciência e na sociedade.

O Luto É A Coisa Com Penas

Max Porter 

Elsinore

128 páginas

16,59 euros

Li este livro, pela primeira vez, na sua versão original – Grief Is The Thing With Feathers. Andava sozinha por Paris quando parei na Shakespeare & Company e vi este pequeno livrinho lá no alto de uma prateleira. A vantagem de ter 180cm é que facilmente este livro me chamou à atenção e estou muito contente que entretanto tenha sido traduzido e tão bem editado pela Elsinore. Como o título indica, é mais uma viagem pelo luto, mas do ponto de vista de uma família cuja matriarca morreu. Entre a fábula e a poesia, Ted Hughes, o protagonista, recebe a visita de um corvo que rapidamente se torna em mais um membro da família, dedicado a estar presente e a desmanchar o novelo que é a dor da perda. Não obstante, é perspicaz e incisivo. A narrativa não é linear, não é bem comportadinha e não segue um rumo bem definido. Vamos tendo acesso a fragmentos de interacção, de reflexão, de esperanças e desesperos, de uma série de emoções tão pessoais e humanas que esta tornou-se numa das obras que mais me tocou.

Uma Rapariga É Uma Coisa Inacabada 

Eimear McBride 

Elsinore

256 páginas

17,69 euros

De tempos a tempos apanho livros assim, livros que contém em si muito mais do que meras páginas com letras que em sequência formam frases de uma história linear. Esta é, provavelmente, uma das obras mais perturbadoras e brutais que já li. Demorei algum tempo a arrancar com a leitura, esta requer alguma atenção e concentração iniciais para que possamos perceber a (não) estrutura da narrativa e que papel directo outros intervenientes têm na forma como a protagonista expõe as suas vivências. Apanhado o ritmo, e ritmo é coisa que não falta nestas palavras que tanto se atropelam como se parecem estender para lá do infinito, houve alturas em que li dezenas de páginas seguidas, outras que li meia dúzia e parei. Não acho que seja um livro para o estômago de toda a gente, apesar de o achar acessível a qualquer pessoa. Estamos perante um romance que impressiona, que mostra uma realidade algo fragmentada, mas que toca, que acorda demónios, que incita a que se abram os olhos, a que se limpem os ouvidos, a que se desperte para uma realidade que gostamos de pensar existir só em livros e em filmes, mas que na verdade poderá estar ao virar da esquina. Ainda assim, recomendo completamente. 

A Arte Subtil De Saber Dizer Que Se F*da

Mark Manson

Desassossego

208 páginas

15,50 euros

Esta é uma sugestão quase obrigatória. Não é que o livro seja a maior obra de arte deste universo, mas quer se goste quer não Mark Manson consegue provocar reacções à sua narrativa. Uns irão concordar com a sua postura, outros colocá-la-ão em causa, mas só este exercício de nos debruçarmos sobre as nossas crenças é importantíssimo. The Subtle Art Of Not Giving a Fuck é uma leitura que nos irá confrontar com as coisas às quais damos valor (ou não) e porquê. Será que vale a pena ficarmos chateados, perturbados, a dar em doidos com certas coisas? Resumindo: dizer “que se foda” não é não nos importarmos com nada, é antes sabermos escolher bem as nossas lutas e aquilo pelo qual vale empreendermos o nosso tempo e dizer “que se foda” a tudo o que contrarie isso e que possa exigir de nós mais o que aquilo que merece. A vida é feita de pequenas lutas, mas umas valem mais o nosso tempo e dedicação do que outras. A motivação, os valores inerentes a cada uma das nossas acções merecem ser pesadas para percebermos até que ponto são benéficas ou nocivas. E é isto que Mark Manson nos tenta incutir, pelo menos na minha interpretação.

Novela de Xadrez

Stefan Zweig 

Livros do Brasil

104 páginas

8,80 euros

Novela de Xadrez é considerada, por boa parte da crítica, a derradeira obra de Zweig, talvez também por ter sido o último escrito registado antes do seu suicídio. Ao relembrar-me de Mendel dos Livros, e ao ler este livro, aperta-me um pouco o coração ao constatar tantos paralelismos entre o autor e os seus protagonistas. Criações fictícias da minha cabeça ou não, a verdade é que me parece inevitável não imaginar todas as provações psicológicas pelas quais Zweig terá passado e de que forma as terá exorcizado nas suas obras. O que começa como um entretenimento pode facilmente tornar-se numa obsessão, num vício. E por muito inofensivo que o vício possa parecer, há sempre algo que se perde no processo. O xadrez é aqui usado de forma magistral, através de alegorias curtas, intensas e marcantes. Zweig tem sido particularmente astucioso a descrever obsessões. Talvez por ele também as ter vivido, não sei. O que sei é que este ser humano que nos deixou como património os seus escritos, sabe como tocar e arrebatar quem o lê.

Grita

Laurie Halse Anderson

ASA

176 páginas

14,90 euros

Grita é daqueles livros que quando lemos, por muito tempo que passe, nunca nos esquecemos da história que nos conta. É impossível ficar-lhe indiferente. Por muito tempo que passe, será sempre algo real, actual e que, talvez por isso, se devesse tornar numa leitura obrigatória. Melinda é uma jovem adolescente tão normal como tantas outras até ao dia em que decide ir a uma festa de fim de ano; festa essa que acaba mal. Após uns momentos de terror, ela vê-se obrigada a chamar a polícia, estragando assim a festa aos seus amigos. Ou pelo menos é assim que eles vêem a situação. Como Melinda, ainda completamente apavorada, não justifica o porquê de ter chamado as forças policiais, rapidamente se torna num alvo de puro gozo e humilhação. Para além de estar muito bem escrita, Grita é uma obra que merece reflexão. Nem sempre os pais conhecem os seus filhos, nem os professores conseguem lidar bem ou mostrar interesse por quem, seja por que motivo for, se manifesta diferente do que é comum e banal. É daqueles livros que abre os olhos aos mais jovens que fazem parte da nossa vida. Um alerta necessário.

Saga – Volume I 

Brian K. Vaughan & Fiona Staples

G Floy Portugal

168 páginas

10,99 euros

Fugindo ao romance normal, deixo-vos agora a sugestão de uma banda desenhada extraordinária. Que dupla! Que história! Mal comecei a ler senti que estava perante um novo tipo de aventura, que os romances tradicionais não podem proporcionar. Alana e Marko chegaram para ficar e desconfio que vou devorar os sete volumes até agora publicados muito rapidamente. 

A sinopse de Saga já diz o suficiente sobre a história de Alana e Marko. O que não consegue transmitir é a bestialidade do universo criado. Sendo uma obra de fantasia/ficção científica, existiu uma liberdade para explorar seres com diversas características físicas que ao mesmo tempo espelhavam a sua personalidade. A linguagem é ousada e provocadora e se o argumento é apelativo, as ilustrações de Fiona Staples são qualquer coisa de outro mundo. São brutalmente belas. Conseguem ser agressivas, sensuais, emotivas ou despidas de emoções quando assim se requer, mas sempre cheias de vida. Recomendo vivamente.

A Um Deus Desconhecido

John Steinbeck 

Livros do Brasil

208 páginas

8,80 euros

A Um Deus Desconhecido é tudo aquilo que foi, que é, que será. Joseph Wayne, o protagonista, é a personificação de tudo aquilo que passou a ser temido e ignorado. Desde o início da narrativa que prevemos haver mais para além daquilo que o olho é capaz de testemunhar. A escrita descritiva de Steinbeck é perfeita neste contexto, dá-nos uma profundidade paisagista que suporta a estranheza de algumas das suas personagens. Sempre mantive para mim que a ignorância e a incompreensão serão sempre os maiores causadores de desgraças e de guerras. Este livro, nas suas nuances e na sua beleza bucólica é de um euforia e tristeza constantes. O final é de uma intensidade que certamente fará com que nenhum leitor se esqueça daquilo que acabou de ler. E fica a revolta dos tempos, a entrega sincera e desprovida de interesse, a agonia da impotência face a forças e acções que fogem ao nosso controlo. A Um Deus Desconhecido é uma das lições mais intemporais que poderemos encontrar na literatura. 

Ensina-me a Voar Sobre os Telhados

João Tordo

Companhia das Letras

448 páginas

18,80 euros

O grande tema desta obra é a obsessão. Seja obsessão por um qualquer vício (perdoem-me o pleonasmo), estado de espírito, tema ou pessoa. Não é dos romances mais fáceis de ler, mas é certamente daqueles em que o desafio se torna numa espécie de concretização, qual amante nas sombras à espera do seu par. São percorridos vários locais e espaços temporais diferentes. Japão, Portugal, presente, passado, gerações que se cruzam de forma inteligente e perspicaz, prendendo o leitor e surpreendendo-o. Muitas vezes tive a sensação de estar a ler histórias dentro de histórias para a seu tempo João Tordo nos dar a cereja no topo do bolo e de alguma maneira pacificar a nossa constante inquietação. Sim, este é um livro que nos inquieta, que nos revolve, que nos faz questionar não só a nossa postura na vida e a nossa personalidade como também as nossas crenças. A grande proeza em Ensina-me a Voar Sobre os Telhados é a forma como o escritor português consegue transmitir todos os acontecimentos de forma tão intrigante e eloquente, mesmo quando entramos em terrenos sensíveis.

Doida Não e Não

Manuela Gonzaga

Bertrand

408 páginas

17,70 euros

Não podia terminar as minhas sugestões sem voltar às histórias de grandes mulheres que estavam fora do seu tempo e que lutaram por aquilo em que acreditavam. Em Doida Não e Não, Manuela Gonzaga, uma das nossas escritoras mais brilhantes, pega na história de Maria Adelaide e dá-nos a conhecer uma história mirabolante, porém totalmente real. Há algo que posso destacar desde o início, principalmente para aqueles que resistem a ler biografias: Doida Não e Não! é fascinante de se ler e está escrito num estilo muito próximo do romance, tornando a leitura fácil e prazerosa. A protagonista sofreu todo o tipo de opressão e de violência psicológica que se possa imaginar, incluindo tendo sido internada e dada como louca por psiquiatras conceituados, apenas porque ousou abdicar de tudo o que tinha para poder ser feliz com quem queria. E isto é algo que ainda ocorre nos dias de hoje, mesmo que de forma mais ou menos camuflada. A nossa identidade só a nós pertence e ninguém tem o direito de limitar a nossa liberdade quando não estamos a fazer nada que prejudique terceiros.

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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