[Diário de Bordo] Homesick

Os portugueses têm a palavra “saudade” que é bastante não traduzível e que exprime tanto, mas a língua inglesa também tem uma palavra que ao longo do tempo se me tem tornado muito íntima – homesick. Poderia dizer, neste momento, que tenho saudades de Portugal, da minha família, do meu mais que tudo #ocaobran, dos meus amigos, e tantas outras coisas e lugares. No entanto, sinto-me “homesick” num sentido muito particular e visceral. É como ter saudades de tudo isto, mas ter em igual medida saudades de mim mesma. Sem dúvida que esta experiência tem sido uma enorme aprendizagem a todos os níveis. A vida mudou quase como da noite para o dia.

Só para percebermos melhor o contraste actual: de cientista, professora, blogger, cheia de actividade e euforia rodeada dos melhores amigos, família e o meu lindo Bran, peguei nas minhas trouxas e vim viver sozinha para o outro lado do oceano. Antes do coronavirus convivia com um grupo de quatro ou cinco pessoas durante a semana e depois do coronavirus passei a conviver com zero. Ainda fui a um concerto no The Bishop, e a um jogo da NBA em Indianapolis, mas mesmo agora que os sítios estão a abrir, não existe qualquer tipo de ritual de convívio. Se estivesse em Portugal, mesmo que lentamente, provavelmente começaria a ver alguns amigos e família. 

A primeira vez que fiquei mais de 24 horas sem dizer uma única palavra e sem ver ninguém, chorei. E não tenho qualquer vergonha em confessar isto porque imagino que não tenha sido a única pessoa a levar um choque intenso depois do coronavirus ter fechado tudo, incluindo fronteiras. Não sou, de certeza, a única pessoa a viver sozinha, longe dos mais queridos, e por isso o meu conselho é que telefonem a alguém. Arranjem maneira de falar e ver alguém (WhatsApp, Skype, Zoom, o que for a vossa praia) o mais frequentemente possível. Com o passar das semanas o processo tornou-se mais fácil, mas a mente precisa de construir onde existe vazio. Como tenho andado completamente assoberbada entre infestação de bichos (na Terça-feira o exterminador vem cá a casa pela quinta vez… melhor coisa a acontecer em tempos destes, claro!) e muitos desafios científicos, a ansiedade nem sempre está quietinha no sítio certo. 

Criei então uns quantos rituais que me ajudam a manter calma e a enfrentar uma coisa de cada vez. Todas as manhãs acordo e faço 10 minutos de yoga antes de ir cozinhar o meu pequeno almoço. Apesar de andar com um ritmo de leitura dolorosamente lento, tenho sempre dois tipos de livros na cabeceira. Um mais relacionado com yoga (estou a tentar ir à raiz das raizes do yoga e vou escrever sobre alguns destes livros brevemente) e outro um romance qualquer que facilmente me transporte para outro universo e me liberte o raciocínio de qualquer coisa do presente. Ou seja, por um lado tenho uma leitura para crescimento emocional, por outro lado tenho uma leitura que de preferência me anestesie do que quer que se esteja a passar. Por norma leio antes de ir dormir. E antes de ler tento sempre fazer mais uma sessão de yoga (por norma o vídeo que está no calendário do Yoga with Adrienne). 

Gostava de ter mais disponibilidade para o blogue. Sei que pareço uma cassete riscada, mas eu realmente sinto falta daquele entusiasmo de escrever sobre qualquer coisa. No entanto, entre noites sem dormir por causa dos bichos e o stress do trabalho, por norma sinto-me tão cansada que é difícil desligar. E voltando ao assunto inicial o blogue, é também aqui que me sinto “Homesick”. O blogue sempre foi uma parte muito grande de mim e não vejo isso a mudar tão cedo. Daí vos ter escrito esta entrada tão pessoal, porque acredito que talvez haja outras pessoas que se reconheçam nestas descrições e… Não estamos sozinhos! Se quiserem partilhar as vossas experiências e emoções da quarentena podem sempre escrever-me 🙂 

Outro voltar às origens é que encontrei alguns livros que estudam de forma mais aprofundada a deusa patrona que emprestou o seu nome ao blogue – Morrighan. Já escrevi sobre a deusa celta anteriormente, mas relembro que Morrighan é tanto conhecida como divindade individual como também um trio de deusas – Badb, Macha e Morrigu. Este livro que vos mostro na próxima fotografia é super interessante e já estou de olho noutro. Quem sabe nos próximos meses posso voltar a fazer um artigo sobre ela com mais referências. 

As outras fotografias são de uma ida ao parque há coisa de uma semana. Aqui tanto faz sol num momento, como trovoada e chuva forte logo a seguir, e foi o que aconteceu naquele dia! Despeço-me por aqui. Até breve! 

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  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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