Ora bem, porquê o meu espanto? Deixem-me começar pelo início.
Eu conheci o Filipe Faria na Feira do Livro de… 2009? 2010? Honestamente, não me lembro bem, mas tenha sido num ano ou no outro, há mais de uma década que conheço este nosso (para sempre) jovem autor português. Entrevistei-o uma série de vezes, li todos os seus livros (menos o último, que foi publicado comigo já nos Estados Unidos) e até sair de Portugal tínhamos a tradição de nos sentarmos todos os anos, numa das tardes da Feira do Livro, a colocar a conversa em dia.
A literatura nacional era sempre um dos assuntos abordados, para além de outros. E um desses outros era “porque raio, Filipe, não tens pelo menos uma página no Facebook para divulgares os teus livros?”. Imaginem que cheguei a oferecer a minha ajuda e tudo! E o Filipe, sempre no seu tom meio altivo (coisa que não é, ele é bastante acessível e um fixe, mas é preciso conhecê-lo para além de apenas conjeturar sobre a sua personalidade) lá me dizia “Sofia, não. Sofia, não. Sofia, não” (claro que não mo dizia desta forma, sempre justificou o porquê de não estar nas redes sociais). No entanto, a verdade é que, hoje em dia, o maior canal de comunicação para qualquer arte são as redes sociais. Para o bem e para o mal.
Daí, qual não é o meu espanto quando recebo uma notificação do seu canal no Telegram a dizer que ele agora tinha um canal Youtube! Chama-se Litortura Nacional e, lol (Filipe, este lol é dedicado à tua discussão sobre como o inglês se infiltrou na nossa linguagem do dia-a-dia), não podia ser um título mais à Filipe Faria.
Neste episódio zero, ele apresenta-se, diz que inicialmente se queria queixar e que depois mudou de ideias, mas a verdade é que se queixa desde o início. Ahahah! Fora de brincadeiras, o Filipe apresenta o propósito do canal, observando por si mesmo que, apesar de tanto criticarmos que não se lê literatura portuguesa, a verdade é que os próprios autores portugueses nem sempre lêem assim tanto literatura portuguesa (não é Filipe? Não se preocupem, ele mostra-vos o seu Goodreads a provar que só leu um livro português nos últimos dez meses).
E o que é engraçado é que o próprio nome do canal “Litortura Nacional” também vem da ideia que se tem que é uma tortura ler autores portugueses. Mas não quero revelar tudo o que o Filipe refere no episódio, quero só reforçar que no meio da resistência a aderir a redes sociais, esta iniciativa mostra uma coragem considerável, porque um canal no YouTube é provavelmente a forma de expressão em que pode existir mais vulnerabilidade.
Eu própria já pensei em começar um mais a sério (na verdade tenho uma ideia mais específica que está em fase de maturação), e acabei por nunca ter a coragem de dar esse passo. Parabéns, Filipe!
Dito isto, este post na verdade é uma brincadeira em tom de divulgação do novo canal do Filipe Faria. O Filipe sempre se distinguiu por ser dos poucos autores portugueses com publicação constante no género do Fantástico. Género este que em Portugal sempre foi um pouco não grato, o que faz com que a sua perseverança e a lealdade dos seus leitores seja ainda mais admirável. Podem seguir toda a sua actividade através do seu sítio: https://www.allaryia.com/