Informações gerais sobre o disco:
http://www.branmorrighan.com/2014/09/musica-cornerstone-dos-brass-wires.html
Chegou ontem, cá a casa, esta edição maravilhosa dos Brass Wires Orchestra. Se muitas vezes a beleza de um disco não está apenas na sua música, esta é uma dessas vezes. A edição física está lindíssima. O grafismo apelando ao imaginário folk, a descoberta ao abrir a caixa, ao retirar o pequeno livrinho com as letras das músicas e a informação técnica, tudo isto contribui para que de repente nos vejamos fora do local onde nos encontramos, transportados para uma floresta frondosa, entre montanhas e cascatas, numa corrida pela liberdade e tranquilidade.
Começando pela Wash My Soul e atravessando a Tears of Liberty, é precisamente esse sentimento, essa busca pela libertação de todo o tipo de amarras e pelo entendimento de si mesmo. Continuando a caminhar, somos confrontados, em The Lost King, por uma melodia mais melancólica, crescente, numa imagética de alguém que perdeu o seu próprio rumo. People & Humans traz novamente uma mensagem positiva, em que existe sempre mais do que pode parecer a uma primeira vista. Este crescendo positivismo encontra nova alegria em Love Someone, onde basta gostar-se de alguém e não se sentir medo para que o Sol brilhe sempre. O espírito apaixonado continua em Finders Keepers em que por muito que hajam mudanças, é sempre possível encontrar segurança em alguém. Anchor contraria um pouco esta tendência, numa espécie de pedido de ajuda, de encontrar um sentido nos sonhos e em si mesmo. Time traz uma mensagem muito forte, de segurança, conforto e confiança no outro. Já Prophet Child coloca em música a narrativa de alguém que consegue ver a destruição dos tempos e o fim do tempo do homem, mas que é totalmente ignorado, sendo imperativo que se ganhe novamente a confiança do planeta antes que se torne tarde demais. O disco termina com The Life I Chose, como um culminar da afirmação do indivíduo enquanto portador identidade própria e independente, assumindo a liberdade como um essencial mandatário e um grito de independência.
Talvez tenha divagado, talvez não, mas ao entrar neste disco, consigo imaginar umas quantas narrativas para cada música. Não será esse um pouco o propósito da música folk? A passagem através da música de tantas ideias e ideais, por vezes em tom poético, narrando uma evolução? Para mim é claro que este é um disco rico em conteúdo não só lírico como sonoro. Existe uma harmonia entre a diversidade instrumental que, mesmo sendo fácil associar outros músicos como Beirut ou Mumford&Sons, lhes dá um carimbo próprio e é com orgulho que reparo numa certa nacionalidade em cada uma das músicas. Está mesmo na hora do nosso país acordar para a riqueza musical que tem em si mesmo em vez de andar sempre em busca do que se faz lá fora.