A Azáfama – Produções Artísticas é uma editora musical independente que faz Agenciamento e Promoção das bandas Cachupa Psicadélica, Capitão Capitão, Hombres con Hambre, O Martim, Tono, Trêsporcento, Tupã Cunun e Vitorino Voador.
Em 2013 realizaram o primeiro Azáfama no Bairro em que juntaram grande parte dos seus músicos para uma valente noite de festa e boa disposição em que cada um teve o direito ao seu tempo de protagonismo e colaboração.
Este ano a festa repete-se, com alguns dos mesmos intervenientes, e aproveitando a divulgação do Azáfama no Bairro 2014 surgiu a oportunidade de entrevistar não só um dos editores da Azáfama, Pedro Valente, como alguns dos seus artistas: O Martim, Vitorino Voador aka João Gil que também é membro de Hombres con Hambre e ainda com o Loureço e o Salvador dos Trêsporcento, que apareceram de surpresa a meio da entrevista.
Pautada por um tom informal, mas sério, e sempre com uma excelente disposição, a entrevista começou com o Pedro Valente a falar sobre o conceito da primeira edição da Azáfama no Bairro: “Apesar da Azáfama já existir há mais de três anos, houve algo nesse último ano que mudou e sentimos que tínhamos atingido um portfólio, um crescimento, em que seria oportuno fazer uma apresentação mais oficial à indústria. Inicialmente a ideia era fazer uma festa mais tradicional, em que cada projecto tinha o seu tempo de actuação, mas depois surgiu a ideia de se fazer um espectáculo mais dinâmico em que para além de cada um actuar, houvessem também colaborações entre eles.“
O início da Azáfama remonta então a uma primeira colaboração com o JP (Capitão Capitão) em que depois, através de outras pessoas e colaborações, acabaram por se ir juntando à Azáfama todos os outros artistas. O João Gil, por exemplo, entrou através de uma troca de conhecimentos e hoje em dia o seu papel na Azáfama passa não só pelo papel de músico, mas também de produtor do novo disco do Capitão Capitão: “Isto é uma coisa nova para mim, é a primeira vez que faço algo assim, o que ganha toda uma nova forma e importância. Tenho um estúdio pequenino onde tenho boas condições e onde posso gravar e fazer algum barulho. Não tarda muito temos aí um disco!“
Aproveitando a deixa, perguntei ao João Gil como é que surgiu Vitorino Voador e o que é que este projecto a solo lhe trazia que os outros, em que já se encontra inserido (como You Can’t Win, Charlie Brown; Diabo na Cruz e f l u m e) ainda não lhe davam: “Desde que peguei na guitarra pela primeira vez, quando era miúdo, comecei a fazer música. Compor nas bandas em que participo sempre foi algo que gostei de fazer e cheguei ali a uma altura em que as músicas que andava a fazer não faziam sentido em nenhuma delas, tinham uma linguagem própria. Achei então que era então chegada a altura de fazer uma coisa só minha, em que não tinha de dar satisfações a ninguém.“
Não estivesse o João já inserido em poucos projectos, questionei-o sobre a sua mais recente aventura em Hombres con Hambre: “Somos um trio instrumental, mais virado para a música electrónica, em estilo de dança tocada. É com o António (baterista de TAPE JUNk) e o Zé Guilherme (teclista de Brass Wires Orchestra) e é uma banda que estou a curtir bastante – são sintetizadores, samplers, bateria e loucura em cima do palco. Nunca fui apreciador do espectáculo estáticos da maioria dos DJs e com este projecto conseguimos dinamizar isso.“
Já a entrada de O Martim na Azáfama, deu-se através de uma colaboração com Capitão Capitão. Por essa altura, apesar de já fazer a sua música, o cantor contou-nos que andava meio perdido em termos de encontrar uma editora e quando se deparou com a realidade da Azáfama decidiu que era ali que queria ficar: “Fui muito bem acolhido e fizeram-me sentir confortável e seguro. Sobretudo, senti que podia fazer música à minha maneira sem ter parâmetros ou limites que não os meus próprios. Na Azáfama não me sinto restringido por regras nenhumas, ao contrário do que outras editoras maiores muitas vezes fazem. Essa é a grande vantagem da Azáfama, somos livres de fazermos a nossa própria música à nossa maneira.”
Foto por Francisco Gutierres Caseiro |
Os Trêsporcento já tinham o seu disco lançado quando convidaram “Capitão Capitão” para fazerem parte da primeira parte do concerto de apresentação no Musicbox e daí surgiu a futura colaboração com a Azáfama: “Gostámos muito de trabalhar com a Azáfama nesse concerto e apesar de já termos estado noutras agências de promoção, achámos que era altura de mudar e que ali ficaríamos bem.“, conta-nos o Lourenço. “Enquanto músicos deixámos de estar preocupados com imensas coisas que antes eram uma autêntica chatice.” completa o Salvador.
A verdade é que todos os artistas da Azáfama acabam por partilhar o rock como pano de fundo da sua música e também toda esta familiaridade e à vontade por terem o apoio e liberdade por parte da editora. Quando confrontado com todos estes elogios por parte dos seus artistas o Pedro Valente afirmou: “Para mim não fazia sentido ser de outra maneira. Todos as pessoas que fazem parte da Azáfama são músicos com os quais musicalmente me identifico, o que acaba por facilitar o processo tanto por gostar da música como das pessoas. Tem de haver essa ligação para haver confiança e as coisas funcionarem. Não me fazia sentido impor seja o que for, dou sempre a minha opinião, claro, mas são eles próprios que acabam por pedi-la sobre o que estão a produzir, sem haver essa imposição.“
À medida que a conversa a avança fica claro que o conceito desta editora vai para além da música, nunca prescindindo desta como motor principal, o conceito de família surge naturalmente e é por isso que as colaborações e entreajudas surgem naturalmente e com bons resultados.
A Azáfama no Bairro 2013 acabou por resultar melhor do que qualquer expectativa que pudessem ter, muito por causa dessa harmonia entre os músicos e a editora:
– “O feedback foi muito positivo e acabou por ser uma surpresa para nós. Aquilo que aconteceu em palco foi completamente inesperado. Todos sabíamos que íamos participar nas músicas uns dos outros, e que aquilo ia ser uma festa em cima do palco, mas eu, pelo menos, não estava à espera da loucura em que aquilo se tornou em pleno palco.“, conta-nos o João Gil.
Foto: Adriana Boiça Silva |
– “A sinergia criada e a aderência do público foi muito boa. Para mim foi uma experiência nova, nunca tinha concebido nada do género e resultou muito, muito bem. O público aderiu e divertiu-se, não foi cansativo e isso foi importante.“, atesta O Martim.
– “A experiência foi óptima. Estivemos todos uns com os outros, podia ter sido um caos completo, tinha tudo para correr mal (risos), mas acabou por correr muito bem porque os músicos são todos excelentes e as interacções entre as bandas correram todas muito bem.“, diz o Salvador.
– “Quando se vê em palco que os músicos estão a ter gosto no que fazem e que se estão a divertir, isso repercute-se no palco e também o público se diverte.“, completa o Pedro Valente.
Montar um espaço para mais de vinte músicos em que, a certa altura, estão todos em cima do palco, não é tarefa fácil e foi de consenso comum que há sempre coisas a melhorar, desde a posição dos instrumentos, à disposição dos músicos e respectiva distribuição pelo palco. “Temos muita sorte em trabalhar com o Manuel no som, para além de ser super competente é uma pessoa que facilmente identifica o problema e no meio da maior confusão ele resolve-o imediatamente em numa calma incrível.“, dizem o Pedro e O Martim.
O balanço pós Azáfama é claro – extremamente positivo. Para além de todo o prazer que os músicos tiveram em actuar, a própria festa acaba por servir de montra para os artistas que lá actuam e até para a própria editora “Se calhar hoje já me respondem aos e-mails que antes não respondiam. (risos)“, brinca o Pedro Valente.
Os próprios Trêsporcento estiveram recentemente na Austrália “Foi uma experiência espectacular, os concertos correram bem, fomos muito bem recebidos.“.
Dado todo o entusiasmo mostrado em relação à edição de 2013, foi-lhes perguntado se alguma vez pensaram em fazer uma digressão pelo país com a Azáfama no Bairro em que colaborariam todos por vários palcos espalhados por Portugal. “Eu quero fazer mil digressões temáticas! Adoro fazer digressões e a ideia de juntar imensos músicos numa carrinha e partir em digressão é fantástica.“, diz O Martim. O Pedro Valente esclarece que “o mais complicado será mesmo a logística, pois não é fácil conseguir juntar todos os músicos ao mesmo tempo, mais os instrumentos e levar tudo para a estrada“. O bom do grupo da Azáfama, é que “quase todos somos multi-instrumentistas e com essa versatilidade seria fácil formar um grupo com uma pessoa de cada grupo, pois cada um conseguiria colmatar as necessidades que pudessem surgir“, completa O Martim.
A entrevista acaba com a pergunta clássica sobre o que podemos esperar da edição de 2014:
-“Repetir a festa, claro. Não no sentido de ser igual, há coisas que vão mudar e surpresas que irão surgir, mas sem dúvida que será novamente uma noite muito divertida para todos e esperemos que a sala encha.“, diz o Pedro Valente.
– “Eu ainda não sei bem o que é que se vai passar em palco, mas sei que vai haver coisas espectaculares a acontecer! (risos)“, provoca-nos o João Gil.
– “Este ano a minha abordagem, para simplificar a logística de palco, foi convidar, para cada música, um elemento de cada uma das outras bandas, a tocar um instrumento.“, revela-nos O Martim.
– “Nós não teremos o Tiago, que não vai estar em Portugal, que é quem canta e quem é menos facilmente substituível, por isso essa parte ainda não vamos revelar, mas vamos preparar bem o espectáculo, não se preocupem (risos).“, assegura-nos o Lourenço.
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Da minha parte só posso agradecer a disponibilidade, a extrema boa disposição e o excelente tempo passado no Armazém do Chá. Desejo mesmo que tudo corra pelo melhor, foram das pessoas que mais gosto me deu entrevistar e aconselho-vos vivamente a estarem presentes no próximo Azáfama no Bairro. Para vos motivar um bocadinho, teremos já de seguida um passatempo para uma entrada gratuita no mesmo.