O Deus das Águas
A ara que contém a única inscrição conhecida dedicada ao deus lusitano Durbedicus foi encontrada por Martins Sarmento em 1881, na torre da igreja de Ronfe, em Guimarães. Actualmente encontra-se exposta no Museu de Guimarães.
Existem várias interpretações sobre o significado de Durbedicus, embora a maioria dos autores esteja de acordo em atribuir-lhe um carácter aquático.
Adolfo Coelho interpreta o nome desta divindade como “o que goteja” ou que “faz gotejar”. Diz-nos ainda que esta “denominação conviria a um deus dessas fontes escassas que muitas vezes são consideradas como em extremo milagrosas”. Por outro lado afirma que este nome poderá igualmente ligar-se ao “antigo irlandês derb – ‘certo’, ‘verdadeiro’, ‘ilustre'”.
Segundo Leite de Vasconcelos, Durbedicus seria “um deus aquático – ou de uma fonte, ou do rio Avus, que passa perto de Ronfe”. Vasconcelos associa ainda o prefiro durb– aos termos irlandeses dobor, dobur e dobhar, que significam “água”, e refere o nome de dois rios com esta mesma raiz: Durbis (Bretanha) e Durbiae (Gália)
O Deus Muito Vitorioso
Para além destas interpretações já conhecidas, que nos seja permitido, porém, lançar mais algumas hipóteses, decompondo Durbedicus em Dur–Bedicus, ao contrário da habitual decomposição a partir de Durb-. Em irlandês antigo, Duir significa “carvalho” e “forte”. É igualmente associável ao português “duro”, também ligado à noção de “força”. A raiz indo-europeia Dru– representa a palavra “muito” (análogo ao francês trés). Por outro lado, a raiz celta bouda significa “vitória” e o escocês buaidheach “eficiente”. Lembremo-nos do nome da famosa raina celta Boudica, que liderou uma revolta contra a invasão romana na Grã-Bretanha, cujo nome significa “vitoriosa”. Existe inclusive uma inscrição com o nome Boudica na Lusitânia. Por esta ordem de ideias, somos tentados a interpretar Dur-Bedicus como o “muito vitorioso”, “carvalho da vitória/força”. Duberdicus poderia assim ser uma divindade guerreira à qual a tribo apelaria para vencer nos combates.
Alexandre Gabriel
Mandrágora – O Almanaque Pagão 2009 – Usos e Costumes Mágicos da Lusitânia