Nocturnes
Kazuo Ishiguro
Editora: Faber & Faber
Nocturnes foi a minha estreia a ler o prémio nobel Kazuo Ishiguro. Um risco em duas vertentes: já não lia um livro de contos há bastante tempo (anos) e não sei se um livro de contos é a melhor entrada para conhecer o universo de um Prémio Nobel, mais conhecido pelo seu romance The Remains of the Day. Este foi também o seu primeiro livro de contos, após seis romances publicados. No entanto, numa das minhas viagem no início deste ano, enquanto esperava pelo meu vôo no aeroporto, vi o Nocturnes em destaque e quando reparei que eram contos envolvendo música, Itália e Inglaterra, pensei — “Porque não?”.
Estes cinco contos são caracterizados por apresentarem histórias atípicas, personagens que vivem num tumulto interior, enredos insólitos e uma aura a roçar um pouco o lunático. Talvez devido a essa combinação de elementos tão atípicos, mas ao mesmo tempo tão humanos, embora tenha achado alguns dos contos algo inesperados na sua loucura, também fiquei curiosa sobre que fim é que estes pequenos contos teriam. E se existe um tema comum a todos eles, é uma espécie de desencantamento profundo pela vida e pelo amor, aos mesmo tempo que os personagens tentam resgatar esse encantamento através de atitudes e decisões a roçar o absurdo.
Apesar de cada conto quase merecer ser um romance por si só, a verdade é que este registo breve, onde muito fica no ar, onde tanto é deixado à imaginação do leitor, reflecte na perfeição os encontros casuais que temos nas nossas vidas, as informações parciais e como lidamos com elas, as expectativas que nunca saberemos se se irão concretizar ou não. Temos desde actos de amor desesperado a uma resignação profunda de que as nossas emoções são tão transitórias como uma estadia num hotel ou uma viagem às montanhas.
A música, nas suas mais variadas formas — de serenatas, concertos em piazzas, a vinis em pano de fundo ou apenas um sonho pelo qual se está disposto a desfigurar-se a si mesmo (!!!!) — liga os pontos que ficam no ar. Uma espécie de homenagem a uma arte que tem tanto o poder de nos resgatar quanto de nos enfeitiçar com esperanças e sonhos.
Fica a curiosidade de agora ler um romance do autor. Se recomendo Nocturnes? Diria que acho necessário ter uma ligação com a música para além do ouvinte ocasional e estar aberto a uma viagem que nem sempre fará o maior dos sentidos e que beneficiará da nossa compreensão e quase perdão nos momentos mais absurdos. Ainda assim, uma leitura que desfrutei.