Há quase 17 anos, criei o BranMorrighan. Tinha começado a minha vida adulta não há muito tempo e, durante uma década, partilhei convosco algumas das montanhas-russas que fui vivendo. Partilhei leituras, música, pensamentos aleatórios, comentários, uma variedade de conteúdos que, durante uns bons anos, teve um sentido de comunidade, de carinho e de interação com leitores maioritariamente portugueses.
A certa altura, fui viver para os Estados Unidos, afastei-me mais das redes sociais, e essa relação arrefeceu. O que é perfeitamente normal. Quando voltei para Portugal, com novas responsabilidades e nova carreira, numa altura pós-Covid (que nos mudou a todos e à forma de nos relacionarmos uns com os outros), não consegui retomar a atividade no blogue como teria gostado.
A verdade é que os anos passam, as experiências que vivemos também nos mudam, e não será surpreendente dizer que a pessoa que eu era há 17 anos, há 6 anos (pré-Covid e EUA), não é a mesma pessoa que sou atualmente. Para aqueles que me seguem no IG, sabem que entretanto já não estou em Portugal, mas novamente fora – desta vez no Reino Unido, em Londres.
Já faz um ano que me mudei para as terras de Sua Majestade e, para já, não há data de nova mudança. O que não quer dizer que, na verdade, ande parada. Devido à minha nova posição académica, acabo a viajar praticamente todos os meses para vários pontos do globo para dar palestras, fazer retiros de investigação, participar em conferências, etc.
O núcleo de quem sou, na verdade, não mudou assim tanto. Ou seja, todo o entusiasmo de comunicar e partilhar opiniões é claramente evidente na forma como vivo o ambiente académico, mas o público mudou. Ainda discuto literatura e música com colegas, apenas não tenho escrito mais sobre os mesmos. Existe um Substack algures para o blogue, em que escrevi maioritariamente em inglês, mas foi sol de pouca dura.
Escrevo-vos hoje aqui também graças ao João Morales, que foi ao Jazz em Agosto e ainda viu o BranMorrighan como uma casa de partilha. E então fez-me pensar: será que devo fechar este ciclo? Fechar o BranMorrighan para sempre? A verdade é que não consigo. Talvez por ter tanto de mim aqui, tantas transformações que já teve, ambições de podcasts, edições de livros, etc., cheguei à conclusão de que, se calhar, podemos continuar neste espaço, mas transitando novamente para um formato que faça mais sentido com o meu presente.
Dito isto, apesar de o inglês não ser a minha primeira língua, é possível que, de vez em quando, venha aqui escrever tanto numa língua como noutra. Talvez possa haver um recomeço em que, em vez de apagar o quadro todo, apenas viro a página. Na vida, às vezes gostaríamos de começar do zero, mas, no fundo, a única coisa que podemos fazer é iniciar um novo capítulo, virar a página. Tudo o que vivemos para trás será sempre parte de nós, e hoje não seríamos quem somos sem essas experiências – boas ou menos boas. Retemos o bom, aprendemos com o doloroso.
E, enquanto termino este post, ouço os corvos lá fora. É verdade, onde vivo tem imensos corvos e confesso que me consola quando os ouço. Recentemente também criei o meu primeiro grupo científico: BRAN Lab – https://andreiasofiateixeira.com/branlab/. Não estamos surpreendidos, certo? Mas vou deixar essa partilha para um novo post. Este já vai longo.
No fundo, só quero agradecer a quem me continua a visitar aqui (as estatísticas mostram um fluxo bastante consistente, mesmo sem novo conteúdo). Com o novo formato de pesquisa, em que as ferramentas de inteligência artificial fazem resumos sobre tudo e mais alguma coisa, em que existe uma utilização cada vez maior do ChatGPT (deixem-me dizer-vos que tenho pensamentos muito fortes em relação a isto…), fico surpreendida que ainda haja quem leia blogues.
Se houver algum tema ou alguma coisa que vocês gostassem de ler de mim, deixem comentários. Aqui ou no IG. Um abraço, e espero que vocês estejam todos bem.
Sofia