De miúdos a graúdos, o vosso caminho tem-se tocado ao longo do tempo até culminar neste projecto – Quelle Dead Gazelle. Já li umas quantas entrevistas vossas, mas não cheguei a encontrar a razão por trás deste nome. Existe alguma?
Não, não tem grande razão de ser.
É meio “cadáver-esquisito”. Não tem propriamente um significado oculto.
Sei que a banda começou após uma noite de concertos no Musicbox em que estavam para ver Men Eater e Riding Panico. Para além de terem começado por aí, também agora o Miguel toca com os Riding Panico. Como é que estas linhas acabaram por se cruzar?
Foi por volta dessa altura, sim. Os caminhos cruzaram-se quando gravámos o EP no BlackSheep Studios.
O primeiro EP sai em 2013, na altura já gravado com a dupla Yagyu-Jevelim. Também nesse ano ganharam o festival temómetro e tocaram numa série de festivais importantes como o Alive, Milhões de Festa e Paredes de Coura. Começando pelo início, ganhar o Termómetro teve um impacto diferenciador/impulsionador? Acham que se não tivessem ganho que talvez não tivessem dado logo um salto tão grande?
Sim, 2013 foi um bom ano. E ganhar o Termómetro teve impacto, claro. O Termómetro foi de facto bastante importante para nós. Abriu-nos a possibilidades que, mesmo hoje em dia, podem ser algo improváveis. Em relação à última questão, talvez sim, talvez não. Mas a verdade é que trouxe uma atenção acrescida para a banda, na altura.
Que experiências e memórias é que guardam desses primeiros tempos?
O Alive por exemplo.
Dois putos com 20 anos, no meio do palco secundário, sem saber muito bem como e porquê é que tinham ido lá parar, a tentar fazer o melhor que sabiam.
Até à data, era de longe o maior palco que já tínhamos apanhado e foi uma boa bagagem em termos de experiência para palcos maiores.
Abriram para God is An Astronaut no Hard Club em 2015, sendo uma banda post-rock e a vossa cruzando esse universo também, que tal foi a experiência? Conseguiram falar com eles e obter feedback sobre o vosso trabalho?
Foi bom, claro. Evidentemente é uma honra poder tocar com uma banda como God is An Astronaut. No entanto, nem eu, nem o Miguel éramos/somos grandes fãs da banda. Ou mesmo da vertente mais “arrastada” do post-rock. Não chegou a haver essa questão de procurar feedback sobre o que fazíamos. E mesmo dentro gaveta do post-rock, são mundos bastante diferentes.
Li noutra entrevista que como já tocavam as músicas do EP há algum tempo, que queriam um disco novo a meio de 2014, mas este só surge quase a meio de 2016. O que é que acabou por retardar tanto o aparecimento de um novo trabalho?
Não houve nenhuma razão em particular. Foi a vida que se meteu no caminho e um “deixar andar” que se descontrolou. Tanto que marcámos estúdio para gravar ainda sem ter as músicas todas. E inclusive duas delas foram feitas uma ou duas semanas antes da gravação.
Maus Lençóis surge então em 2016, novamente produzido pela dupla Yagyu-Jevelim. Sentem que já são todos uma grande família? Produzir este trabalho tornou-se mais fácil por já haver confiança e familiaridade?
Por um lado sim. Já nos conhecíamos e isso acaba por facilitar. Já passaste o período de “break-in”. Estás mais à vontade logo à partida. O que é fixe, se também não tiveres muito tempo para gravar um álbum/ep. Perdes menos tempo em formalidades. E o estúdio é outro (HAUS). É logo outro factor que te ajuda a dar outra identidade sónica à cena.
Este é um disco com peso, não só pelo título do mesmo e das músicas, mas porque os ritmos passam do frenético para o pulsante, da catarse para o desespero. A minha curiosidade prende-se se existe alguma espécie de conceptualidade estética, se é uma preocupação vossa, ou se apenas vão exorcizando os vossos demónios em cada uma das canções.
Tentamos manter a coerência de álbum, sim. Mas apenas isso. Não fomos dissecando as música à medida que as fazíamos. Foi a vibe que saiu na altura.
O que é que vocês consideram mais importante que quem vos ouça sinta? Afinal a música é um dos meios mais directos e intensos de abordar as emoções de cada um.
Isso já fica a cargo do imaginário de cada um. Sem manual de instrucções. Se as malhas disserem o que seja que for a alguém, já ficamos contentes. Seja a reacção boa, ou má.
Sendo apenas dois e com música não cantada, acham fácil arranjar concertos? Há alguma coisa no vosso projecto que vocês sintam que possa de alguma maneira criar resistência à aceitação ou que, pelo contrário, tem corrido tudo melhor do que pensavam?
Não necessariamente. Nunca sentimos grande resistência à aceitação do projecto simplesmente por esse factor isolado. Claro que há sempre aquele pessoal que manda aquela do “isto com um vocalista/baixista/teclista é que ficava mesmo fixe”. Não só por não ter voz mas também por sermos “só” dois. Claro que há certos festivais em que partimos logo do princípio de que dificilmente iremos lá tocar. Ou certos slots. Mas no geral, não. Pelo menos não sentimos isso.
Li o vosso Faixa-a-Faixa na Arte-Factos e reparei que algumas destas canções que saem agora em Maus Lençóis já têm um bom tempo de existência. Estão coisas novas já a surgir ou agora a preocupação é apenas levar este disco o mais longe possível?
Sim, têm. Mas com uma roupagem diferente, grande parte delas. A preocupação mais imediata será continuar a rodar o disco, sim. Estamos com algumas ideias. Gostávamos de fazer algumas colaborações mas ainda não temos nada palpável. Mas esperamos não demorar tanto tempo.
Quais os vossos maiores desejos e receios para o futuro de Quelle Dead Gazelle?
O maior receio talvez seja o de estagnar. Não que o facto de sermos dois seja propriamente um handicap. É sempre relativo. Mas por um lado pode tornar o processo de te reinventares um pouco mais difícil. São menos pessoas a dar inputs criativos. E há sempre o medo de cair da repetição.
Tocar “lá fora” era fixe. E continuar a fazer o que gostamos. Acho que é o mais importante.
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